17/10/2010

...são rosas Senhor!


….para ser sincero não sei por onde começar, se pelas projecções macroeconómicas do Governo apresentadas no OE2011, se pelo atraso na entrega do documento, ou pelo facto de as ostras não se encontrarem abrangidas pela subida abrupta para a taxa máxima de IVA.

 fico-me por algo mais simples a subida para o escalão máximo do leite com chocolate. se me questionarem se estou mais inclinado a retirar da prateleira uma garrafa de Monte da Peceguina 2007 ou de um pacote de leite achocolatado da Nesquick, digo muito honestamente que opto pelo primeiro. neste particular os caríssimos secretários do ministro das finanças assinam por baixo a minha selecção, pois o leite aromatizado, aditivado enfim, adulterado só pode ser considerado bem de luxo e deve ser perseguido. as ostras não!

mas antes de entrar em detalhes, uma breve nota para o atraso [tristemente normal] da entrega do OE e para o facto de mais uma vez [que gozo para a Telepizza que teve mais uma noite de glória]. no meu tempo havia reguadas e castigos a sério! eu sei que era traumatizante para quem as levava e desmotivante para quem as tinha que aplicar mesmo não entendendo bem porquê, mas infalível!

relativamente ao ponto inicial que motiva este conflito indecisório, começo por apresentar a minha mais firma relutância sobre os dados macroeconómicos do OE. não é que tenha algo contra os arredondamentos das projecções, ou uma ou outra relutância contra algum número. simplesmente há ali qualquer coisa que não soa bem. não sendo economista, mas tendo alguma experiência em contas de mercearia [muitas vezes vilipendiadas mas mais justas e sinceras!] creio na minha consciência que há ali qualquer coisa que não combina bem. ora vejamos: o investimento do Estado é reduzido, os impostos exacerbados para as classes baixa e média [quem menos recebe vai pagar mais de imposto; quem mais recebe pagará menos, tudo por uma mera questão de equidade fiscal nos limites das deduções à colecta, pasme-se; é este o sistema socialista!!], a inflação sobe, o desemprego continua o seu ciclo ascendente, novos impostos para as empresas [o dos bancos não é imposto, só pode ser gozo, mas já lá vamos!], o PIB mantém a sua trajectória descendente, o endividamento do Estado continua no nível estratosférico, e para finalizar a procura interna vai diminuir. a parte mais curiosa, para não dizer divertida, é que a base deste baralho de cartas é o pressuposto de um aumento das nossas exportações [sendo nós uma potência em matéria de exportações a nível europeu!], como se numa penada o mundo mudasse e a estagnação mundial se transformasse numa Éden de trocas comerciais em que cabeça surgisse o made in Portugal como item mais cobiçado! não sei se é acto de fé ou auto de fé, mas que este ministro das finanças já nos habituou ao surrealismo, isso já. olhe senhor ministro, se a matéria de facto é o irrealismo, podia por exemplo dar um saltinho à retrospectiva do Victor Willing na Casa das Histórias e convencer-se que há formas reias de retratar a irrealidade da realidade dos factos!

e de quem é a culpa?....que pergunta mais irracional!eEntão não se está a ver?? só pode ser daquele imaturo, irresponsável e brincalhão do Passos Coelho. Péssimo dançarino de tango, completa nulidade na playstation!! provavelmente na universidade de verão do PSD em Castelo de Vide sofria bulling, e era obrigado a andar com bandeirinhas aquando das visitas de atestado do candidato a primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva [antigamente era Aníbal agora apenas Cavaco!]. foi ele com juntamente como Pacheco Pereira, o Frasquilho e o Miguel Macedo que arquitectaram toda esta encenação, e o cérebro de todas estas refinadas medidas de estagnação e contracção seria provavelmente a Manela, que antes que fosse tarde demais , optou pela sombra da coluna do caderno de economia do Expresso. e pronto os culpados do facto de uma embalagem da Compal de feijão de frade pagar tanto IVA como um Porsche Carrera 4s, estão identificados. mas há mais, o bando não fica por aqui.cCertamente que ninguém investigou a teia de relações entre o eminente Medina Carreira, o inoportuno Mário Crespo e a Chanceler Merkl (estratega mor do BCE!). são eles que tecem as ideias e estratégias com que os malandros dos mercados internacionais [gregos e FMI incluídos no embrulho] nos atacam de segunda a sexta-feira. quem é que aposta comigo em como o default da nossa dívida na próxima semana não vai disparar dos 27,6% para os 30% ou que o yield da nossa dívida não chega ao precipício dos 7%, face à indecisão calamitosa, o tabu devastador do jovem Passos. sim porque a culpa é toda dele, e da pobre Dona Maria e o seu marido que recebem 500 euros de reforma e que pelo facto de não se terem esforçado durante a vida de fausto que levaram, vão pagar agora o dobro do dinheiro que pagava pelo Nimed, mais IMI pelo T1 com 60 anos que habitam em Xabregas, mais IVA pelo leite enriquecido com cálcio que o médico lhes aconselhou para fazer face à osteoporose que afecta a Dona Maria. com alguma sorte, ainda vão ter que comprar fiado na mercearia da tia Amélia, que lá vai ter que fazer contas à vida pelo facto de ter que pagar aos fornecedores de algo que não recebe de imediato, e sabe Deus quando.

são estes portanto, os culpados e ponto final parágrafo.

mas uma dúvida invade-me. quem é que afinal está no Governo?a Dona Maria não é certamente!nem ela nem aquele casal que queria ter mais filhos e que agora vê suspensa a sua pretensão em diminuir a base de incidência das taxas de IRS à custa do aumento do agregado, malandros!é como os gregos e os tipo do BCE que cobram juros de 1% aos bancos e depois estes emprestam aos governos dinheiro a 6% e 7%!!!

