13/08/2013

...the song that remains


...nada como um Verão quente aqui na Forca, para que os virtuosos políticos da terra possam dar azo à sua inopinada vontade de abraçar as gentes do povo. Então se acrescentarmos o singular facto de estarmos em pré-campanha eleitoral, não há redoma de cristal que os aprisione. Ele é abraços, beijos e sorrisos. Camisa e calça branca imaculada, a fazer inveja á mais abençoada divindade, que por estas alturas, também vêm a luz do dia em ritos de profunda e devota fé, essa esquecida virtude que conjuntamente com a caridade, apenas é relembrada nestas alturas de grande foguetório. No resto do ano, já se sabe, ou melhor, nem se vislumbra. Mas este ano temos um ingrediente assaz caricato: nada como desconstruir  imagem desgastada de um político, com uns passes mágicos de Photoshop. 
Por estas alturas aquele caixa que o mundo nos apresenta pouca ou nenhuma atenção merece. Pode até estar ligada o dia inteiro, votada ao mais genuíno desprezo, pois a procissão de tolices que boceja não bate a leitura de um livro, ou um ainda mais salutar serão de conversa entre família e amigos. Mas ainda assim, dá um certo gosto espreitar a tal podridão política que alguém apregoou.
 
Ainda á pouco enquanto divagava o meu olhar na feira, foi notória a quantidade de bengalas que se começam a ver, em verdadeiro contraste com os ecos da debandada que se tem observado aqui no interior esquecido. Todos anos a cantiga é a mesma, mas o testemunho fica aqui cravado na placa de argila. Numa terra onde é mais importante doar centenas de milhares de euros para um relvado sintético do clube cá da terra, cujas bancadas em cimento belicoso hão-de permanecer despidas de emotividade, do que construir equipamentos que fixem as pessoas, uma sugestão – um centro de dia, por exemplo! Mas não, o clube da terra cujos feitos passados permanecem encarcerados numa vitrine de mofo, mas em cuja direcção figuram as mais distintas sumidades da terra, deve também ele ser um baluarte da política abjecta do esbanjamento dos dinheiros públicos. Ainda se conjecturou, um pavilhão polidesportivo de categoria, para ombrear com os vários albergues vazios que proliferam, por esta terra onde nem as caligae do Judas se dignaram a ser encontradas, mas isso requeria um esforço financeiro maior, e além disso não notícia que os velhos que jogam sueca na tasca sejam promessas para qualquer tipo de desporto mais violento que uma renúncia.
 
Este país não é para jovens, essa espécie em vias de extinção ou em vias de saltar borda fora desta imensa jangada de pedra, onde já nem uma diminuição de 0,7% taxa de desemprego exarada até à exaustão pela nomenklatura resiliente, parece alegrar ou sequer motivar os fracos acólitos. Isso e uns sinais promissores sobre a evolução positiva da economia, que aliás refira-se, parecem ter saído da recessão técnica, mas não nesta valsa triste a que chamamos crise.
 
Quando o último fogo se extinguir e a Maria Luísa se lembrar do conteúdo dos quadros excel da malfadada pasta, logo se verá se estes sinais do céu não passam de uma brisa de verão ou de uma inopinada bandeira vermelha na praia da Quarteira. Mas voltemos à feira: se fosse possível extrapolar pela quantidade e calibre das cebolas que este ano nos são oferecidas com um pregão e uma grande simpatia, diria que a nossa agricultura estaria pujante. O problema é que são esses mesmos “velhos a mais”, os parcos resilientes que ainda animam uma feira, espelho baço do que foi em tempos de outrora. Em compensação, bonecos made in China e trapos de proveniência igualmente longínqua não faltam [um parênteses, para acrescentar aos autos que das 5 fabriquetas de lanifícios que existiam aqui nos arrabaldes da aldeia, já só restam duas] Não diria que esta agricultura que alimentou gerações de foragidos deste país esteja moribunda, talvez congelada no tempo. O mesmo tempo que consome o olhar desgastado dos velhote que suspiram o tempo ao compasse do toque de finados, na torre da matriz.
[pausa para ver aos resultados do fecho da Bolsa de Tóquio]
Sinto um vazio dos briefings do Pedro Lomba. Eu que me deliciei com os Homens do Presidente, e que acompanhava os briefings da White House na CNN com a mesma avidez com que uma dona de casa acompanha a telenovela, anseio pelo prazer daquele jogo do on e off, do agora a sério agora a brincar com, uma reencarnação do lápis azul jornalístico que o Urbano e o Saramago tão bem sabiam ludibriar. Estranhamente ou não estava a ser curioso ver transformado aqueles episódios efémeros, numa espécie de guilhotina com execuções públicas na hora, daí o interesse em saber qual seria a próxima vítima deste nosso Dexter à portuguesa. Que o diga, o último secretário de Estado que por lá passou e que apesar dos desmentidos, lá confessou que não ter sido ele o causador do longo sono da Branca de Neve mas tão somente a promoção da maçã à Bruxa Má- O veneno estava incluído na promoção. Faltou-lhe uma pontinha da corda do Martim Moniz, para que o acto tivesse um efeito mais mediático.
 
[por este caminhar, ainda vamos ter conversas em família ao serão com lobo do Prokofiev?!]
Ainda não passei na augusta Bracara para ver a estátua da polémica, mas os arautos já me trouxeram a aziaga nova. Com alguma sorte o Cónego Melo ainda se vai transformar no Marquês do Pombal dos saudosistas da outra señora
[para não me acusarem de sinecura aviso já que troco acções a 1 € da SLN pelas minhas acções fétiche o Banif, aceito pagamentos em cash, não vá a Luísa temê-las!]
Ontem pareceu-me ver o jovem Seguro gritar no palco de um jantar comício (comícios só mesmo o do Avante), ainda pensei que também ele tivesse sido arrastado pela corrente da praia da Luz, mas não. Estava a referir-se a uma tal de política de verdade, ainda que utilizasse uma tonalidade um pouco agressiva.
[a diferença entre a baixa política e a alta política é uma faca de dois gumes]
Hoje não falo sobre a educação pois cada vez me faz lembrar a alegoria sobre a imensidão do universo e a estupidez humana do Einstein.
E é assim, entre o deve e haver, fico-me pelo paradoxo do gato do Schrödinger.

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