31/05/2008

...depois da tempestade

...e a chuva que não nos larga! Este Maio é um choro prolongado, um surdina muda que se esvai perante o lamento dos homens que moldam a terra, os pescadores que nos trazem o fruto do mar! Quando tudo se conjugava para um ano agrícola de feição, são as cerejas que desesperam na Cova da Beira, os trigos que definham perante o peso das lágrimas do céu, os barcos que teimam em não sair da barra!

Hoje fui dar uma volta pelo Ribatejo. Arrozais e mais arrozais é o que se vê! e ainda bem pois neste país já há muito se esqueceu o que é produzir para comer. A terra merece mais respeito. É curioso, pois, há falta de peixe nas lotas, muitos optam por assentar arraiais nas margens dos canais de rega e nas valas de drenagem da lezíria...nem lá têm descanso. Agora que a chuva parece dar tréguas e a seara volta luzir, seria bom que a bonança se estende-se à praia para o pescador puder partir...


Eu vejo esses peixes e vou de coração
Eu vejo essas matas e vou de coração à natureza
Telas falam colorido de crianças coloridas
De um gênio televisor
E no ardor de nossos novos santos
O sinal de velhos tempos
Morte, morte, morte ao amor
Eles não falam do mar e dos peixes
Nem deixam ver a moça, pura canção
Nem ver nascer a flor, nem ver nascer o sol
E eu apenas sou um a mais, um a mais
A falar dessa dor, a nossa dor
Desenhando nessas pedras
Tenho em mim todas as cores
Quando falo coisas reais
E no silêncio dessa natureza
Eu que amo meus amigos
Livre, quero poder dizer
Eu vejo esses peixes e dou de coração

Milton Nascimento



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