….isto hoje vai ser crú, sem links em html ou outras mezinhas avançadas. Parei para pensar no que ia
escrever mas uma voz crítica ontem à noite enquanto nos digladiávamos entre
umas notas de syrah e alicante bouschet incentivou-me a não
tocar na ferida política ou cair na tentação que colocar mais uma uma janela
com um vídeo irritante do youtube, como
se meu universo de contactos já não tivesse discernido que estudar os meus gostos
músicas é um exercício estranho como desenhar um diagrama de Venn. Ainda pensei abordar um tema completamente novo, como a crise, mas foi logo descartado porque
a crise está para a política como a lapa numa rocha à beira-mar. Concentrei a
minha atenção num conjunto de outras divagações como a beleza, a fotografia a
arte, mas sobrava tempo e um vazio de ideias. Parece que de uma forma mais ou
menos inconsciente tenho perdido a minha energia em assuntos que não o são, e
relegado para segundo plano a metafísica do acto de pensar. Apenas pensar e
deixar fluir as palavras na pauta. Há quem chama esta aparente contradição da
condição humana [o não cogitar] falta
de inspiração, no meu caso diria que o vaticínio é apoxia.
Ultimamente tenho andado com uma
ideia um tanto ou quanto absurda. Dado que a Europa encaminha-se para uma
espécie de estado de desgraça enquanto entidade colectiva, talvez fosse altura
de alargar os horizontes e começar a (re)pensar em termos de Mediterrâneo. Durante
séculos, a centralidade do poder económico e social estendia-se desde as
margens do Líbano até à foz do Guadiana, e foi essa intensa mescla cultural que
foi dando corpo à explosão de intelecto e racionalidade que se seguiu à Idade
Média. É uma ideia que provavelmente choca com as fragilidades das várias
interpretações da Primavera Árabe mas sobretudo com exploração ideológica de
grupos fundamentalistas que florescem e parasitam a as fragilidades próprias de
alguns países muçulmanos. Talvez esse seja um dos principais obstáculos. Não
deixa de ser curioso que, numa Europa onde as clivagens entre países do Norte e
Sul e o recrudescimento de algumas ideias nacionalistas em países que já
integram a União Europeia, a simples intenção de adesão da Turquia [a porta de
entrada no Oriente] provoquem ainda tantos anticorpos. É caso para pensar que
os ideias humanistas e os três pilares que fundamentaram a criação da União
Europeia se transformaram em relativamente poucos anos, em dois pesados fardos
que o paradoxo do Burro de Buridan tentou explicar. Aparentemente encontramo-nos
numa encruzilhada, e pior do que isso não existe nenhuma sinalética.
Falando de arte. Já tenho
encontro marcado com a exposição que está no Museu de Arte Antiga. Talvez um
dos poucos locais neste país onde tudo faz sentido. Quando discorro o meu olhar
pelas paredes daqueles corredores, a minha alma oxigena-se.
Obrigado PF pelo oxigénio do teu sorriso.