“Para conhecer as coisas, há que dar-lhes a volta, dar-lhes a volta toda.”
José Saramago
Estava a necessitar de um
argumento para o meu momento carta do Guilherme à Selecção e eis que o camarada
Saramago me abre outra perspectiva.
Gossip:
Também eu norteei a minha vida
pela procura incessante do conhecimento, ainda que com resultados
diametralmente opostos. Depois de digerir todas as notícias e não assuntos que
esta semana escalpelizaram o caso não Relvas, cheguei à conclusão que o senhor
de facto está inocente. O doutor [esse!] está ferido de morte e tem muito que
explicar, ou melhor o outro colega do avental é que nos poderá elucidar um
pouco mais sobre essa estória de “diabinhos negros”.
Depois de tentar desatar o
nó górdio de relações bizarras que manteve e mantém, chego à infeliz conclusão
que temos aqui enredo para o mestre David Lynch [um novo Twin Peaks?] ou dependo das personagens para o John
le Carré [uma sequela do Alfaiate do Panamá?]. É o que se chama uma personalidade multifacetada!
Não vou acrescentar muito mais à vontade
expressa pelo camarada Jardim sobre as suas pretensões a novas equivalências
académicas, pois o elogio fúnebre que acabou por fazer ao ministro em questão, foram
uma espécie do beijo da mulher-aranha. Por outras palavras um excelente epitáfio político, após uma manobra de heimlich
bem à sua medida.
Em sintonia com as declarações prestadas pelo Marques Mendes e o Professor Marcelo, quero prestar aqui a minha solidariedade com Fiel Jardineiro [está é só para quem viu o filme!].
Internal affairs:
Adoro as PPP, o nome claro não o conceito per si. Talvez se a negociação dos
pagamentos certos e permanentes das PPP não tivessem sido adiada para a as
calendas não andássemos com a calculadora a adivinhar qual a taxa sobre o 13º
mês.
No sector da energia, também não deixa de ser caricato o próprio
Secretário de Estado a recear que a tão afamada e badalada liberalização do
mercado implique um aumenta os preços e não uma baixa considerável como é
pregão e ideologia do Governo.
My name is Bond, Eurobond:
Quando me acerco da janela
juntamente com as pupilas do Júlio Dinis para me banhar com o sol que nasce
para todos, oiço o Governo Irlandês a clamar ao BCE e o EuroGrupo por uma nova
negociação. Aqui ao lado, um pouco mais acima do buraco onde me encontro, o Sr.
Rajoy envolto numa falsa neblina fala às massas numa prosa de enganos para o
adiamento do compromisso do défice da monarquia. Na assistência os mineiros das
Astúrias e todos os ludibriados assistem com palmas de revolta ao início do excelente
negócio sem contrapartidas do empréstimo ao Reino de Castela (o rei numa
tentativa de apagar as caçadas em África, acabou por auto infligir-se com uma
redução de 7% da jorna). Lá na outra Europa, , o nosso ministro com o nome do
“gato” do deputado Honório Novo, lança mais uma pausada prelecção insidiosa aos
jornalistas:
“(…) fala-se de favorecer o
processo de ajustamento. É a forma de palavras que é usada. Melhorar e
favorecer parecem-me de facto os termos que podemos usar.”
Quem conseguir resolver mais este
teorema lançado pelo nosso ministro, pode-se candidatar a uma vaga na próxima
remodelação. Fazem-se apostas!
E que tal se os bancos baixassem
os juros do empréstimo? Afinal de contas, no meu gráfico de EURIBOR, a taxa cobrada
pelo BCE não é nem 6 nem muito menos 7%? Então para onde anda esse diferencial?
Não me digam que todos os créditos da banca são insolventes e que os pobres dos
senhores do capital coleccionam comendadores insolventes e ex-governantes
corruptos como clientes? Não me digam que é para pagar os 9 000 M€ de juros da
dívida pública?
Mirror, mirror on the wall:
Esta semana também li que o Sr.
Gaspar enganou-se [ah! o Sr. Gaspar, nos meus tempos de menino bem comportado,
fazia contas no papel pardo e cantava o somatório do trigo e do quadradinho de
chocolate Avianense que fazia as delícias de qualquer garoto de aldeia!], ou
melhor, anda a enganar-se a si próprio. Então não disse que podia poupar
dinheiro através de uma negociação dos juros da dívida pública? Exactamente o
contrário da doutrina defendida desde que começou a falar pausadamente. Faça
favor de fazer a prova dos nove às declarações que tem proferido, tenha calma,
não se precipite.
Mas afinal de contas, ou na falta
delas, quid sabe ou quid controla a dívida pública? Ora vejamos o resumo dos
últimos meses:
1.
- 1 As PPP não são renegociadas ou os valores diminuídos por causa dos interesses financeiros e da escabrosa promiscuidade entre os governantes e os concessionários. Basta ter estado atento à reportagem que deu esta semana sobre alguns dos ex-ministros de anteriores governos [independentemente da cor das meias!]. Não me digam que estão a dar aulas e andam de autocarro. Nem vale a pena colocar aqui os nomes das empresas em que são administradores executivos, não executivos, com ou sem chauffeur.
- 2. Digam-me lá três exemplos de países desenvolvidos onde os contractos de PPP sejam feitos pelos escritórios de advogados das próprias concessionárias? Vá, puxem pela imaginação!
- 3. A título de exemplo devidamente sublimado, as parcerias das PPP vão ser renegociados pelos mesmos escritórios de advogados que transferiram o risco dos concessionários para o Estado. Coincidências!
Os contractos não podem ser
renegociados?!O governo não prometeu cortar nas parcerias? Então façam-no!
Talvez seja bastante mais fácil do que imaginam. Como é que se transfere o risco na
totalidade para o sector público e garante-se com dolo, o filet mignon en croûte aux champignons para os privados. Se houve
celeridade nos cortes na Função Pública e na promulgação do abusivo Código do
Trabalho, estranha-se a morosidade quando se trata de incidir sobre o outro
lado da moeda [isto já parece o discurso cassete do politburo da Soeiro Pereira
Gomes].
Fiesta brava:
Por falar em Soeiro Pereira
Gomes, o juiz presidente do TC deu uma rara entrevista intimista à Maria Flor
Pedroso, e revelou uma faceta estilo “forças de bloqueio”, inaudita e assaz
curiosa. Talvez o senhor dos Passos tenha alguma razão, pois estranha-se o
facto de pela primeira vez desde há já algum tempo, alguém sair do palácio
Ratton para uma faena política, isto sem o consentimento da autarquia de Viana,
fiel depositária da virtude da tradição taurina.
Last famous words:
Apetecia-me dizer mais qualquer
coisa…mas acho que para a sanidade mental de muito com especial ênfase para a
minha inteligência como contribuinte, por agora chega. Assuntos e não assuntos
não devem faltar agora que se iniciam as hostilidades da silly season!
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