“o escuro às vezes não
é falta de luz,
Mas a presença de um
sonho…”
Nem todas as estórias começam, com “era uma vez”...esta
começa com uma imagem. Não uma daquelas imagens que nos transportam em sonhos,
rodeada da escuridão do silêncio de um quarto. Uma imagem que irradiava alegria,
uma forma tão elegante que nem a mais bela seda poderia comparar-se com a suavidade
do movimento que o seu corpo desenhava através de um sorriso que interrompia
tudo em redor.
Quis o acaso- esse pedaço do destino nem sempre entendido,
que a imagem saísse da esteira da poeira cósmica, e se tornasse algo, alguém.
Primeiro uma palavra. Depois uma frase, intercalada com o mesmo silêncio que a
noite nos impele, quando ficamos siderados com o manto celeste. Os dias foram
passando, e as frases começaram a desenhar algo bem real. Não uma fada, de um
conto medieval, nem uma musa cantada por um qualquer poeta lírico. As palavras
trocadas foram construindo metáforas, e a alegria foi-se transformando numa
menina junto ao mar, olhando para um por do sol com um olhar nostálgico; o
mesmo mar em tons de azul céu que encara como se fosse o chão que pisa num
bailado de gestos graciosos, enquanto brinca numa praia de areia brilhante,
imaginando uma aventura que não sabe como começou nem como irá acabar.
Constróis castelos de areia, com o rasto das estrelas que o mar transporta na
cadência das ondas. A aritmética do seu sorriso confunde-se com a álgebra com
que constrói frases na areia. São parcas as palavras que desenha, demasiadas
variáveis, demasiadas interrogações, há um mar de entremeio entre o sonho de
voltar e o facto de existir.
“…a beleza às vezes é um lugar onde o olhar
já sabe aquilo que não quer esquecer…”
…os dias foram passando, e nem as ondas conseguiram apagar
todos aqueles retalhos que ficaram marcados no chão naquela praia. A menina deu
lugar a uma mulher, com o mesmo olhar nostálgico, mas fugaz, como que escondendo
algo que o mar lhe diz. A sua alma está longe dali, o mesmo acontecendo com o
amor que procura por entre a areia da praia…
“a luz faltou de repente”
…nunca mais a vi. Nem a mulher nem a menina. No seu lugar
ficou um sonho e o som do mar, escritos num pergaminho que o mar levou.
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