12/09/2006

...começou


...o gelo começou a derreter.
Pode parecer estranho mas ontem senti o Outono.
Quando fixei o olhar no horizonte vi o mar com uma cor diferente, quando olhei para o chão vi o reflexo da primavera em tons amarelados. À medida que caminhava ouvi o sopro final da natureza e senti um tremor a percorrer a alma. Ao contrário do normal, não acelarei o passo, antes olhei em redor, senti o perfume do ar e deixa-me levar como as folhas que jazem no chão. Os dias estão cada vez mais pequenos e frios, mas ao contrário do comum mortal é nesta época que sinto o calor que emana o gelo e a luz que irradia da escuridão. À noite sucede o amanhecer e por cada folha que o vento empurra e o solo consome, a vida continua o seu inapelável curso. Mesmo no mais remoto e frio pensamento existe um sopro de vida. Por mais encurralado que se sinta o ar aprisionado no gelo, existe uma primavera que o liberta, um sorriso que o aquece. O segredo é não sentir o frio. Não é por perder as folhas que a árvore esmorece ou perde o seu encanto...debaixo da rudeza da casca e da opacidade da sua fibra existe vida. A seu tempo e sem pressa novas folhas surgirão e voltará a ser primavera.

07/09/2006

...silêncio


...como se a solução estivesse à tona da água. É como aquela palavra que ficou retida por entre uma troca de olhares, ou aquele gesto que ficou imóvel no pensamento. São lapsos que se cometem, são "takes" que não passaram do argumento e que a fita não irá projectar na escuridão da sala. É uma onda que morre antes de molhar a areia, uma árvore que seca antes da primavera. É uma parede de silêncio que se ergue em nosso redor e para a qual não temos resposta ou não queremos ultrapassar. Mas o lado positivo é que por mais ondas que tenha o mar, murmúrios silenciados que nos assombrem, não existem muros, oceanos ou fusos horários que nos impeçam de prosseguir com um sorriso nos lábios e um acalorado conforto na alma pois não reside em nós o cerne do problema, antes somos a solução...