Nunca a palavra refundar teve tanto holofote e motivou tanta
preocupação. Provavelmente é uma daquelas palavras do dicionário que estariam à
partida condenadas ao esquecimento, mas de repente, saltaram para a ribalta dos
processadores de texto. Julgo que na minha curta existência enquanto cozinheiro
de letras & ideias, nunca me tinha passado pela imaginação, escrever uma frase
que fosse sobre conceito tão vasto e tão vago. Mas como o outro disse um dia,
“..é uma oportunidade para mudar de vida”.
A princípio não liguei muito ao conceito em si “refundar o
memorando de entendimento com a troika”, e cai na tentação de presumir que os doutos
que se sentam na cadeira do poder iriam emendar o erro colossal em que
insistiram no último ano. Mas não. Num país, onde os deputados da Nação saem
sobre escolta policial do púlpito máximo da democracia, em que o poder de
mobilização de quem Governa, é escasso ou nulo. Já não há nada a temer, já não
há nada que esperar.
Durante anos, fomos bombardeados com uma cantilena de nutricionista
arvorando pretensa gorduras do Estado que seriam eliminadas, reformas estruturais
que mais não fizeram senão destruturar ainda mais o Estado e o país.
Esta fábula das reuniões, dos apelos ao PS (antes carrasco
da Nação, agora travestido de salvador-mor da pátria) para um entendimento
alargado faz-me recordar aqueles casos de violência doméstica, em que a mulher
depois de anos de porrada do marido, volta aos seus braços, até à próxima nódoa
negra.
Chegamos ao zénite da questão: chegou o momento de ver qual
a fibra que a uns demove e os outros oprime. Até agora foram flores, a partir
de agora começa uma luta sem quartel. Depois disto, nada será como dantes. Uns
ficarão pelo caminho, outros nem chegarão a vê-lo. Chegou a hora de ver se o
povo é sereno.
Por aqui ficamos atentos ao desenrolar da estória do melhor
povo do mundo…enquanto não mudamos de vida.
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