Não sei se já se ocuparam em desvendar o enigma do calendário de 1969, mas é em todo invulgarmente semelhante ao novo ano que agora anda por deambula. Pode-se afirmar que será inútil ir a correr comprar uma agenda de 2025, se podemos recuperar aquela agenda amarelecidade no sotão das recordações perdidas. 69, esse singular ano, cujo Maio que floresceu em 68 no Quartier Latin, chega a Portugal com um ténue aroma a liberdade ianda poética que contrastava com uma dita primavera marcelista - um prado de flores, um jardim sem cor).
Talvez seja isso mesmo que nos falta para sermos felizes, uma espécie de primavera que se propague , como um vírus, sem necessidade de máscaras, isolamentos, muros intransponíveis que nos cerquem a mente e nos toldem os sentimentos. Uma primavera em que todas as cores são únicas e nunhuma se destaque, amarela, rosa, branca, negra, azul, castanha. Um jardim bemformoso.
Porventura, o que nos falta para começarmos a ser felizes, é tentar ocupar as horas destes dias
que por agora crescem, como vagabundos à procura de novas estórias, sentado à
porta de uma livraria, rebuscando páginas de livros à procura desta ou daquela
frase épica. E se conseguíssemos erigir cidades de parágrafos, multidões de páginas,
de modo a preencher esses jardins mitológico que sonhamos para a Babilónia?
Talvez kronos
nos fantasiasse um novo tempo que nos deixasse absortos e contemplativos,
perante o silêncio e a imensidão bela, dessa palavra elementar chamada paz.
É desta forma que sentados à sombra duma árvore chamada esperança, ainda interrogativos, vemos passar estas horas iniciais ,com uma inútil precaução que este novo tempo seja bem melhor do que a montanha-russa de desespero que foi o antigo testamento que os antigos nos deixaram em herança.
Sonhar por um mundo melhor, será como passar além do Rubicão?