Começo
com uma frase perturbante do Orwell…“During
times of universal deceit, telling the truth becomes a revolutionary act”
E
a verdade é esta…ainda que com alguns lapsos…
..e
eis que de repente até o pobre Pessoa foi vilipendiado na sua dignidade
estática durante aquela conturbada arruada primaveril. Conta-se que,
apesar de ostentar uma máquina fotográfica e o respectivo copo de bagaço, os Srs.
agentes continuaram a arrear como se de um simples incauto cidadão se tratasse. Urge frisar que,sempre de uma forma adequada e proporcional á grandeza da personagem.
Com mais
ou menos bastonadas, aparentemente a nossa primavera árabe esgotou-se nas ruelas da Baixa-Chiado, sem vítimas a lamentar, a não ser um pequeno grupo de
jornalistas e meia dúzia de pombos que nessa altura por ali procuravam migalhas
de tostas mistas. Aguardam-se novos desenvolvimentos.
Notícia
de última hora. Foi identificado o agente causador de todos os males do mundo.
Proceda-se à abertura de um inquérito rigoroso, para o cabal esclarecimento dos
factos e proceda-se de imediato ao respectivo processo disciplinar.
Hoje
ao acordar fui a correr ler o jornal diário de casa de banho na esperança [vã] de descobrir mais alguma OPA. Não deixa ser curioso que numa conjuntura
económica em que o emprego virou mistério mariano, e os despedimentos aumentam
na mesma proporção que o politburo alivia o cinto de castidade da lei laboral, que
haja uma verdadeira reacção descontrolada em termos de fusões e compras de fim
de semana na bolsa de Lisboa. Diria que este sim é um sinal do espírito santo directamente
para os mercados, e não uma vaga de novos-ricos de Luanda a fazer compras na
avenida da Liberdade. Haja fé.
Por
falar em fé, e dada a santidade do dia que hoje se comemora, lá em baixo no
torreão da igreja, o sino não dobrou perante a certidão de óbito do modelo
social europeu, morto às mãos do banqueiro Mário Dragui. O mesmo encontra-se a monte,
mas as autoridades policiais estão no seu encalce. Nós bem sabemos como as
nossas autoridades policiais são excelentes a recapturar gandins! Ele que se
cuide. Ele e mais alguns deputados arrivistas da bancada socialista.
Continuando
na senda de crimes hediondos de natureza económica, o nosso Governo acabou mesmo por assassinar a última esperança de parte significativa do seu staff, ao adiar
para 2015 o pagamento gradual [calmo e sereno] do 13º e 14º mês. Fazendo jus ao
lapso do ministro Gaspar, o PM reforçou uma tónica sibilante no gradual, como
fazendo crer que o lapso de tempo entre o imediato e o concretizável poderá
espraiar-se ao logo do próximo decénio. Um pouco à semelhança daquelas obras
temporárias que permanecem nos registos do património arqueológico como
definitivas. Eu diria que este eufemismo de linguagem do PM, juntamente com a
sua obstinada vontade de mudar tudo a qualquer preço [doa a quem doer] realça
em primeiro lugar uma incontornável falta de sensibilidade pela situação actual
de muitas famílias. Isso, e a manifesta incapacidade do ministro das finanças
em entender o dito mistério do emprego em Portugal, agudizam a minha percepção
que falta qualquer coisa de substantiva a este governo.
Tendo
ainda presente o nosso camarada Gaspar, os meus sinceros agradecimentos por
obrigar aquela jovem senhora da mercearia a adquirir uma caixa registadora com
um software informático certificado estupidamente dispendioso. As poucas
empresas de informática do ramo rejubilam perante o maná que dos céus lhes cai.
Entretanto na prateleira das preocupações menores, mais uns quantos processos
de milhões de impostos por cobrar prescreveram por inabilidade do mistério das
finanças.
Ao
contrário do que andavam por aí a clamar os arautos da desgraça, não é verdade
que a MAC e mais umas quantas urgências hospitalares na área metropolitana de
Lisboa e mais além vão fechar. Simplesmente está em discussão o reordenamento e
redistribuição das equipas clínicas…pelas duas únicas urgências que ficarão
activas. Valha-nos S. José Santa Maria. Porque do mistério da saúde, apenas
viroses e alergias de época
Ponto
final parágrafo. Com o fino propósito de cortar na despesa corrente e em face
de ao almoço apenas ter sido possível despejar uma malga de vinho, e não uma
garrafa de Bafarela 17 que guardo religiosamente para uma oportunidade menos
santificada, venho nestes propósitos anunciar que voltarei, após o borrego ter
passado pelo forno pascal. Nessa altura, com ou sem lapso, voltarei a anunciar
mais incongruências desta vida ao sabor das letras que os meus dedos
encontrarem.
“Não há
dúvida que a memória é como o ventre da alma”
Santo
Agostinho
…o povo não é
tolo e os lapsos e enganos não se esquecem tão depressa.
Uma Boa
Páscoa.