Cheguei. mal sai do carro corri para ver a avó. lá estava ela sentada junto á lareira, a cozinhar as conversas do dia. depois de desarrumar as malas pela casa, fui dar uma volta e respirar o monte, lá me baixo o resto do mundo. quando era pequeno pensava que o mundo acabava para além dos montes lá o longe. era um mundo ao alcance do olhar. o meu mundo começa no campo de milho, e terminava lá em baixo na quinta que os da casa viviam na jorna.
Cedo, bem cedo desci o monte e quando entrei já o abade estava atrasado. as moças de cá cantam mais alto, com adoração. permaneci no fundo da igreja encostado ao portão de madeira velha, ao meu lado os grãos de arroz do último enlace. não pude deixar de sorrir quando o senhor abade dedicou parte da homília ao jovens, esses jovens que esquecem o próximo, que esbanjam o tempo em concertos a ouvir essas músicas demoníacas, esses ritmos infernais. senti o libelo acusatório a passar ao lado dos pobres de espírito e atingir aquele pecatori que ali jazia. ainda pensei esculpir na parede de granito o mea culpa, mas depois lembrei-me que ainda tinha o john coltrane para exorcizar os tais ritmos do demo.
Chove, mas mesmo assim segui estrada fora por entre rios de suor que desciam serra abaixo. em redor da albufeira o silêncio. apenas quebrado pelo ondular das folhas e o bailado que o vento ondulava no plano de água. na vila, um punhado de rostos á porta da tasca. olham vagos para o céu que não dá tréguas. agosto, dizem. duas moças apressam os passos com os sacos de pão e hortaliças. entrei no café, ao som do pequeno rádio a pilhas e pedi o costume e um jornal. ao meu lado escreviam-se as notícias do jogo d’ontem, na pequena grafonola, o tipo que mamava nos peitos da cabritinha.
- quanto lhe devo?
a senhora sorriu enquanto ainda pingava uma gota de bagaço no copo vazio ao meu lado. senti o aquele cheiro misto de madeira velha e álcool embriagado.
- são 3,65!se tiver trocado agradeço.
paguei com as poucas moedas que sobraram ontem da festa, depois de uns tiros certeiros. no jornal, o sporting perdeu. novamente.
sai e ainda chovia, e no regresso o mesmo silêncio inundava o pára-brisas com aquele som de outras estações do ano. devo ter recuado no tempo, certamente.
Calma. em casa ainda se roubam sonhos. lá fora o vento leva o tempo.
Cantam os sinos lá fora. 7 da manhã. ouvem-se passos leves aqui pela casa. o tecto de madeira range com o sabor da manhã solarenga.
Cedo, bem cedo desci o monte e quando entrei já o abade estava atrasado. as moças de cá cantam mais alto, com adoração. permaneci no fundo da igreja encostado ao portão de madeira velha, ao meu lado os grãos de arroz do último enlace. não pude deixar de sorrir quando o senhor abade dedicou parte da homília ao jovens, esses jovens que esquecem o próximo, que esbanjam o tempo em concertos a ouvir essas músicas demoníacas, esses ritmos infernais. senti o libelo acusatório a passar ao lado dos pobres de espírito e atingir aquele pecatori que ali jazia. ainda pensei esculpir na parede de granito o mea culpa, mas depois lembrei-me que ainda tinha o john coltrane para exorcizar os tais ritmos do demo.
Chove, mas mesmo assim segui estrada fora por entre rios de suor que desciam serra abaixo. em redor da albufeira o silêncio. apenas quebrado pelo ondular das folhas e o bailado que o vento ondulava no plano de água. na vila, um punhado de rostos á porta da tasca. olham vagos para o céu que não dá tréguas. agosto, dizem. duas moças apressam os passos com os sacos de pão e hortaliças. entrei no café, ao som do pequeno rádio a pilhas e pedi o costume e um jornal. ao meu lado escreviam-se as notícias do jogo d’ontem, na pequena grafonola, o tipo que mamava nos peitos da cabritinha.
- quanto lhe devo?
a senhora sorriu enquanto ainda pingava uma gota de bagaço no copo vazio ao meu lado. senti o aquele cheiro misto de madeira velha e álcool embriagado.
- são 3,65!se tiver trocado agradeço.
paguei com as poucas moedas que sobraram ontem da festa, depois de uns tiros certeiros. no jornal, o sporting perdeu. novamente.
sai e ainda chovia, e no regresso o mesmo silêncio inundava o pára-brisas com aquele som de outras estações do ano. devo ter recuado no tempo, certamente.
Calma. em casa ainda se roubam sonhos. lá fora o vento leva o tempo.
Cantam os sinos lá fora. 7 da manhã. ouvem-se passos leves aqui pela casa. o tecto de madeira range com o sabor da manhã solarenga.
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