…a felicidade é como o mercado accionista, tem altos e
baixos. Por vezes para nos abstrairmos da realidade temos que nos transfigurar
e subir bem alto, quase aos píncaros para lá pudermos contemplar a beleza em
toda a sua plenitude; no instante imediato em que corremos a cortina da imaginação
e abrimos o olhar precipitarmos no mais obscuro abismo e tudo se dilui numa
névoa gélida de silêncio.
Subir sempre mais alto, apesar de ser um convite ao sacrifico, é aparentemente algo que o Homem busca desde os primórdios da
Humanidade. Subir ao alto, é o trajecto que conduz a uma sensação de poder, um lento traveling em busca do inalcançável. E não há nada que nos demova quando se
trata de satisfazer algo que nos motiva ou nos apraz. Já não falo da busca pela
Lei ao alto do Sinai, a manifestação da omnipotência no Tabor, ou mitologia
helenística em redor do Olimpo. Trata-se apenas de estar num plano superior, um
momento fugaz em que nos superamos um buzz de adrenalina que nos ampara para a
queda na realidade que se segue, quando no dia seguinte observamos a cotação da
criptomoeda que imaginamos significar a encarnação perfeita da medida da nossa
felicidade.
«(…)
If you can keep your head
when all about you are losing theirs
If you can wait and not be
tired by waiting
If you can think - and not
make thoughts your aim
If you can trust yourself
when all men doubt you
Yours is the Earth and
everything that's in it. »
Rudyard Kipling (1895)
Há vários anos quando o Governador do Banco de Portugal aplicou a
extrema-unção ao universo Espírito Santo, um coro de anjos celestiais e querubins
entoou cânticos de louvor pelo fim de um pesadelo que ensombrava a estabilidade
financeira e ia contra o então propalado interesse público. Muita tinta já foi
derramada sobre o assunto, muito ainda há-de preencher manchetes de jornal e
livros, mas um facto é indesmentível: o Fundo de Resolução, neste momento, não está
dotado dos meios financeiros para recapitalizar o Novo Banco (destroço do
antigo conglomerado financeiro) face aos prejuízos que se advinham no fecho de
contas de 2017. Resta somente o apoio estatal já previsto no acordo-quadro. Mesmo
não carecendo de financiamento externo (recurso aos mercados), só um idiota não
acreditaria que isso não tem impacto na dívida pública.
O aftermath da resolução não é culpa do actual Governo, mas
convenhamos, no fim são alguns milhões que seriam utilizados de forma bem mais interessante
para o País, por exemplo, na diminuição da dívida pública que em termos nominais,
não pára de aumentar
(Foto: Doug Churchill)
«Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça
e a ferrugem
corroem e onde ladrões escavam e roubam mas ajuntai
para vós tesouros no céu,
onde nem traça nem ferrugem corroem e onde ladrões não
minam nem roubam:
Para onde está o teu tesouro, aí estará o seu coração
também.»
Mateus 6
…
subir ao Monte Tabor é relativamente fácil, já entender o conceito está apenas
ao alcance daqueles que conseguirem libertar-se de todas as amarras.