…hoje devo ter acordado com algum
Borges, tudo me lembra Borges (não confundir como o Borges & Irmão, esse
ilustre banco). Comecei o dia á espera que o velho das bolas de Berlim acabasse
o telefonema logo no momento exacto que escolhia entre uma bola com creme ou
simples. É quase com escolher entre pedir um pastel sem a nata. Ao folhear (ou
melhor tentar!) as páginas do jornal perante a adversidade da brisa matinal,
tudo me lembrava Borges e RTP. As folhas sucediam-se e lá estava ele, na
personagem de 13º apóstolo do capitalismo cruel, 8º anão da Branca de Neve, o
querido Consultor, o homem da máscara de ferro, eu sei lá como classificar
bizarra personagem.
O Borges acredita fielmente que
as empresas públicas são mal geridas. Ele estruturou um mundo privado, onde o
público é uma aberração. Quem está a mais é despedido. Quem gere mal é
exonerado, privatizado, desprezado. Não sei o que o Borges pensa sobre o
assunto, mas tenho a certeza que se ele acreditasse mesmo na doutrina que o
persegue, já tinha demitido o seu patrão.
O Relvas é um tipo inteligente.
Foi para o recanto mais longínquo onde os feixes hertezianos demoram uma
eternidade a chegar, logo na altura em que o Borges se sentou no sofá e começou
a explicar a visão do patrão. Ouvi que os chineses pensam colocar um homem na
lua nos próximos tempos. Pode não ser tão confortável como estar alojado no
ritz de Díli, mas pelo menos lá [na Lua] não há cartazes na rua.
Como eu te compreendo Passos. Mas
histeria seria se, em vez da Judite Sousa a entrevistar o Borges aparecesse um
Goucha ou quem sabe uma Fátima Lopes. Histeria é entregar o serviço público a
um privado e continuar a pagar a taxa de televisão na factura da EDP. Para além
de histeria, seria fazer o Zé e da Maria, uns idiotas completos.
Continuando na mesma senda
ideológica, ainda não reflecti no novo ordenamento do ensino proposto pelo
beato Crato, ilustre matemático. A teoria da irracionalidade do chumbo, fez-me
recuar uns anos largos ao tempo em que entrava de manhã e sai da parte da tarde
sem ver meninas de saia, pelo singular motivo de ser imoral e perturbador da
atenção, ter umas saias lado a lado na sala de aula. Querem saber a minha
opinião? Esta experiência do amigo Crato de concentrar alunos em latas de
sardinha para diminuir o número de professores, de acabar com os sorrisos de
crianças nas aldeias e coloca-las a quilómetros de casa em mega escolas que
depois não têm orçamento para as manter é um erro colossal. Tem o aroma a
estalinismo puro ao concentrar os alunos em autênticas fazendas Sovkhoz, com
uma estranha redução ao ao fascismo primário do “porque tem que ser”.
Há alturas marcantes que figuram
nos manuais de História. O dia 7 de Setembro de 2012, vai constar dos índices
como o dia em que Portugal acordou do longo sono induzido pela irrealidade socialista
e o desprezo social do liberalismo selvagem deste actual elenco governativo. Mas
vamos por partes.
Como o Miguel Sousa Tavares disse
e muito bem, todos tínhamos uma ideia que o Passos era a pessoa mais séria do
mundo e que tinha uma coragem e uma frontalidade ímpares. Ficamos a saber que
afinal, como bom político que é, também mente descaradamente e vive num mundo
que não é o que pisamos. Apesar da sua coragem, de andar de Opel Corsa, morar
em Massamá e ser capaz de imolar a fome com uma sandes de queijo, cometeu a
iniquidade de pensar que os Portugueses são como os pastéis de nata do seu
amigo Álvaro, comem-se em duas dentadas, e são, óptimos para exportar.
Não contente por espoliar os
funcionários públicos de dois subsídios, agora sob pretexto da decisão do
Tribunal Constitucional, decide que todos somos pastéis de nata descartáveis e
que pelo contrário, o dito Capital deve manter-se como o Pastel de Belém.
Contrariando toda a ideologia económica e ao arrepio da social-democracia que
diz ser paladino, toca a extorquir ao trabalho (malus) e granjear o capital o bónus. Numa penada, o mero
contribuinte, a sua família, os seus filhos e restante massa folhada com creme
d’ovo, passam a ser os únicos e presumidos culpados da inoperância e
descontrolo financeiro do Governo. É a inversão total da lógica política no seu
zénite. Eu presumo que com esta experiência social do amigo Gaspar, [que os
amigos da Troika aplaudiram como sendo uma solução ardilosa] seria capaz de
juntar Marx e Keynes na manifestação de logo à tarde. Vistas as coisas, não
somos pastéis de nata, somos meros ratos de laboratório.
