...tal como sucedera no ano transacto estava um calor infernal, mas nada que demovesse o passeio (em teleférico, está claro) até ao alto da Senhora da Penha...apesar das vertigens! Depois de um excelente bacalhau servido com um não menos requintado tinto alentejano no restaurante lá no alto e com uma vista priveligiada sobre a cidade berço, na próxima paragem aguardava-nos uma pequena viagem no tempo até à arte do séc. XIV e de algumas descobertas que estão a ser desvendadas. Deleitei-me com a arte sacra mas sobretudo com o trabalho que ainda hoje se produz. A leitura de alguns registos bafientos dos primeiros anos da nossa portugalidade permitiram desvendar alguns segredos que estavam meticulosamente ocultados. Trabalho de detectives do património, que com o pincel, e com muita paciência destapam o livro da história da cidade de Guimarães. Não é todos os dias que se podem ver relíquias escondidas pelo tempo e que à custa da astúcia de alguns monges ficaram a salvo do saque dos exércitos do general Junot.
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O sobrante da tarde, foi um passeio pelas ruas medievais de Guimarães e o inevitável fino na esplanada que o calor a isso obriga. Enquanto, folheava o livro da história em cada janela e em cada canto da cidade, em cada loja, senti os acordes da guitarra portuguesa do barbeiro de Guimarães [qual barbeiro de Sevilha !], o cheiro do couro trabalhado na loja de sapatos feitos à mãe, das cavacas cujo cheiro saia da padaria, mas enquanto cada poro suava as estopinhas e a sede secava ao som da água de cevada, os santos descansavam no seu prosaico sono celestial embebidos pela beleza da talha dourada e a luminosidade que o vitrais ofereciam aos frescos da igreja. Afinal os santos também dorme...e a nós ainda nos espera um longo caminho de regresso ao presente.
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