…nada é mais subliminar que a
beleza. Exprime-se por um som, uma recordação, uma imagem que fica a pairar, um
poema de ideias, um breve olhar, ou mesmo uma troca de palavras. Talvez seja esta
a teorização do belo platónico, essa masmorra que nos comprime de forma
insuportável e ao mesmo tempo apaixonante. É sobre esta masmorra que paira o
meu quotidiano pensar. Não é um pensamento vago, uma ideia metafísica; é bem real, corpóreo, tem um rosto.
Como uma matriz de números,
encerra uma equação de variáveis intrincadas que nem o tempo parece capaz de
resolver. Sempre tive uma má relação com os números. As letras são
infinitamente moldáveis e encerram uma melodia que ultrapassa a rigidez da álgebra.
A beleza é boémia, embriaga, não
vive de acordo com normas ou a cadência repetitiva de uma série, ou uma
equação linear. A beleza é um vissio; algures entre a superstição e a crença,- ora
adoramos quebrados aos seus pés, ora somos fustigados com a sua raiva contida e levados ao mais profundo dos infernos, inebriados pelo perfume a sua fúria.
Perante a beleza, somos fracos,
apenas um número no canto de uma página, ou na lombada de um livro esquecido
numa prateleira. Vazios como uma pauta sem melodia, que nos inunda o silêncio do pensamento.