24/03/2013

...second life



 …não sei se já tinha utilizado este título para um post mas achei apropriado dada a reencarnação do filho Lázaro do Largo do Rato. Sou da opinião nem na sua imensa sabedoria, o profeta Isaías alguma vez terá imaginado este regresso épico.

"Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados".

(Is 53:5)

Mas já lá vamos …
Um dia escrevi que o mal da Grécia seria o nosso mal e reafirmo agora que para lá das águas tempestuosas do Mar Branco do Meio, o bote de náufragos tem agora mais um desesperado cipriota. É claro que tratando-se de uma ilha paradisíaca, os senhores da Troika tinham que experimentar uma solução completamente inovadora. Depois de uma madrugada bem passada entre telefonemas e filmes no Ipad, o Eurogrupo decidiu que desta vez ficavam de fora os donos de restaurantes e esplanadas de Nicósia, e seriam os banqueiros lá do sítio e a nata dos ricalhaços amigos do Putin que iriam pagar a conta do hotel.

Cheguei á conclusão que o Eurogrupo e o Ecofin são uma versão mal estonada do Ocean’s 12, uma espécie de dozes apóstolos do crime organizado institucional comandados por um Ocean de “rodinhas” com um aspecto de Mr Burns (vide Simpsons). O nosso amigo Gaspar nem sei bem aonde o poderia encaixar mas apostaria tal num misto de Reuben Tishkoff (para quem não se recorda aqui fica um link) com uma certa queda para Ebenezer Scrooge.

Questão da semana: deve ou não o Eng. Sócrates trabalhar de borla no prime-time como comentador político no canal público de televisão?

Felizmente tenho um comando. Para ser sincero vou acompanhar os comentários dele, da mesma forma que sou assíduo ouvinte dos comentários do professor Karamba, da Maia e as das Tardes da Júlia. Para comentário político já me bastam o Santana, o Marcelo, o Marques, e por aí adiante. Num país em que existem fazedores de ideias para todos os gostos e tendências sexuais, mais um vendedor de cobertores na feira é sempre bem-vindo, nem que seja para animar o povo. Ainda assim confesso que estou mais inclinado a mudar para o canal Q. Para comentaristas de ocasião e números circenses já me bastam as senilidades do Belmiro, e os comentários sociais do Ulrich e mesmo assim ainda sobra uma meia dúzia de agiotas versados na nobre arte da política a sério, refiro-me aos valentins, albertos joão, isaltinos, dias loureiros e outros tantos.

Por falar em bom senso o meu garrote solidário ao deputado do PS que esta semana no Parlamento Autónomo demonstrou mais uma vez que uma coisa é ser socialista na oposição, outra bem diferente é a prática governativa…

 Entre a moção de censura envergonhada do PCP desta semana e da oposição violenta do Seguro, sobra o Ken e a Barbie. Estou em crer que já discorri sobre o tema das moções de censura com morte anunciada, por isso não vou adiantar grandes considerações. Gostava que despendessem um pouco mais tempo sobre temáticas mais interessantes como por exemplo: limitar o uso desavergonhado do Facebook e do Twitter durante as sessões do parlamento. Ora aí está um bom tema de reflexão!

Será que estamos a caminhar para a bancarrota?! Talvez seja uma boa questão a colocar aos inquilinos do palácio Ratton. Entretanto já passaram quase 80 dias desde que um conjunto alargado de personalidades colocou sérias dúvidas sobre a constitucionalidade desta ou daquela norma da Lei do Orçamento. Das janelas do palácio, não há vislumbre de fumo negro nem fumo branco. Também não há evidências que o rapaz das pizzas tenha tido entregas em horário pós-laboral!

Por vezes penso que o nosso sistema político se comportasse como a Cúria Romana, talvez os processos de aclaração demorassem um pouco menos tempo. Ora vejamos, se acrescentarmos os novos processos da auto designada Revolução Branca, mais os processos que por norma chegam á recepção do TC, ainda somos capazes de chegara a Outubro sem saber se o Menezes se pode candidatar no Porto (contrariamente à interpretação do CDS!), ou se o Seabra sempre pode ser candidato em Lisboa (conforme a pretensão do CDS!). Melhor só mesmo as eleições no meu querido Sporting.

Felizmente não voto em Lisboa, pois se o fizesse, não votava certamente em Relvas. Pessoalmente nunca achei muita piada a dinossauros, gosto de secretos de porco preto ou migas de espargos.

Pois é, Sócrates chegou. Foi morto, enterrado, extraditado para o degredo num café na boulevard Saint Germain, última vez foi visto numa reunião de administração duma farmacêutica suíça, e agora qual zombie renascido invade qual poltergeist os nosso lares programa de culinária política. O lado positivo é existir na casa de cada um de nós um telecomando. Diria mais, a linha ténue que divide do comentário e silêncio, está na palma da mão, qual bastão de Moisés.

Esta semana também assistimos ao renascimento do Jorge Coelho, o mago da propaganda socialista, o primeiro político que teve a hombridade e a coragem de se demitir por uma questão de consciência. Coisa rara nestes tempos em que a obscena sede de poder faz escola e dita a regras.
Tantos renascimentos mas nenhum salvador.
 
