O texto seguinte não é aconselhado a Pessoas de Bem ou gente que por influência ou efeito de manada, preferiram silenciar as convicções políticas até aqui defendias e resolveram sair do armário da vergonha onde nunca se sentiram confortáveis.
É um ponto assente que as
atitudes face à imigração podem influenciar políticas concretas e que a
ausência de dados mais finos limita sobremaneira,
a capacidade de desenhar políticas equilibradas. É unânime que existem fragilidades
que vêm à tona, logo de seguida: mecanismos explicativos pouco claros; a
distância entre preferências dos eleitores e as posições dos decisores
políticos, e a necessidade de investigar melhor como as atitudes e os anseios se
traduzem em legislação e reformas (?) políticas. A bibliografia mais recente sobre
a temática dos tais fluxos (invasão) migraratórios diz-nos que:
- As mulheres, em média, veem imigrantes de fora da
UE de forma mais humanitária e associada a valores de solidariedade e
direitos humanos, enquanto tendem a encarar imigrantes da EU, sobretudo
como concorrência económica, o que as torna mais negativas em relação à
livre circulação interna (i.e., Espaço Schengen).
- As atitudes face à imigração não são neutras: podem
influenciar a forma como a UE regula o asilo, a mobilidade laboral e o
próprio processo de alargamento, sobretudo aos países mais a leste.
- A limitações de dados (falta de informação sobre
motivos da migração ou país de origem) devia ser complementada com uma
investigação mais apurada e melhores mecanismos de controlo, dada uma aparente
disrupção que cresce existe entre percepção da opinião pública face à
avalanche de informação/desinformação e as políticas adoptadas.
As correntes de esquerda na
Europa, com um forte pendor humanista, têm defendido a solidariedade internacional, a
proteção de refugiados, os direitos laborais dos migrantes e a visão da
imigração como parte da luta por direitos sociais universais. Quando, tal como sucede
em Portugal, quando a esquerda cede ao
enquadramento da extrema‑direita e a normalização imposta por alguns partidos
liberais de centro-direita, e que desavergonhadamente, aceitam
a imigração como um “problema” (“ameaça” seria uma afronta à própria matriz fundadora)
antes de mais económico e cultural, a racionalidade abdica do seu próprio terreno ideológico: o da
igualdade, da liberdade de circulação e da cidadania social inclusiva.
Este desvio tem dois efeitos
perigosos, que já ocorreram ao longo do séc. XX e que conduziram a dois
conflitos mundiais (prova provada que a água por vezes passa mais do que uma vez!):
- Normaliza as categorias e os fantasmas da extrema‑direita, tornando aceitável falar
de “invasão”, “ameaça à identidade” ou “imigrantes bons vs maus”, o
que desumaniza pessoas e legitima políticas mais duras.
- Enfraquece e em última análise, auto-destrói a
capacidade dos partidos liberais se diferenciarem das teses ignóbeis da
extrema-direita: se o eleitorado vê pouco contraste entre o discurso humanista
e supostamente cristão da direita radical, tende a optar pelo “original”
(extrema‑direita) e não pela “cópia”.
Isto não é uma hipótese académica
nem um teorema, é uma constatação e sucedeu, com a ascensão da ideologia
fascista na europa no decurso do séc. XX. O que assistimos actualmente, é tão
somente o renascer desse monstro, mas agora numa versão mais fofa e modernizada.
Amén à realidade alternativa e à pós-verdade.
Não vou elencar os benefícios da emigração (a História de Portugal é um corolário de migração) no contexto sócio -económico actual mas vu só referir en passant três situações que ilustram de forma clarividente os falsos benefícios dessa nova moda trendy que a extrema-direita conseguiu inocular na sociedade ocidental: alguém me explique os benefícios do Brexit, da dureza retórica dos governos de direita em Itália. A Hungria ainda é uma democracia ?
Provavelmente a culpa é deles: os emigrantes.