É cada vez mais difícil saber distinguir a verdade da
mentira para quem consulta das redes sociais ou mesmo os media, seja em versão,
jornal pendurado no quiosque de rua ou na mais ecológica página online, sempre
actualizada. Não que as notícias tenham um qualquer delay por falta de tinta na
rotativa do portal na net website, mas porque atravessamos um tempo em que os media,
começam a deixar de cumprir a sua função neutral no espectro das operações
sociais, e estão cada vez mais reféns de uma lógica que se esgota naquilo que o
consumidor quer ler ou precisa de ler.
Apesar de estarmos ainda longe da distopia orwelliana
do ‘1984’, o grande inquisidor, o pai que nos protege já espreita, ainda que
mascarado por coisa tão fúteis como audiências, pressões políticas ou a
necessidade de garantir dividendos do accionista.
Paulatinamente caminhamos, cegos, para uma racionalidade
acéfala em que a liberdade de imprensa perde significado e terreno. Com isso, a
nossa forma de interagir em sociedade, de manifestar auto-crítica, de cumprir a
cidadania esvai-se perante a imposição de um novo normal, o facto verosímil. A
realidade perde todo o sentido, quando o espaço público é manipulado e
instrumentalizado. Perdemos a noção da realidade, mas ganhamos a ilusão como
agentes passivos, indiferentes, sem tempo para questionar, sem direito, muitas
vezes ao contraditório.
Se é esta a revolução digital, da comunicação, da
informação e da cultura das apps, da IoT, em que a cultura de massas prevalece,
em que a crítica se desmorona face à ideologia do que deve ser correcto,
polidamente asséptico, em que a independência se transforma num fantoche
articulado , então regressemos às velhas rotativas do séc.XX, pois não é este o
caminho que devemos trilhar.
A beleza da utopia começa a ser ocupada pela artificialidade
da distopia.
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