09/10/2006

...a castanha


...por mero instinto voltei para trás! já alguns dias andava a namorar sabor que exalava a caldeira da locomotiva. Hoje não podia continuar a perder o meu comboio de estórias passadas. Peguei no jornal ainda quente, olhei para o chão como quem acaba de sentir uma sensação agradável, levantei os olhos e vi o passado a aproximar-se como se uma lufada de ar fresco se tratasse. Olhei bem fundo e respirei um sorriso, pois no meu intímo muitas mais sensações estalavam...para alé das castanhas.
Caminhamos com a suvidade que o anoitecer propicía enquanto saboreava o seu aroma, o seu travo amargo mas absolutamente inconfundível. Lembrei-me de quando era pequeno e recebia as castanhas ainda húmidas que lá longe, alguém apanhava por entre espinhos e arrepios de chuva. Antes de saborer a castanha há que libertá-la dos espinhos, o mesmo se passa com as rosas. Foi bom, especialmente porque foi inesperado...amanhã certamente que não vou poder saborer da mesma maneira e com a mesma alegria. Talvez tenha sido um acaso ou uma coincidência feliz mas foi algo que soube muito bem...e momentos destes não se compram!conquistam-se e merecem-se...

01/10/2006

Dia Mundial da Água


A Água

"Meus senhores eu sou a água
que lava a cara,
que lava os olhos
que lava a rata
e os entrefolhos
que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.

Meus senhores aqui está a água
que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete
que lava o chibo mesmo da raspa
tira o cheiro a bacalhau rasca
que bebe o homem,
que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão.

Meus senhores aqui está a água
que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas
apaga o lume e o borralho
e que lava as guelras ao caralho

Meus senhores aqui está a água
que rega rosas e manjericos
que lava o bidé, que lava penicos
tira mau cheiro das algibeiras
dá de beber ás fressureiras
lava a tromba a qualquer fantoche e
lava a boca depois de um broche.

Manuel Maria Barbosa du Bocage.