“Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,/ não há nada
mais simples./ Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte.”
Alberto Caeiro
A social-democracia em Portugal confunde-se um pouco com o socialismo à
moda portuguesa, pois ambos advogam a distribuição de dinheiro pelo Estado,
ainda que no caso socialista, a devolução desse “investimento social” não seja
uma preocupação, já que depois da catarse seguir-se-á sempre uma punção fiscal,
ávida de obter esse diferencial nos anos seguintes.
O bom social-democrata [nos países nórdicos] multiplica funcionários,
aumenta pensões, acrescenta subsídios, e acumula contratos e parcerias privadas.
Privatiza com moderação, um pouco mais do que um socialista [daqueles que não
seguem a religião à letra]. Se com os primeiros governos socialistas tivemos as
prim
eiras reversões das nacionalizações do PREC, com os governos sociais-democratas
80-82 e sobretudo na década de 90, tivemos a maior entrada de funcionários
públicos, a tal classe média que importava conquistar [“o centrão”].
Infelizmente [é dispensável a prova dos factos] para grande infelicidade
nossa, o socialismo democrático (não confundir com o socialismo mais à
esquerda) e social-democracia têm conduzido os destinos do nosso País nas
épocas erradas.
Por exemplo, os primeiros governos socialistas do post 25 de Abril,
[na, escala geológica serão os primeiros segundos entre o PREC e ao amanhecer os
anos 80] até à chegada da primeira comitiva oficial do FMI, tudo parecia um “mar
de rosas”, até que de um dia para o outro passamos a falar novamente sobre a
crise [tema recorrente desde a batalha de São Mamede]. A entrada da comitiva da
sra. Ter-Minassian, tinha como objectivo corrigir os desequilíbrios
macroeconómicos, orçamentais e financeiros, em linguagem financeira, a
bancarrota resultante do impacto da crise petrolífera e os devaneios económicos
dos anos do PREC.
Em suma, o grande problema é o facto da social-democracia só chegar ao
poder em épocas de crise, tal como sucedeu em 2011, depois do deslumbre dos
governos socialistas.
A oratória financeira ensina-nos que em anos de contenção financeira, é prudente
congelar ou diminuir a despesa pública e, em simultâneo implementar medidas de
apoio ao investimento privado e exportações – ou seja apimentar um pouco de
neo-liberalismo. E é exactamente isto que raramente foi feito, com a honrosa
exepção da social-democracia e democracia cristã.
As [duras] medidas implementadas [com uma forte componente neo-liberal;
doutrina delineada pela troika mas negociada pelo socialismo] tiveram um
impacte demolidor na economia e na vida dos portugueses e de certa forma
consumaram um corte com a trajectória de descalabro da economia portuguesa. Mas
infelizmente a ortodoxia neo-liberal suplantou a social-democracia [é melhor
nem referir qual a componente de doutrina social cristã, porque não houve] e acabou
por ser vítima de si própria.
Em 2015, [qual Pilatos], o socialismo democrático lavou as mãos e facilmente
tomou novamente as rédeas do poder, num golpe de mestre ao aliar-se com o
socialismo ortodoxo, o mesmo que nos anos 70 ficou na gaveta. O trunfo da
esquerda, sobretudo do socialismo é o facto de em Portugal, o partido
social-democrata [exceptuando um curto período] não conseguir deixar de ser
neo-liberal.
Não é preciso citar Thomas Piketty ou Joseph Stiglitz, para chegar à conclusão
actualmente, para a maioria da sociedade portuguesa a social-democracia tem uma
reduzida capacidade de gerar uma sociedade melhor. De facto, a narrativa
central da social-democracia que aponta para a redução gradual das desigualdades
não teve reflexos nas últimas décadas, pelo contrário.
Dado que o espaço do centro é hoje o feudo do socialismo, rapidamente se entende
que o fracasso da social democracia e da democracia cristã [mais de direita],
são o viveiro e o caldo ideal para a génese de de idelologias populistas e mais
radicais.
O socialismo não é antídoto para as desigualdades sócio-económicas e a
social-democracia não é uma corrente neo-liberal. O problema de Portugal é
questão de números num tempo errado. E tempo é uma constante interminável.