…nos dias em que o
espírito santo caiu em desgraça. Mas antes uma passagem prévia pela 27 obras de
caridade rumo ao baby-boom nacional. Se não me falha a memória, algures nos
meus escritos referi a questão da demográfica como uma ferida indolor que
minava o futuro do país, mas isso foi no tempo em que os holofotes estavam
virados para outras temáticas menos aborrecidas, e provavelmente para assuntos
fracturantes da sociedade, moda com diversos adeptos em Portugal, ainda que
cada vez menos.
Desde tempos imemoriais,
quando não se pretende resolver assunto neste quadrado cria-se um comissão ou
um sucedâneo com efeitos colaterais similares. À primeira vista, a agora
extinta Comissão para
uma Política da Natalidade em Portugal (segue-se provavelmente outra
comissão para apreciar os efeitos em termos orçamentais das medidas!?) seria
uma iniciativa pública com importantes contributos da sociedade civil,
tratando-se de uma questão de elevado relevo nacional. Mas não. Curiosamente,
ou não, tratou-se antes de uma iniciativa partidária do PSD, sem o bene placito
do compagnon de route que já veio a terreiro com um sorriso pungente de ironia,
reafirmar que a bandeira da procriação descontrolada era do CDS, não fosse ele
um partido de inspiração cristã [abaixo a pílula, fora o preservativo].
A ideia até era
interessante, e o conjunto de medidas indispensáveis. O problema é que o mentor
da ideia, o próprio PPC na qualidade de presidente do grémio laranja foi
abruptamente desautorizado uma horas depois pelo PM – o próprio! Mais, a própria
ministra das finanças e o líder parlamentar da mesma corte partidária
apresentaram desde logo uma bateria de condicionantes e premissas que tornam
algumas [ou a quase totalidade das medidas] mais emblemáticas, senão difíceis
de executar, quase improváveis de sair da mesma gaveta onde foram produzidas.
Felizmente para os futuros
papás e mamãs, uma outra comissão [Comissão da Reforma da Fiscalidade Verde]
com igual incumbência de resolver os males que afectam a sobrevivência da
portugalidade, retirou os sacos de plástico da cartola e descobriu que o
segredo para o sucesso da fecundação, não está no plástico mas sim na velha
saca de pano bordado. Eu não discuto o mérito das medidas eco sustentáveis
apresentadas, mas duvido que alguma vez os ca. de 180 M€ milhões de euros
das medidas que visam a protecção ambiental à custa de um aumento encapotado de
impostos sirva de leitmotiv para compensar os ca. de 300 M€ aumento da natalidade.
Talvez fosse preferível substituir o látex por um paninho e poupavam-se uns
trocos à custa de uns sustos no final do 9º mês!
E por favor, não façam das
pessoas que lêem notícias meras indigentes! Aumentar a incidência fiscal sobre
o carbono não pode ser considerada uma medida neutra em termos fiscais, e a
probabilidade de interferência da designada eco inovação e a eficiência na
utilização de recursos, ou mais espantosamente, «fomentar o empreendedorismo e
a criação de emprego», só constituir um exercício infeliz de wishful thinking de algum assessor
depois de uma noite mal dormida a pensar nas obrigações da Rio Forte!
Nota da administração
antes de passar à gross matter, acho deliciosa a troca de galhardetes entre
o ex-bloquista Daniel e o novel comentador Louça. É espantosa a diversidade de sensibilidades
[ou falta dela] que grassava na sede do Bloco. Mais ainda, é a arrogância que a
actual intelligentsia bicéfala Bloco revela, quando os seus principais quadros
se desvinculam de um partido que se afunda num conceito inexplicável de querer
apenas e somente influenciar e não tomar parte de uma solução efectiva de
governo. Acresce, as propostas bizarras que o economista Loução e um conjunto
de notáveis apresentaram para a reestruturação da dívida. Um trabalho académico,
notável de todos os pontos de vista, menos o da clarividência.
E por falar em Rio Forte.
Há uma ribeira em Aljustrel que dá pelo nome de ribeira da Água Forte que por
sinal a única coisa forte que transporta no seu caudal, são as escorrências tóxicas
das minas de Aljustrel. Também temos a água forte (HNO3), que era um
produto com o qual sempre tive alguns cuidados no seu manuseamento nas minhas
aulas de quimicotécnia [disciplina desaparecida da oferta educativa do do actual
secundário], dado que queimava de forma ostensivamente lancinante. Finalmente,
segue-se o Rio Forte, a ESI, a ESFG, o GES e todos aqueles que durante as
últimas décadas moldaram esta nossa peculiar portugalidade das formas mais retorcidas
e insuspeitas.
Não vou abordar os efeitos
de largo espectro do DDT, pois na minha cadeira de biologia do 12º já na
longínqua década de 80, a sua utilização era proibida em Portugal. Apenas como
curiosidade científica, os efeitos do DDT na cadeia trófica prolongam-se por
aproximadamente três décadas. Daí que, gostaria de expressar desde já o meu aplauso à equipa de voluntários que vai tentar desintoxicar o ambiente. Esta sim, a
verdade reforma verde, com efeitos imediatos e persistentes na natalidade.
Por favor salvem o
porquinho mealheiro BES da Agatha Ruiz de la Prada!