A era em que caminhamos sem nos
aperceber (ou quase conscientes do limbo) alimenta-se de uma realidade parcial,
um pseudo-mundo que nos impõem, para o qual somos convidados a contemplar e
tecer encómios pelo espetáculo que nos proporcionam.
Vivemos e respiramos imagens a
uma velocidade impossível, somos bombardeados com a informação e desinformação de
tal forma que, num abrir e fechar de olhos o passado está aqui na berma do precipício
e o que o futuro nos apresenta é uma mão cheia de trivialidades, de nada.
A realidade é tão efémera como a sombra
numa árvore num dia de céu azul metálico. Entender o nexo de realidade de todos
os eventos de um ano, que fluem desligados e se fundem na mais perfeita harmonia
é quase como tentar entender uma pintura surrealista com o primeiro olhar.
Seria necessário, tempo para contemplar e respirar tudo, e isso esgota-se no
tempo de escrever meia dúzia de linhas. Fica para amanhã.
O fim de ano é disso um belo exemplo. Um espectáculo
que cruza e mistura, para alguns, o desapontamento do ano que agora finda e a
esperança que o próximo seja exactamente aquilo que foi mediatizado na
imaginação há um ano atrás: No intervalo entre o pequeno-almoço e a meia-noite vivemos,
conscientes, na mais perfeita alienação. O verdadeiro transforma-se no surreal.
Amanhã é apenas a continuação de
há um ano, e nada mais do que isso.
...até já.