por um simples acaso passava eu nos Passos Perdidos da Assembleia da República quando e dei de caras com um deputado triste e desapontado do PS. Queixava-se que um colega (o prestigiado chefe de gabinete do camarada secretário-geral do PS; não confundir com o primeiro-ministro por favor! trata-se do camarada Pinto de Sousa!) o tinha coagido a aceitar um lugar de destaque no negócio da ferrovia a troco de uns miseráveis 15000 euros mensais, desde que este desistisse da candidatura à distrital de Coimbra (que aliás perdeu!)! também não sabia bem quem estava no Governo, estava sim preocupado com a decisão que tinha tomado!

não satisfeita a minha curiosidade, outra questão me atormentou. mas afinal o que aconteceu realmente desde maio de 2009? tentei procurar o Passos nos Perdidos mas apenas vi  hordas de deputados que se atropelavam em congeminações e impropérios por uma pen que estava incompleta, e jornalistas que desesperavam por uma fotografia ou por uma fatia de pizza pois a fome apertava. sentei-me no camarote do Plenário da AR, e adormeci cheio de fome pois era tarde e a fome apertava.

chegados que estamos ao "mais importante orçamento dos últimos 25 anos", apeteceu-me recuar esses mesmos 25 anos, mas para minha infelicidade, vejo na bola de cristal os mesmos rostos, as mesmas políticas, os mesmos argumentos, as mesmas mentiras.

comungo das proféticas palavras do Jorge Sampaio, de que há vida para além do défice, mas questiono-o se pensa que também há vida para lá do orçamento. o ministro Teixeira dos Santos afirma solenemente o dever patriótico de deixar passar o défice, e eu pergunto-lhe directamente e quem nos defende a nós, pátria dos vossos erros e da vossa incompetência em gerir a causa pública?

desta vez nem nossa Rainha Santa Isabel nos safa!

PS: jorram lágrimas quando vi o séquita da alta finança portuguesa num gesto nobre qual Martim Moniz, todos eles com o nó do laço a oferecerem-se para serem os primeiros a ser martirizados pela pátria, desde que taxa a aplicar se refectisse no cliente! Só não entendi a que propósito Dona Maria não teve igual tratamento!?
"...levava uma vez a Rainha santa moedas no regaço para dar aos pobres(...) Encontrando-a el-Rei lhe perguntou o que levava,(...) ela disse, levo aqui rosas. E rosas viu el-Rei não sendo tempo delas."



Crónica dos Frades Menores, Frei Marcos de Lisboa, 1562

11/10/2010

...um olhar diferente

...aqui também continua a chover, mas existem muitas forma de ultrapassar estes lampejos de outono envergonhado. Como ficar em casa e fazer zapping entre um qualquer canal português é meio caminho andado para nos afundarmos-nos em conjecturas e prognósticos sobre um possível, eventual, desejado, patriótica ou descabido chumbo do Orçamento que ninguém conhece, nada melhor do que acordar cedo e sentir o doce trago amargo da maresia, nado da fúria e ímpeto do mar que sacode a nossa costa, e outros incautos que gostam de jogar com o infortúnio. Ler o jornal (mesmo sendo o artigo do M Sousa Tavares, que quixotescamente luta contra os moinhos de vento do novo acordo ortográfico, e muito bem refira-se!) não deixa de ser um atrevimento que nem nestes dias me apraz provar. Sente-se e demasiado foco sobre um documentoque atropela os anseios e amarguras de toda uma classe que não sendo a solução do problema, é por entreposta dúvida a causa do problema, pelo menos para alguns, ditos esclarecidos.
Como se a sentença pelos pecados não praticados fosse a absolvição daqueles que do outro lado da barricada atiram a primeira pedra. A "César o que é de César" disse um dia um conhecido profeta da nossa praça, depois de confrontado por um grupo de sindicalistas fariseus. Por ventura, não esperava ele que o este nosso César cura-se de nos aliviar a bolsa com o mesmo ímpeto com que massacra os mais necesitados. E porquê continuar a apostar num semi-deus que mais não fez que continuar a caminhada desta jangada de pedra rumo ao desconhecido. Já nem o mar salgado nos poupa, nem as tágides nos encantam. Pasme-se, nem  o Velho do Restelo, que bem procurei ontem na bicha dos Pastéis de Belém ousa pronunciar-se sobre o destino desta nau. Ao folhear o jornal, leio nas entrelinhas este  auto da barca do inferno, vislumbro um Don Anrique que passeia toda a sua vaidade e arrogância e que deixa um povo na miséria. Vejo um pais de amadores de perdiz, em que nem a justiça escapa à selectiva estrefe do triste fado. Também em 1755, nessa Lisboa de fausto de uns e miséria de outros, as igrejas sucumbiram com o peso dos crentes, quando mesmo ao lado, as prostitutas se salvavam. Que obra de misteriosa e profana vontade divina é esta que condena justo e perdoa o pecador. Também nestas horas me interrogo sobre a justeza das medidas, da justeza dos actos e de algo mais preocupante. O que aconteceu, para termos chegado a este ponto, quando nem as Tormentas se vislumbravam no horizonte, ou o marinheiro assim o julgou!? Que meirinho do mar é este que surge do nada e que a todos quer libertar. Que novas cartas de marear traz no alforge, que novas terras pretende ele alcançar?...demasiadas perguntas, poucas ou nenhumas respostas. Tivesse eu uma bola de cristal, seria logo consumido pela fogueira da inquisição.
Hou da Barca, tendes por i algo melhor pra nos ofertar?...