19/05/2013

...o paradoxo do burro


….isto hoje vai ser crú, sem links em html ou outras mezinhas avançadas. Parei para pensar no que ia escrever mas uma voz crítica ontem à noite enquanto nos digladiávamos entre umas notas de syrah e alicante bouschet incentivou-me a não tocar na ferida política ou cair na tentação que colocar mais uma uma janela com um vídeo irritante do youtube, como se meu universo de contactos já não tivesse discernido que estudar os meus gostos músicas é um exercício estranho como desenhar um diagrama de Venn. Ainda pensei abordar um tema completamente novo, como a crise, mas foi logo descartado porque a crise está para a política como a lapa numa rocha à beira-mar. Concentrei a minha atenção num conjunto de outras divagações como a beleza, a fotografia a arte, mas sobrava tempo e um vazio de ideias. Parece que de uma forma mais ou menos inconsciente tenho perdido a minha energia em assuntos que não o são, e relegado para segundo plano a metafísica do acto de pensar. Apenas pensar e deixar fluir as palavras na pauta. Há quem chama esta aparente contradição da condição humana [o não cogitar] falta de inspiração, no meu caso diria que o vaticínio é apoxia.

Ultimamente tenho andado com uma ideia um tanto ou quanto absurda. Dado que a Europa encaminha-se para uma espécie de estado de desgraça enquanto entidade colectiva, talvez fosse altura de alargar os horizontes e começar a (re)pensar em termos de Mediterrâneo. Durante séculos, a centralidade do poder económico e social estendia-se desde as margens do Líbano até à foz do Guadiana, e foi essa intensa mescla cultural que foi dando corpo à explosão de intelecto e racionalidade que se seguiu à Idade Média. É uma ideia que provavelmente choca com as fragilidades das várias interpretações da Primavera Árabe mas sobretudo com exploração ideológica de grupos fundamentalistas que florescem e parasitam a as fragilidades próprias de alguns países muçulmanos. Talvez esse seja um dos principais obstáculos. Não deixa de ser curioso que, numa Europa onde as clivagens entre países do Norte e Sul e o recrudescimento de algumas ideias nacionalistas em países que já integram a União Europeia, a simples intenção de adesão da Turquia [a porta de entrada no Oriente] provoquem ainda tantos anticorpos. É caso para pensar que os ideias humanistas e os três pilares que fundamentaram a criação da União Europeia se transformaram em relativamente poucos anos, em dois pesados fardos que o paradoxo do Burro de Buridan tentou explicar. Aparentemente encontramo-nos numa encruzilhada, e pior do que isso não existe nenhuma sinalética.

Falando de arte. Já tenho encontro marcado com a exposição que está no Museu de Arte Antiga. Talvez um dos poucos locais neste país onde tudo faz sentido. Quando discorro o meu olhar pelas paredes daqueles corredores, a minha alma oxigena-se.

Obrigado PF pelo oxigénio do teu sorriso.