Não vou aqui anunciar o coro de
insultos, enumerar as vozes dissonantes dentro dos partidos que “apoiam” esta
maioria governativa e os de fora, mas uma coisa posso afirmar. Nunca se viu
tanta unanimidade neste país como agora, talvez exceptuando o 25 de Abril, os
jogos da Selecção Nacional sem o Ronaldo e os últimos dias de Timor ocupado.
Relativamente ao amigo Portas: Há
silêncios que são ouro, outros são simplesmente demolidores. Certamente já
reparou que uma simples conferência de imprensa do seu amigo Passos, acabou de
vez com a ideologia e os princípios que defende. E não é o argumento do
patriotismo bacoco, ou necessidade de ouvir o Conselho Nacional, O Partido ou o
dono da pastelaria que lhe vai permitir explicar aos seus correligionários que
esta é de facto a via democrata cristã que fundamenta a existência do seu
partido.
Aproveitando a ideia do amigo
Álvaro que a indústria mineira será o pilar da recuperação da nossa Jangada de
Pedra, lanço-lhe um desafio, abra um buraco na rocha mais dura que encontrar e
enfie-se no buraco que alimentou. Em opção continue a encher o cartão da TAP
com milhas como faz o Dr. Relvas.
Logo vou à manifestação sem
preconceitos ou ideias mágicas para resolver o problema. Não tenho uma bola de
cristal, mas sei distinguir perfeitamente entre um político sério e honrado de
um simples ladrão. E é isso mesmo que se passa hoje em dia. Penso que tal como
o amigo Crato define os alunos que simplesmente não têm jeito para a escola, talvez
não fosse má ideia colocar alguns senhores deste Governo no ensino
profissional. Temos óptimos candidatos a canalizadores, picheleiros e algumas
cabeleireiras.
Mas enquanto o circo prossegue
até chegar a Janeiro altura em que começamos a ver o alcance do saque, deixo ao amigo
Passos duas notas: 7 de Outubro (Porto-Sporting), 9 de Dezembro (Sporting
Benfica). Duas datas excelentes e recomendáveis para se dirigir ao País, uns
minutos antes de cada jogo e anunciar aos pastéis de nata que :
- O dinheiro que nos vai roubar vai ser
desviado para assegurar a nossa reforma e um Portugal mais justo;
- Vai começar a cortar
efectivamente nas despesas do Estado e não andar a “fazer cócegas” aos Pastéis
de Belém;
- Vais fiscalizar se o dinheiro da descida da
TSU vai servir efectivamente para combater o desemprego ou se vai ter como
destino os dividendos dos accionistas;
- Vai tributar as mais-valias em
bolsa o dinheiro desviado e não declarado para paraísos fiscais e outros
dividendos com a mesma agressividade fiscal como nos vai ROUBAR;
- Vai cortar com todos aqueles
subsídios estúpidos do Estado que ninguém entende?
- Vai resolver de uma vez por
todas todos aqueles empregados que chegam picam no ponto e nada mais
- Vai terminar com os abonos às supostas eventuais
fundações que ninguém entende a utilidade;
- Vai resolver de uma vez por todas a negociata
das PPP, mas sem os mesmos escritórios de advogados que prepararam os contractos
iniciais (sugiro por exemplo o FMI como auditor; já que gostam de cortar!):
- Vai cortar efectivamente nas PPP porque também tem o descaramento e
cortar em quem vive de um salário de miséria e não tem luxos;
- Vai diminuir os assessores, secretários,
carros de luxo em tudo o que é aparelho do Estado, (uma verdadeira aberração em
qualquer país que se preze);
- Vai reduzir o número de
deputados que é inapelavelmente desmesurado tendo presente com o tamanho e
população portuguesa.
Só assim, talvez consiga fechar
aos olhos ao facto de aumentar 60% na minha contribuição para a Segurança
Social e o mais que há de vir da actualização do IRS e perda de benefícios
fiscais, que vão fazer com que o meu orçamento familiar regrida uma década. A
tal década perdida.
Mas por favor. Fale com o Portas
e telefone ao Seguro com o mínimo de duas horas antes de aparecer no Palácio de
São Bento com o microfone ligado.
Deste seu estimado Pastel de Nata
PS: entrevistas em casa saem caro
ao erário público, e todos sabemos como o Dr. Relvas e o amigo Borges não
gostam de desperdícios!