... a democracia não
está uns segundos mais próxima da órbita do perigo só pelo facto de deixarmos de
ter os debates quinzenais na AR. Pelo contrário, basta ter estado atento ao
último para entender que o modelo foi erodido com o tempo e deixou de fazer qualquer
sentido. Num aspecto quer PSD quer o PS têm razão: é mesmo necessário preservar
o que resta da dignidade da AR perante a opinião pública.
O cerne do problema
talvez seja outro: a asfixia em termos de qualidade dos tribunos que elegemos. Talvez
tenha sido um azar temporal ter acompanhado desde muito novo, grandes debates,
antes e depois dos governos do Prof. Cavaco Silva (paladino da representatividade
da AR; com uma pitada de ironia). Não vale a pena elencar nomes de ilustres
oradores que por lá passaram, pois, a história já se encarregou de os colocar na
prateleira respectiva -vulgo arquivo histórico, em zona com temperatura e
humidade controladas.
Para quem
gosta de cantares ao desafio e lutas de galos, o modelo actual assentava que
nem uma luva, ainda que por vezes tenha resvalado para o lado do romance como
foi o pretérito. O
tempora! O mores!
Mais do que o
escrutínio - essa palavra tão amada, mas que depressa se tornou vaga, os
debates quinzenais raramente confluem em algo palpável ou útil para os eleitos,
tendo-se tornado de forma abusiva – maxima culpa – uma coreografia de soundbytes
e jingles de noticiário para deleite de comentadores.
Talvez fosse hora dos
senhores deputados fazerem um acto de contrição pelo mau desempenho, e quiçá
talvez um dia descubram que o problema do modelo não era o facto de obrigarem o
PM e restante executivo, a maçada de se deslocarem ao hemiciclo para serem
confrontados com uma rajada de questões (todas elas eminentemente cruciais para
o destino da Nação), mas o simples facto de as respostas , raramente terem o
nível que se exigia comme il faut e no final do debate juntos, se
encaminharem para um merecido repasto, como se nada se tivesse passado. Quando
a argumentação é má, o esforço da contra-argumentação será inevitavelmente mínimo
- a pegada ecológica agradece.
Para os autos ficam alguns
debates (poucos) desde que o José Seguro teve a idiota ideia (com o devido
remoque para o senhor PM) de os acrescentar ao regimento. Aguardamos com
redobrada expectativa os (co)mensais sectoriais para calibrar de novo a qualidade
da ementa parlamentar.