…toda
aquela retórica de previsões, rescisões amigáveis, são chorrilhos de quem já
extinguiu todas as hipóteses de credibilidade. Quando um ministro das Finanças
responde que não sabe o que de mal se passou, nem sequer imagina cenários
explicativos, só tem uma saída possível. O problema agora é que, como o próprio
frisou, o legado é penosamente mais penoso do que previra, e o futuro bastante
mais incerto do que o presente. É demasiado redutor. Para piorar o cenário, já
que o prognóstico é muito reservado, o ministro é coadjuvado por um secretário
que mais não é que um nobre fidalgo de voz cândida que clama pela inocência do
seu lorde, e incentiva os soldados a reincidirem nesta carnificina pírrica. No
final, perante a peste negra do desemprego e do desespero, duas ou três almas
cantarão vitória sobre um país perfeitamente moribundo.
Acho
perfeitamente nauseabundo que em cada um dos partidos que compõem o ramalhete
governativo, as vozes opositoras busquem a surdina de um programa de rádio em
horário matinal, uma tirada no blog costumeiro, mas não tenham a coragem de falar
alto na casa da democracia.
Curiosamente
[ou não!] não deixa de ser paradoxal que nas sondagens apresentadas este fim de
semana, o PSD surja a escassos quatro pontos percentuais do PS e tenha subido
na bolsa de valores da opinião pública. Fica demonstrado que a quarta república
atravessa os seus dias mais negros e incertos, tamanha é a descrença entre o
povo e quem supostamente os deveria representar.
Como
é apanágio, o Governo e a Troika já se encarregaram de reunir os suspeitos do
costume para interrogatório e julgamento sumário e aparentemente a culpa do
fracasso total do programa cabe a quem desenhou, ou seja, o PS. O mesmo PS que
agora renega a maternidade do filho pródigo. Solução para este imbróglio: não
há, ou melhor, existe mas a fat lady não está para aí virada: haircut, renegociação
da taxa de juro, etc, etc. Não é uma solução inovador, nem muito menos
vergonhosa ou imoral. Perguntem à Inglaterra, Alemanha e mais uns quantos
países europeus se sentiram alguma dor de rins quando lhes foi garantido
tamanha prova de solidariedade? Ou será que que já se esqueceram? Provavelmente
dirão que os tempos eram outros, à qual eu respondo que os tempos agora são
igualmente diferentes.
Entretanto,
numa galáxia longe daqui, o nosso PR advoga o uso abusivo de maçãs para
relançar a indústria agro-alimentar. Ando perplexo com o minimalismo e a
arrogância mal disfarçada das suas últimas alocuções acerca da política
governamental. É penoso assistir a um PR que simplesmente nada faz, ou se o faz
é durante aquela hora que troca bolachas e chá verde com o PM na audiência
semanal. Cá fora, por debaixo da ponte [o Alberto que se cuide com as despesas
de pessoal], apenas clamamos por qualquer mudança, actos e acções. Estamos
entediados e fartos do discurso prolixo.
Pensões.
Tema na berlinda. Sou favorável ao plafonamento das pensões. Não aos
“contractos sociais” já em vigor, afinal o Estado deveria ser uma pessoa de
bem!! Se me perguntarem se a imposição de uma taxa sobre as pensões mais
elevadas é uma boa iniciativa deste Governo a resposta é, claro que sim. Desde
que seja uma medida transitória. Para as novas pensões, defendo com unhas e
dentes a imposição de tectos, assim como defendo o plafonamento nas
retribuições e ajudas a gestores públicos. Os suíços neste particular estão
mais na vanguarda estalinista, mas o caminho que defendo poderá passar por aí.
Sou contra a meritocracia subversiva das nomeações políticas. O Estado tem
pessoas qualificadas, e não é necessário escolher um colega de carteira de
faculdade ou o companheiro de café na sociedade de advogados para um cargo
importante do aparelho do Estado. Mas esta é uma aberração típica da política
portuguesa. Há demasiados bois com vontade de cobrir a vaca estatal.
Mas
a aritmética é impiedosa e não são textos abstractos ou contestários que vão
fazer que saímos deste buraco que construímos. Os meus pais ensinaram-me a
distinguir o bem do mal, o certo do errado. Noções básicas de sobrevivência.
Espero que o burro volte atrás e emende a trajectória traçada. Afinal os burros
só enganam uma vez.
Por
mais imaginação que tenha não estou a ver uma geração de universitários a
entrar directamente para o matagal ou para a estrumeira. Também não estou a ver
uma, duas, três gerações que sejam a rondar caixotes do lixo na calada da noite
envergonhada em busca de comida.
Há
pessoas que não sabem o que dizem, nem o que escrevem pois ainda não aprenderam
a sair da zona de conforto que as protege, o resto são estabilizadores e
projecções económicas.
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