28/09/2014

...a república dos anjinhos

…esta semana tenho andado muito ocupado para me debruçar sobre as repetidas intervenções do Pedro, mas pelo que tenho lido confesso a alguma perplexidade sobre as temáticas que têm originado uma constante presença da sua personagem nos tablóides.

No início da semana ainda compreendi a alusão à “salsicha educativa”, como forma insidiosa de desculpabilizar o pedido de desculpas apresentado pelo seu lugar-tenente da educação. Não vou formular aqui nenhuma opinião acerca das suas qualidades como político, pois ele sabe que não o é, mas antes expressar o meu regozijo pela sua capacidade de raciocínio matemático. A dedução matemática da fórmula reinventada pelo ministério que tutela deverá ser um excelente desafio para mestrados e pós-graduações no futuro.

Depois da rábula de charcutaria, seguiu-se a comédia a la carte dos almoços na ONG CPC. De facto o Pedro falou a mais pura verdade no Parlamento. Não recebeu, enquanto deputado, qualquer retribuição da empresa onde trabalhou. Também não deixa de ser verdade que enquanto deputado, desempenhou com inteira exclusividade (1995 e 1999) enquanto se encontrava intramuros no antigo convento de São Bento.

"Optei por fazer o curso de Economia enquanto trabalhava na Tecnoforma"
Pedro Passos Coelho (2010)
Pedro Passos Coelho (2010)
“Finalmente temos um candidato a primeiro-ministro sem casos passados”
Miguel Relvas (2010)
"A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos."
Platão (séc. IV a.C)

Se rabiscava uns artigos de opinião nos passos perdidos enquanto se deliciava com um café e uma roçadela na barba, como forma de inspiração  lírica, isso são assuntos da esfera privada que não interessa aqui ressuscitar. Igual raciocínio se aplica aos almoços e constantes deslocações que fazia para Almada [sede da ONG que fundou; ainda em exclusividade, note-se!].

Convenhamos, sair do meio de Lisboa, em hora de ponta, e tentar chegar à outra margem de borla, jamais!

Pior,  conseguir conciliar a exclusividade com a quantidade abismal de representações e chás de final de tarde com os deveres de deputado [em exclusividade], não é tarefa para qualquer um.Requer asas!

Nem mesmo o António conseguiu andar em campanha eleitoral para as primárias e estar ao mesmo tempo a desentupir as sarjetas enquanto o temporal afundava a capital, para desespero do vereador queixoso.

Se recebeu e não declarou, não interessa agora. Parte desse problema já prescreveu numa madrugada qualquer de 2007. Aliás, as madrugadas e os fins de semana neste país, são o “sétimo céu” para o exoterismo. Assunto arrumado, aliás…quantos como ele não o fizeram, sem ser necessário qualquer número digno de uma boîte do Cais do Sodré?

O fulcral é que, apenas agiu como qualquer um de nós. Tentou desenrascar-se e não se armou em anjinho. Tout court !

Donc, se o Pedro não se lembra, e o Passos não sabe quanto, porque é que o advogado da antiga empresa há-de saber mais?

"O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê."Platão (séc. IV a.C)
Preocupa-me muito mais os deputados (e alguns anteriores) que exercem actividade profissional, ainda que encapotada por mero aconselhamento ou consultoria, em empresas ou escritórios de advocacia, em claro conflito com o interesse público [a esse respeito aqui fica uma clarabóia para quem ainda tenha um par de asas sobresselente no armário].

Muito se fala promiscuidade entre a política e os negócios [o António bem apontou ao António esta semana no último debate]. Pode continuar repetir esta frase nos próximos anos, pois não vai cansar-se de a ouvir. Faz parte da retórica de qualquer parlamentar digno de tal.

Mas nem tudo foram más notícias para o Governo [exceptuando o caos no Citius, os problemas no arranque do (a)normal ano escolar ou os problemas técnicos na TAP]. De facto a iniciativa da fiscalidade verde, antes mesmo de ver a luz do dia já apresenta efeitos sensíveis ao nível da saúde do Planeta. A camada do ozono tem estado a recuperar, apesar do degelo nos pólos, da desertificação, das alterações climáticas e das frases apocalípticas do Dr. Soares. É sempre bom saber que os velhos ainda mexem. 

"Pedro Passos Coelho fez comigo o que todos os partidos fazem com os mais velhos: afastou-me"Ângelo Correia
Acho que ainda vou a tempo de deixar uma pequena nota  para o Sr. Albino, o secretário-geral AR:
"É perigoso querer corrigir seja quem for"Oscar Wilde


Para terminar, já que o domingo vai longo e tenho o chá a arrefecer, uma palavra de conforto para o António que vai hoje para os anjinhos...