Quando metade da actividade
jornalística da semana versou o mistério em redor do almoço entre o ministro
dos affairs estrangeiros e o inseguro
líder dos trabalhistas português, fico bastante mais preocupado quando passados
três dias os sacos de lixo dos almoços e lanches ajantarados de alguns turistas
de ocasião se acumulam na estrada que abraça a serenidade da albufeira aqui
mesmo ao lado. Como se não bastasse os caixotes do lixo servirem de mera
decoração urbana [pobre turista não possui instrução nem traquejo para saber
como se operam!], sou confrontado com um giro pouco regular dos serviços de
recolha de monos e derivados plastificados. A thin blue line entre a cidadania e a porcaria consome a paisagem de
uma forma abusivamente chocante, isso e a passividade das autoridades policiais
perante a utilização abusiva de motos de água e embarcações a motor na albufeira.
Na estrada da Atafona isso não se passava.
“In every person there was a king”
A Zita Seabra fazendo uso do epíteto da silly season, surge agora quase três
décadas depois com a ideia miraculosa de que o país era vilmente espiado pelo ártico ar da FNAC. Por momentos tremi, pois utilizo a FNAC para confidenciar o
meu amor pela literatura e adoptei as ruas apertadas e alcatifadas como
santuário para adorar e namoriscar aqueles maços de folhas perfumadas. Todavia
ao perscrutar com maior acuidade a notícia, as entrelinhas revelaram algo mais
pernicioso: afinal eram uma marca de A/C que ornamentavam os varandins e
fachadas das nossas torres de betão nos idos anos 80 do século passado. Não fazia
a mais pálida ideia que, juntamente com o Avante e a Vida Soviética, a FNAC
fazia parte do politburo de publicações socialistas progressistas.
Na estrada
Atafona as árvores fazem sombra todo o ano, o calor simplesmente não apertava.
O simples facto de imaginar um
comunista atento e alerta em cada aparelho causa-me algumas angústias
indisfarçáveis. Não bastava o recalcamento de infância, ainda legado do Estado
Novo, que os comunistas comiam crianças ao pequeno-almoço e agora mais este delirium tremens- comiam e espiavam ao
sabor das cálidas tarde de verão.
Infelizmente nunca tive um
comunista destes em casa e confesso que muita falta me fez. Seria deveras
interessante ofertar ao camarada Jerónimo, reconhecido produtor de manchas de
suor, um destes aparelhos. Já reparam na admirável estoicidade com que ostenta
os seus fluídos durante as suas intermináveis intervenções de pé nos comícios
escaldantes naqueles pequenos recintos fechados (ora na Voz do Operário, ora na
Baixa da Banheira) ou nas intervenções mais acaloradas no último dia da Festa
do Avante? Tenho na minha ideia que haverá por aí muito camarada disposto a
martirizar-se uma ou duas tardes para refrescar o Secretário-geral desse
infernal calor vermelho que lhe desperta a sudoração.
Isso e umas cadeirinhas para os restantes membros do comité caviar, pois essa
coisa de estar em pé de braços cruzados com ar sério durante 1 hora seguida é
obra quase tão diabólica como partir pedra no gulag. Na estrada da Atafona, não havia ares condicionados, apenas
vacas que pastavam na bonomia dos verdes prados verdejantes, passe a
redundância.
“Big Brother is watching You”
Ao cuidado da Zita: o promotor da fábrica de painéis solares de Abrantes [agora
mais um elefante branco de desinteresse nacional) é um mesmo barão-vermelho que
presumivelmente esteve ligado à falência da FNAC. Talvez seja interessante
investigar possíveis escutas a partir do telhado e não nas varandas.
Ainda
no capítulo gestão do risco: o projecto para o Alqueva, que iria reformular
toda a arquitectura da placidez da paisagem alentejana, secou na origem. Não se
sabe se foi pelos excelentes acessos providenciados pela A6, ou pela
proximidade do aeroporto internacional de Beja, mas o certo é que os bancos
nacionais já não fazem bicha à porta da Herdade do Esporão. Um caso a rever
pela nossa ministra da agricultura e seu colega da economia. Como é possível
secar a torneira da CGD mesmo ao lado da maior “banheira” do país? Na estrada
da Atafona, vendem-se banheiras.
Eu se
fosse a Paula Rego, encaixotava o acervo de 500 quadros que estão expostos na
Casa das Estórias e empacotava tudo para uma qualquer galeria de Nothing Hill ou simplesmente as exibia no Speakers' Corner. Talvez
os súbditos de Sua Majestade tenham um pouco mais reconhecimento que os biltres
das Finanças! Ao cuidado do manifestamente silencioso secretário da cultura [que
não se tem visto nem ouvido sobre esta e outras preciosidades]. Estou certo que
aquele senhor que pendurou a roupa numa rua de Guimarães teve maior acolhimento
por parte da intelligentzia cultural do nosso governo? Na estrada da Atafona,
há uma loja de móveis e uma oficina., também têm a sua arte.
Submarinos. Este neue não-assunto
de tem algumas dissemelhanças com a popular rábula dos Gatos Fedorentos “o
papel, qual papel? o papel, qual papel?”. Eu pensava que que a silly season era um pouco mais prolífera
em matéria de criatividade e esta coisa de barcos que andam debaixo de água ao
sabor da voracidade com que o ministro do affairs tira fotocópias. Não é
preciso fazer um grande equação imaginativa para entender que este exercício já
foi chão que deu uvas em matéria de gossip
politic .Mas já que insistem na buzzword. Na estrada da Atafona não há
submarinos, só vacas a pastar.
Na estrada da Atafona, o tempo
parou numa tarde ensonada. A outrora entrada da vila, é apenas uma memória
esquecida no tempo. Os carros pouco se vêem ou ouvem, mas o sol brilha da mesma
forma e as folhas caiem tal e qual como no Outono. Na estrada da Atafona há
menos gente do que na Manta Rota, mas em compensação há vacas.
Quando ouvi a frase profana do D. Januário Torgal Ferreira “Há jogos atrás da cortina, habilidades e
corrupção. Este Governo é profundamente corrupto nestas atitudes a que estamos
a assistir”, senti um leve toque de Behind
the green door. Gosto mais da “Maratona do Amor cujo desafio foi colocado
ontem na Cova de Iria. É um pouco mais horny!
Alguém sabe o que é o RERT III (Regime
Excepcional de Regularização Tributária)? Ainda bem, é uma espécie de
nata “Monte Banco” que permite refrescar 3,5 mil M€ que foram depositados fora
de Portugal (leia-se, sobretudo na Suíça) através de regime especial de
amnistia soft cream. Deste modo,
enquanto o vulgar banhista da penela de feijoada e garrafão de vinho ao
estender a toalha na praia da Manta Rota, paga à cabeça sem qualquer pejo uns
meros trinta a quarenta e tostões percentuais, e não tem direito à bola de
Berlim que a ASAE não gosta nem ao topping,
ali na esplanada da malta do colarinho branco, paga-se apenas 7,5% e ainda por
cima oferecem tremoços de bigode e finos. Les portugais sont toujours gais!
Na estrada da Atafona é que se
estava bem, hoje está a chover lá. Mas as vacas continuam a pastorear.
Alguém viu por aí o Relvas?
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