O renascimento da extrema-direita não é um fenómeno recente e basta olhar com um pouco mais de atenção para os sinais que nas últimas décadas têm vindo à tona. Basta recuar pouco mais de 20 anos para assistirmos à perplexidade que varreu a Europa quando na Áustria, o FPÖ do Jörg Haider integrou o governo austríaco, ou não deixar de relembrar as várias tentativas da família Le Pen (primeiro o pai depois a filha) na tomada do Eliseu em França. Estre regresso da extrema-direita (que alguns pensavam em perfeita hibernação) tem estado a avançar – primeiro de forma titubeante, actualmente em força - por toda a Europa. De tal forma que, já conseguem influenciar e direcionar o discurso da direita tradicional, avessa durante várias décadas a alguns dos ideais absurdos e quase abomináveis, tão queridos da extrema-direita.
Os temas deste neonacionalismo, são agora mais polidos, agradáveis para quem se encontra descontente; oferecem uma via alternativa, um quase éden, mas a mesma utopia perigosa que quase arruinou a Europa.
Tal como o comunismo, a extrema-direita é um atalho perigoso e imprevisível. E mesmo não existindo uma ideologia comum, já que em termos culturais cada nação tem uma identidade própria, a matriz mantém-se a mesma, desde a aurora dos ideais da Revolução Francesa (que tanto gostam de evocar) ou na suposta herança liberal do ilustre Adam Smith (pasme-se!): um populismo exacerbado, o autoritarismo beligerante, a propagação indecorosa da mentira e das “novas verdades”, e uma colagem medíocre e desavergonhada a um catolicismo bacoco que não tem qualquer adesão à mensagem expressa em nenhuma doutrina cristã (lato sensu).
Mas (eles) desfilam, como se fosse donos da última e apregoada falange de bons cidadãos. Têm uma estética, uma semântica quase romântica por tudo o que é tradição, e infelizmente, dada a normalização que foram arquitectando, já integram a paisagem de uma Europa que se perdeu irremediavelmente e se deixou levar nos bons augúrios dos eurocratas que ergueram um establishment político baseado no postulado da burocracia e doutrina hegemónica das finanças sobre o ethos europeu.
E para os incautos, e todos aqueles que nem se dão ao trabalho de analisarem de forma racional os respectivos conteúdos programáticos, ou ler com maior acuidade, algumas das peças de filigrana fina constantes de alguma legislação que tentam aprovar, (eles) surgem como defensores das mais justas causas, e auto intitulam-se guardiões da pureza virginal.
Para todos os correligionários descontentes, paraquedistas e outros demais videntes das virtudes do extremismo em política, apenas uma sugestão de leitura: Utopia de Thomas More. Uma leitura muito actual, apenas para quem souber ler nas entrelinhas.Se persistirem no purgatório da dúvida metafísica, algo mais substantivo na obra de Orwell bastará!