Perante uma situação emergência,
como é que vivemos actualmente (tal como sucedeu em Itália, mais tarde em
Inglaterra, ainda a decorrer nos Estados Unidos, e noutras paragens) há sempre dois
modelos de actuação, cada qual com as suas fragilidades e desafios: salvar o
maior número e salvar todos os que podem ser salvos. O segundo
modelo congrega o consenso moral, o primeiro é um desígnio alcançável, mas qualquer
um deles enferma de um pequeno problema funcional e estrutural: por mais planos
que se façam, nada consegue remediar a arbitrariedade da produção e
distribuição das vacinas. Não depende de nós.
Simplesmente, não existe sincronia
absoluta na cadeia de processamento e a garantia de fornecimento é baseada na
expectativa.
Por isso, é normal que casos como os que sucederam esta semana, e que não são um exclusivo nacional (atente-se ao que sucedeu por exemplo no Oregon na passada quinta-feira), vão ser inevitáveis. Toda e qualquer acção por parte das equipas que estão a administrar as vacinas vai sempre depender da tomada de decisão individual, organizacional e ética. Aquilo que se pode questionar (e bem!) é se, faz sentido fornecer uma primeira dose a todos os trabalhadores de uma simples pastelaria e questionar o facto de terem estado naquela hora específica no local certo. Outra questão que deve ser exarada (naquilo que, agora se intitula do foro “criminoso”) é se, não teria sido mais justo indagar outro local nas proximidades com pessoas que estejam dentro dos critérios da 1ª Fase. Certamente que haverá.
Convém notar que, não se pode
replicar o mesmo raciocínio à atitude de quem, estando em lugares de chefia
pública (ou privada) utiliza essa condição como argumento, para, de forma
gravosa, sobrepor-se ao racional que está definido. O enquadramento desses
actos, ultrapassa questões éticas ou morais, e cai directamente no âmbito do absurdo
premeditado. Isso sim, é matéria passível de ser julgada. E não é uma questão,
é um facto.
Para que o modelo funcione, não é
possível que todo e qualquer indivíduo mobilize esforços e sobreponha-se ao
próximo, de uma forma individualista e egocêntrica. Tudo tem de seguir o seu ritmo-
a sincronia absoluta mais do que uma impossibilidade, é uma utopia. Qualquer
tentativa reiterada de subverter as regras definidas constituem um clamoroso
perigo – a utopia transfigura-se em anarquia.