...nada como um Verão quente aqui na Forca, para que os virtuosos políticos da terra possam dar azo à sua
inopinada vontade de abraçar as gentes do povo. Então se acrescentarmos o
singular facto de estarmos em pré-campanha eleitoral, não há redoma de cristal
que os aprisione. Ele é abraços, beijos e sorrisos. Camisa e calça branca
imaculada, a fazer inveja á mais abençoada divindade, que por estas alturas,
também vêm a luz do dia em ritos de profunda e devota fé, essa esquecida
virtude que conjuntamente com a caridade, apenas é relembrada nestas alturas de
grande foguetório. No resto do ano, já se sabe, ou melhor, nem se vislumbra. Mas este ano temos um ingrediente assaz caricato: nada como desconstruir imagem desgastada de um político, com uns passes mágicos de Photoshop.
Por estas alturas aquele caixa que o mundo nos
apresenta pouca ou nenhuma atenção merece. Pode até estar ligada o dia inteiro,
votada ao mais genuíno desprezo, pois a procissão de tolices que boceja não
bate a leitura de um livro, ou um ainda mais salutar serão de conversa entre
família e amigos. Mas ainda assim, dá um certo gosto espreitar a tal podridão
política que alguém apregoou.
Ainda á pouco enquanto divagava o meu olhar na
feira, foi notória a quantidade de bengalas que se começam a ver, em verdadeiro
contraste com os ecos da debandada que se tem observado aqui no interior esquecido.
Todos anos a cantiga é a mesma, mas o testemunho fica aqui cravado na placa de
argila. Numa terra onde é mais importante doar centenas de milhares de euros
para um relvado sintético do clube cá da terra, cujas bancadas em cimento
belicoso hão-de permanecer despidas de emotividade, do que construir
equipamentos que fixem as pessoas, uma sugestão – um centro de dia, por
exemplo! Mas não, o clube da terra cujos feitos passados permanecem
encarcerados numa vitrine de mofo, mas em cuja direcção figuram as mais distintas
sumidades da terra, deve também ele ser um baluarte da política abjecta do
esbanjamento dos dinheiros públicos. Ainda se conjecturou, um pavilhão
polidesportivo de categoria, para ombrear com os vários albergues vazios que
proliferam, por esta terra onde nem as caligae
do Judas se dignaram a ser encontradas, mas isso requeria um esforço financeiro
maior, e além disso não notícia que os velhos que jogam sueca na tasca sejam
promessas para qualquer tipo de desporto mais violento que uma renúncia.
Este país não é para jovens, essa espécie em vias
de extinção ou em vias de saltar borda fora desta imensa jangada de pedra, onde
já nem uma diminuição de 0,7% taxa de desemprego exarada até à exaustão pela
nomenklatura resiliente, parece alegrar ou sequer motivar os fracos acólitos.
Isso e uns sinais promissores sobre a evolução positiva da economia, que aliás
refira-se, parecem ter saído da recessão técnica, mas não nesta valsa triste a
que chamamos crise.
Quando o último fogo se extinguir e a Maria Luísa
se lembrar do conteúdo dos quadros excel da malfadada pasta, logo se verá se
estes sinais do céu não passam de uma brisa de verão ou de uma inopinada
bandeira vermelha na praia da Quarteira. Mas voltemos à feira: se fosse
possível extrapolar pela quantidade e calibre das cebolas que este ano nos são
oferecidas com um pregão e uma grande simpatia, diria que a nossa agricultura
estaria pujante. O problema é que são esses mesmos “velhos a mais”, os parcos
resilientes que ainda animam uma feira, espelho baço do que foi em tempos de
outrora. Em compensação, bonecos made in
China e trapos de proveniência igualmente longínqua não faltam [um parênteses,
para acrescentar aos autos que das 5 fabriquetas de lanifícios que existiam
aqui nos arrabaldes da aldeia, já só restam duas] Não diria que esta
agricultura que alimentou gerações de foragidos deste país esteja moribunda,
talvez congelada no tempo. O mesmo tempo que consome o olhar desgastado dos
velhote que suspiram o tempo ao compasse do toque de finados, na torre da
matriz.
[pausa
para ver aos resultados do fecho da Bolsa de Tóquio]
Sinto
um vazio dos briefings do Pedro Lomba. Eu que me deliciei com os Homens do Presidente, e que acompanhava
os briefings da White House na CNN
com a mesma avidez com que uma dona de casa acompanha a telenovela, anseio pelo
prazer daquele jogo do on e off, do agora a sério agora a brincar
com, uma reencarnação do lápis azul jornalístico que o Urbano e o Saramago tão
bem sabiam ludibriar. Estranhamente ou não estava a ser curioso ver
transformado aqueles episódios efémeros, numa espécie de guilhotina com
execuções públicas na hora, daí o interesse em saber qual seria a próxima
vítima deste nosso Dexter à portuguesa. Que o diga, o último secretário de Estado
que por lá passou e que apesar dos desmentidos, lá confessou que não ter sido
ele o causador do longo sono da Branca de Neve mas tão somente a promoção da
maçã à Bruxa Má- O veneno estava incluído na promoção. Faltou-lhe uma pontinha
da corda do Martim Moniz, para que o acto tivesse um efeito mais mediático.
[por
este caminhar, ainda vamos ter conversas em família ao serão com lobo do Prokofiev?!]
Ainda
não passei na augusta Bracara para ver a estátua da polémica, mas os arautos já
me trouxeram a aziaga nova. Com alguma sorte o Cónego Melo ainda se vai
transformar no Marquês do Pombal dos saudosistas da outra señora
[para
não me acusarem de sinecura aviso já que troco acções a 1 € da SLN pelas minhas
acções fétiche o Banif, aceito pagamentos em cash, não vá a Luísa temê-las!]
Ontem
pareceu-me ver o jovem Seguro gritar no palco de um jantar comício (comícios só
mesmo o do Avante), ainda pensei que também ele tivesse sido arrastado pela
corrente da praia da Luz, mas não. Estava a referir-se a uma tal de política de
verdade, ainda que utilizasse uma tonalidade um pouco agressiva.
[a diferença entre a baixa política e a alta
política é uma faca de dois gumes]
Hoje não falo sobre a educação pois cada vez me
faz lembrar a alegoria sobre a imensidão do universo e a estupidez humana do
Einstein.
E é assim, entre o deve e haver, fico-me pelo
paradoxo do gato do Schrödinger.
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