Esta semana, eu e outros tantos despreocupados exotéricos deste país aprendemos mais uma singular palavra para o nosso já rico dicionário político – insustentável. Não tão profunda e obsessiva como a insustentável do Milan Kundera, mas igualmente interessante. O discurso em si encerrou uma série de lugares comuns, mas o insustentável ficou retido. Esta semana, igualmente, e enquanto passeava com a sua ex-colega dos Olivais, a nossa querida alçada surge com mais uma insustentável ideia para a educação deste país. Brilhante ideia, diga-se de passagem. E porque não dar uma second chance, aos pobres coitados jovens de 15 anos [velhas raposas!] que tiveram o azar de chumbar no 8.º ano, mas que por beneplácito do calor sexual dos respectivos progenitores, completam a arroba até irem para banhos em Agosto. Curiosa sentença, para aqueles que passam de ano por mérito ou outros motivos conhecidos, e que por infortúnio da falta de apetite dos respectivos papás e mamãs, se vêm forçados a prosseguir o longo calvário do 9.º ano, com o demérito de verem os singulares colegas a saltarem a disputa ao quadro de honra da escola. Quem tem a culpa? Os respectivos encarregados de educação que deviam fazer mais exercício físico algures em Novembro ou antes, e que deviam deixar o período natalício para as compras & doçarias.
Mas a visão reformista do mistério da 5 de Outubro não se fica, pelos saltos à vara no 8.º ano, nem pela supressão da caneta vermelha na correcção dos testes, que tantas mazelas e contusões parecem provocar na almas dos nosso jovens. Depois do fecho das maternidades devido ao numerus clausus nos nascimentos, como se as maternidades fosse como comercias da propaganda médica com plafonds mínimos, também as escolas com menos de 21 alunos estariam condenadas ao inevitável fecho de portas. Escusado será dizer que entre as vitimas, a notícia foi recebida com grande regozijo lá para as bandas da Várzea de Abrunhais, no profundo Lamego rural. Esse mesmo lugar que o midas das reformas estuturais [o nosso PM] caracterizou com sendo um exemplo de vanguardismo das políticas educativas. Aliás a própria responsável da escola que na altura deve ter sido assambarcada pelo Gabinete do nosso PM e pelos holofotes da comunicação social, já veio à praça...encolher os ombros. Nem vale a pena dizer mais nada. É este o Governo que vocês [eu não felizmente!] elegeram! Agora aguentem...
Espremendo bem a inteligência, a ideia tem todo o sentido. Se aqui na lúgubre capital as mega escolas funcionam e os alunos chegam sistematicamente atrasados apesar da boleia dos papás, e de toda a rede de transportes existentes, lá no interior esquecido pela ruralidade da aspereza da orografia, a probabilidade dos filhotes demorarem mais tempo a chegarem à Nova Escola [essa visão aberrante da sofisticação!] vai obrigar os pais a acordarem mais cedo, e concomitantemente a chegarem ainda mais cedo aos empregos. Se adicionarmos a isso mais um aumento do número de horas na escola com novas e enriquecedoras disciplinas optativas obrigatórias, os pais serão compelidos a sair mais tarde para irem buscar os petizes, trabalham mais, produzem mais, e perdem menos tempo em coisas inúteis como estar com a família e conviver com os amigos.
É esta a insustentabilidade da nossa educação. Já não me refiro em facilitismo, que existe digam o que disserem! nem as famosas estatísticas dos chumbos que de uma penada se viram reduzidas ao erro da estatística por via passagem dos alunos repetentes para os cursos profissionais, em que o grau de exigência é obviamente menor [digam o que disserem, esta é a verdade!]. Mas ainda bem que existem, pois num país como o nosso em que todos querem ser doutores & engenheiros, nem todos podem ser com a mulher de César. Já profetizo a nova visão da 5 de Outubro, passagem dos alunos repetentes do 11.º com idade acima dos 17 anos [cujos pais tenham ganho o bingo do loto sexual algures até Novembro!]directamente para os calabouços de um qualquer curso universitário, à escolha. E quem sabe aulas online ou em horário alargado, por exemplo a partir da meia-noite para quem frequenta os pubs e bares da alternidade. Bastará um simples portátil da e-escola, Magalhães comprado no mercado paralelo, e num qualquer no café ou tasca da esquina ao lado da escola terminar qualquer ciclo escolar. E porque não acabar com essa aberrações urbanísticas a que damos o nome de escolas e enveredar uma estratégia estilo La Redoute ou Vertbaudet para o ensino? Na compra de pacotes de aula de matemática, grátis uma torradeira ou um LCD de mesinha de cabeceira para ver a telenovela da TVI??
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Virando agora a agulha para outra faixa, hoje completam-se 5 anos da morte desse grande político e lutador pela liberdade chamado Álvaro Cunhal. Adorado por muitos, ignorado por outros, com ou sem a legitimidade da doutrina que advogava, há que salientar a grandiosidade das suas convicções e a coerência do seu raciocínio.
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E para aqueles que ainda estão digerir as sardinhas assadas de ontem à noite e ficaram empanturrados com as marchas populares, fiquem a saber que hoje celebra-se igualmente o aniversário do nascimento de um mitos da portugalidade – Fernando Pessoa. E é com Pessoa que me desembaraço desta insustentável e aborrecida crónica dominical.
Que jaz no abismo sob o mar que se ergue?
Nós, Portugal, o poder ser.
Que inquietação do fundo nos soergue?
O desejar poder querer.
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Foto by: Mico