Nota de rodapé: não sei se alguém reparou, mas esta semana um país com 800 mil habitantes e uns quantos turistas russos recusou o plano insidioso todo-poderosa Troika Über Alles. Se eles conseguiram porque é que nós não lhes explicamos que o memorando órfão de pai (socialista) e mãe (social-democrata) tem que ser obviamente alterado para ir de encontro com as realidades sociais do nosso País?!

16/03/2013

...uma mera questão de estabilizadores



 
…toda aquela retórica de previsões, rescisões amigáveis, são chorrilhos de quem já extinguiu todas as hipóteses de credibilidade. Quando um ministro das Finanças responde que não sabe o que de mal se passou, nem sequer imagina cenários explicativos, só tem uma saída possível. O problema agora é que, como o próprio frisou, o legado é penosamente mais penoso do que previra, e o futuro bastante mais incerto do que o presente. É demasiado redutor. Para piorar o cenário, já que o prognóstico é muito reservado, o ministro é coadjuvado por um secretário que mais não é que um nobre fidalgo de voz cândida que clama pela inocência do seu lorde, e incentiva os soldados a reincidirem nesta carnificina pírrica. No final, perante a peste negra do desemprego e do desespero, duas ou três almas cantarão vitória sobre um país perfeitamente moribundo.
Acho perfeitamente nauseabundo que em cada um dos partidos que compõem o ramalhete governativo, as vozes opositoras busquem a surdina de um programa de rádio em horário matinal, uma tirada no blog costumeiro, mas não tenham a coragem de falar alto na casa da democracia.
Curiosamente [ou não!] não deixa de ser paradoxal que nas sondagens apresentadas este fim de semana, o PSD surja a escassos quatro pontos percentuais do PS e tenha subido na bolsa de valores da opinião pública. Fica demonstrado que a quarta república atravessa os seus dias mais negros e incertos, tamanha é a descrença entre o povo e quem supostamente os deveria representar.
Como é apanágio, o Governo e a Troika já se encarregaram de reunir os suspeitos do costume para interrogatório e julgamento sumário e aparentemente a culpa do fracasso total do programa cabe a quem desenhou, ou seja, o PS. O mesmo PS que agora renega a maternidade do filho pródigo. Solução para este imbróglio: não há, ou melhor, existe mas a fat lady não está para aí virada: haircut, renegociação da taxa de juro, etc, etc. Não é uma solução inovador, nem muito menos vergonhosa ou imoral. Perguntem à Inglaterra, Alemanha e mais uns quantos países europeus se sentiram alguma dor de rins quando lhes foi garantido tamanha prova de solidariedade? Ou será que que já se esqueceram? Provavelmente dirão que os tempos eram outros, à qual eu respondo que os tempos agora são igualmente diferentes.
Entretanto, numa galáxia longe daqui, o nosso PR advoga o uso abusivo de maçãs para relançar a indústria agro-alimentar. Ando perplexo com o minimalismo e a arrogância mal disfarçada das suas últimas alocuções acerca da política governamental. É penoso assistir a um PR que simplesmente nada faz, ou se o faz é durante aquela hora que troca bolachas e chá verde com o PM na audiência semanal. Cá fora, por debaixo da ponte [o Alberto que se cuide com as despesas de pessoal], apenas clamamos por qualquer mudança, actos e acções. Estamos entediados e fartos do discurso prolixo.
Pensões. Tema na berlinda. Sou favorável ao plafonamento das pensões. Não aos “contractos sociais” já em vigor, afinal o Estado deveria ser uma pessoa de bem!! Se me perguntarem se a imposição de uma taxa sobre as pensões mais elevadas é uma boa iniciativa deste Governo a resposta é, claro que sim. Desde que seja uma medida transitória. Para as novas pensões, defendo com unhas e dentes a imposição de tectos, assim como defendo o plafonamento nas retribuições e ajudas a gestores públicos. Os suíços neste particular estão mais na vanguarda estalinista, mas o caminho que defendo poderá passar por aí. Sou contra a meritocracia subversiva das nomeações políticas. O Estado tem pessoas qualificadas, e não é necessário escolher um colega de carteira de faculdade ou o companheiro de café na sociedade de advogados para um cargo importante do aparelho do Estado. Mas esta é uma aberração típica da política portuguesa. Há demasiados bois com vontade de cobrir a vaca estatal.
Mas a aritmética é impiedosa e não são textos abstractos ou contestários que vão fazer que saímos deste buraco que construímos. Os meus pais ensinaram-me a distinguir o bem do mal, o certo do errado. Noções básicas de sobrevivência. Espero que o burro volte atrás e emende a trajectória traçada. Afinal os burros só enganam uma vez.
Por mais imaginação que tenha não estou a ver uma geração de universitários a entrar directamente para o matagal ou para a estrumeira. Também não estou a ver uma, duas, três gerações que sejam a rondar caixotes do lixo na calada da noite envergonhada em busca de comida.
Há pessoas que não sabem o que dizem, nem o que escrevem pois ainda não aprenderam a sair da zona de conforto que as protege, o resto são estabilizadores e projecções económicas.
Nota final: a Cúria que se prepare. Este Francisco I promete!