09/10/2011

...a relatividade de Escher


Produtividade, S.A.

A certa altura podemos questionar se o facto de na Constituição indicar que o SNS é universal e tendencialmente gratuito (idem para a Educação), impede que alguns serviços não possam a ser comparticipados. Aparentemente, é o que está previsto vir a acontecer. Isso não implica que a Constituição tenha de ser alterada, aliás, uma coisa que a Constituição não prevê nem aponta é para a continuação dos desperdícios, isso sim é que é lamentável

A Constituição matematicamente falando define conceitos abrangentes, médias, máximos denominadores comuns, e o diabo a quatro. Num país onde abundam, livros brancos, livros verdes, recibos verdes que eram azuis e agora são electrónicos, nuns pais já tudo foi estudado, e o que não foi estudado necessita de ser repensado, é caso para dizer, crie-se uma comissão para estudar o caso. Ou então mude-se a constituição, que apesar de sermos uma democracia imberbe, já foi modificada 7 vezes!

O motivo atendível foi uma espécie de persona non grata do famoso programa de Constituição que o PSD pretendia ver discutidas. Depois de enxovalhada na praça pública, e envergonhadamente colocada na gaveta, o Governo volta à carga com algo bem mais maquiavélico, a falta de produtividade e a inadaptação ao posto de trabalho. Todos sabemos que se há conceito abstracto e ardiloso, é a adopção de metas de produtividade.

Tomemos por exemplo o Sr. X que trabalha no Cemitério de A-dos-Aflitos. O sr. X consegue aviar 5 clientes/dia (abertura da cova com enxada, entrada do caixão com auxílio de corda de nylon já com algumas emendas e cobertura final com terra e acabamento final). A câmara municipal de A-dos-Aflitos vê-se compelida a privatizar o serviço público que providenciava (devido a uma alínea do acorda da Troika) e transfere essas competências para a empresa privada de um primo da secretária de vereador do urbanismo da Câmara Municipal. Mudança radical de paradigma. A nova empresa estabelece que o Sr. X para rentabilizar todos os encargos e gerar uma margem que proteja o corpo accionista, necessita processar 8 clientes/dia e vê o seu horário reduzido em duas horas por dia, bem como o ordenado que leva ao fim do mês cuidadosamente aliviado na mesma proporção. Mas nem tudo é mau para o Sr. X. A nova entidade gestora oferece agora um seguro de saúde, para o qual é descontado parte do ordenado do Sr. X (até pode descontar mais tarde no IRS!!) e assim, deixa de ser necessário faltar ao período da manhã para ir para a bicha que se forma à entrada do centro de saúde À espera de uma consulta d urgência ou para uma marcação de uma consulta para um dos dois médicos de família que ainda dão consultas. O Centro de Saúde deve fechar nos próximos meses, estando os serviços a ser concentrados no hospital distrital que fica a 54 km. Já ali, mas antes há que atravessar a serra pela estrada municipal que não vê obras de reabilitação desde o século passado. O sr. X só tem motivos para sorrir e aumentar a sua produtividade. Tem é que despachar 8 clientes.

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Madeira shaken, not stirred

Hoje há eleições na Madeira. A Madeira é uma ilha, ou antes um arquipélago. Aparentemente tem um buraco. Em termos matemáticos o Buraco nas contas da Madeira é qulquer coisa como o buraco da empresa pública REFER. No caso da REFER, por norma, quaisquer desvios e gastos excessivos são imputados aos maquinistas e em menor proporção aos vendedores de bilhetes (estes pelo facto de serem invariavelmente antipáticos!). No caso da Madeira, será difícil apontar bodes expiatórios, pois a haver “não renovações ou reformas compulsivas” seria necessário um comboio humanitário de milhares de madeirenses para o Continente (que ninguém quer!) ou então preparar as ilhas desertas para albergar uns quantos milhares de pessoas, incluído o chefe da banda e o director do Jornal da Madeira. Também há a opção de alugar uns quantos barcos a remos ou reduzir para metade as tarifas aéreas da para a América Latina. Ainda assim penso que a melhor opção é mesmo deixar os madeirenses resolver o seu problema…mas com os devidos cortes nas transferências do Continente por forma a contrabalançar essa aptidão irascível para gastarem mais do que podem e devem.

PS: alguém acha normal as empresas públicas madeirenses transportar eleitores em dia de eleições? Se existe alguém atirem-lhe a primeira pedra!

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A importância de se chamar Álvaro

Temos a felicidade de ter um Ministro simpático da pasta da Economia que se chama Álvaro. Apenas Álvaro e não mais do que Álvaro. Não foi escolhido pelo facto de ter editado um livro “Portugal, na Hora da Verdade (Gradiva, 2011), passe a publicidade mas porque tem um je ne sais quoi de Steve jobs da economia: visionário e sanguinário, e alguns apóstolos no Conselho de Ministros.

“Na política de transportes quase tudo terá de mudar” dixit. Só foi pena ter-se esquecido do Plano Estratégico dos Transportes em casa e ter vindo com a famosa conversa do 31 de boca. Mas adiante. Concordo com todas as opções tomadas, mais fusão menos fusão a confusão, desde que se acabe com a confusão nos transportes e com as regalias injustificadas. A parte triste da história é mesmo não existir desde a década de 80 do século passado uma abordagem séria aos transportes em Lisboa e Porto bem como no resto do País. É que pode não parecer mas Portugal também é para lá de Lisboa e Porto.

Conselho: amigo Álvaro da próxima deixe as cópias a cores do power-point e leve o Ipad, de certeza que vai fazer um figurão. Desta fez fez apenas má figura.

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Manif

…eu queria falar sobre as manifestações violentas de hordas de hunos da CGTP-IN e alguns UGT disfarçados de avó da capuchinho vermelho mas o Alberto João Jardim entrou aqui na redacção e disse que “Não queremos comunas aqui!…». Fica para uma outra oportunidade quando o Alberto João estiver a enxovalhar os deputados da oposição e o Presidente Cavaco no quarto de hotel a ver o Panda Biggs.

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Paradoxo de Escher

Este holandês apaixonado pela matemática foi mestre na criação de realidades impossíveis. Da mesma forma com a mesma argúcia, o nosso Governo está refinado na desconstrução de toda a lógica socialista das últimas décadas e paulatinamente tem vindo a criar a realidade utópica e insustentável de sobrepor na mesma receita: recessão e crescimento económico. Falar em cortes, sobrecarregar a carga fiscal restringir o crédito e desincentivar o consumo é tão benéfico para economia como um chapéu-de-chuva em pleno deserto. Aliás, o chapéu ainda faz alguma sombra…

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