11/11/2012

...por favor fechem as torneiras


“O que é que tu queres pá?” terá sido a resposta do Relvas ao cartaz do “Benvindo Dr. Relvas”. Mas antes de certeza absoluta que houve mais mimos entre entre o jornalista os guarda-fatos que acompanham o ministro. Ainda não foi desta que o Relvas se martirizou perante a opinião pública. Mas tenho a certeza que mais cedo ou mais tarde, o dito senhor vai ter o seu momento Marinha Grande, ainda que com a quantidade de armários que acompanham cada dignatário neste momento no país, é mais fácil o Sporting ganhar um jogo do que a ministra da Agricultura levar com uma Apfelstrudel na cara.

Por falar em culinária alemã, a mail alta magistrada do nosso país, vem a Portugal. Da minha parte só lhe desejo uma boa estadia, que possa saborear os nossos saborosos Pastéis de Belém, que coloque umas flores no túmulo do nosso poeta maior, e que lhe seja presenteado um faustoso cozido à portuguesa para melhor digerir a viagem de regresso. Nada me move contra a senhora, já contra aquilo que defende e o facto de não ter a memória histórica, isso sim aflige-me. Talvez tenha chegada a hora dessa senhora e os seus lacaios olharem um pouco para a história do período pós II Guerra Mundial e observar bem quem ajudou a reconstruir o que restava do III Reich. Talvez tenha algumas surpresas desagradáveis. Muito, mas mesmo muito mais haveria para escrever, mas estamos em época de austeridade e é melhor poupar na tinta. Fico-me apenas com este número: cerca de 20% da mão-de-obra alemã vive numa precariedade triste, e o milagre alemão é uma ilusão tão grande como as estatísticas económicas chinesas. A médio-longo prazo cá estaremos, honradamente sentados num sofá roto com as molas a entrarem na alma, para ver o resultado da usura alemã na Europa.

O BE escolhe este fim-de-semana, uma estrutura bicéfala para dirigir o partido nos próximos combates políticos. Apesar dos princeps senatus merecerem o meu mais profundo respeito, tenho receio que esta solução não passe de uma recriação entre tetrarquia romana e a actual situação da União Europeia. CAda cabeça sua sentença. Nesta Europa supostamente liderada por um senhor que pouco ou nada adianta  - o senhor Van Rompuy (pars Orientis) -  e uma baronesa que ninguém conhece ou que simplesmente foi obliterada pelo mediatismo da chanceler -  a senhora Catherine Margaret Ashton (pars Occidentis) - nada, mesmo nada nos permite repousar. De facto, faltam-os "políticos gordos", referências. Com se não bastasse, ainda ainda sobram figuras ainda menores, como é o caso do Sr. Barroso (o emigrante português mais envergonhado de o ser), ou o Sr. Martin Schulz. Que Europa é esta? 

Eu gostei do que a Isabel Jonet tentou transmitir, exceptuando 80% do que disse. Digamos que que a essência está correcta, mas a abordagem que utilizou foi quiçá ingénua.  Receio que os ataques que ela semeou por motu proprio, tenham uma final infeliz. Há uma passagem da Bíblia que recomendo a leitura, para todos aqueles que movidos pelo frenesim e o soundbyte causado pelas declarações da Jonet, queiram ou pretendam atacar a obra do Banco Alimentar Contra a Fome ou mesmo a Cáritas:

“Quando, pois, deres esmola, não permitas que toquem a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa.” (Mt 6, 2)
Quando vi o Sr. Passos a convidar o Sr. Seguro para um chá dançante, em que o tema era o corte já estabelecido de 4000 M€ acordado no road map definido na 5ª avaliação, senti uma espécie de aperto na gargantilha. Assemelha-se um pouco aqueles casamentos pré-agendados em que a noiva vai ter que se abrir mesmo contra vontade. Há convites mais envenenados. Depois de meses a fio em que toda a oposição foi ignorada, os parceiros sociais subalternizados, e numa altura de visível ausência de autoridade política, talvez seja demasiado tarde para lançar uma tábua de salvação neste bote de náufragos. O mal está feito, e é incrível que nem o próprio ministro da Fazenda acredite no Orçamento que apresenta.

Relativamente à constitucionalidade do OE2013 não me vou pronunciar antes de o analisar. Não sou pressionável e quando lavo os dentes fecho a torneira.

Nota de rodapé: A Isabel Jonet disse que viu nas ruas de Atenas aquilo que ainda não tinha visto em Portugal. Pois bem, convido-a a sair do gabinete e ver o país como os próprios olhos....

01/11/2012

...mortal combat




Nunca a palavra refundar teve tanto holofote e motivou tanta preocupação. Provavelmente é uma daquelas palavras do dicionário que estariam à partida condenadas ao esquecimento, mas de repente, saltaram para a ribalta dos processadores de texto. Julgo que na minha curta existência enquanto cozinheiro de letras & ideias, nunca me tinha passado pela imaginação, escrever uma frase que fosse sobre conceito tão vasto e tão vago. Mas como o outro disse um dia, “..é uma oportunidade para mudar de vida”.

A princípio não liguei muito ao conceito em si “refundar o memorando de entendimento com a troika”, e cai na tentação de presumir que os doutos que se sentam na cadeira do poder iriam emendar o erro colossal em que insistiram no último ano. Mas não. Num país, onde os deputados da Nação saem sobre escolta policial do púlpito máximo da democracia, em que o poder de mobilização de quem Governa, é escasso ou nulo. Já não há nada a temer, já não há nada que esperar.

Durante anos, fomos bombardeados com uma cantilena de nutricionista arvorando pretensa gorduras do Estado que seriam eliminadas, reformas estruturais que mais não fizeram senão destruturar ainda mais o Estado e o país.

Esta fábula das reuniões, dos apelos ao PS (antes carrasco da Nação, agora travestido de salvador-mor da pátria) para um entendimento alargado faz-me recordar aqueles casos de violência doméstica, em que a mulher depois de anos de porrada do marido, volta aos seus braços, até à próxima nódoa negra.

Chegamos ao zénite da questão: chegou o momento de ver qual a fibra que a uns demove e os outros oprime. Até agora foram flores, a partir de agora começa uma luta sem quartel. Depois disto, nada será como dantes. Uns ficarão pelo caminho, outros nem chegarão a vê-lo. Chegou a hora de ver se o povo é sereno.

Por aqui ficamos atentos ao desenrolar da estória do melhor povo do mundo…enquanto não mudamos de vida.