Alguns anacronismos e outras considerações absurdas para
deleite da minha reflexão eleitoral.
Amanhã é dia de eleições mas ao
contrário de outras lutas fratricidas, desta feita estou com sérias dúvidas se
hei-de sucumbir à violoncelista, e embarcar na jangada de pedra que me levará à
urna, ou se hei-de contrariar aquela faceta sarcástica do Saramago e deixar-me
levar na minha jangada de pedra e deixar que o mar decida o meu destino. A
indecisão é a corrosão da razão, mas estou plenamente convicto que no momento
em que sentir a textura daqueles três pedaços de papel, a minha pena se
encarregará de suportar o fardo da minha indecisão.
Estras foram sem dúvidas as
eleições mais tristes que assisti. Não pela actuação primária da CNE que
acordou do seu sono quadrienal, mas pelo facto de muitas das candidaturas que
apareceram por aí não passarem de pura demonstração de um bairrismo bacoco e de
uma profunda e insana demonstração de pobreza de espírito. A certa altura,
senti dificuldades em entender se estava num país dito europeu ou numa pseudo
democracia latino-americana, tal era a ignorância e o conteúdo da mensagem. Ao
contrário do Manchete, a verdadeira podridão não está nas incorrecções
factuais, mas no patamar basal que a política portuguesa atingiu. A degradação
é tal que ameaça tornar-se num endemismo em toda a cadeia trófica.
Hoje, sábado dia 28, a escassas
horas de partir [eu e a minha ink rollerball], escrevo amordaçado com o lápis
azul apontado nesta sala escura e húmida, na perspectiva de assistir na
primeira linha à desagregação do discurso corrosivo e arrogante que nos tem
acalentado o desespero e a revolta. Provavelmente depois das 19:00 assistirei
ao primeiro acto desse novo ensaio para o pessimismo, esse reavivar para o tal
2º resgate (buzzword do momento), que nos vai infernizar ainda mais a nossas
vidinhas condenadas. Mas a linha foi traçada por esses mesmos que amanhã vão
desferir o doubletalk de condenados e
carrascos.
Houvesse por aqui uma passarola e
seriam esses os primeiros a experimentar os ventos do atlântico até parte
incerta. A nós resta-nos a jangada de pedra, o navio do holandês voador, sei
lá, na melhor das hipóteses o poço ou o precipício.
Por um lado sinto o alívio de
voltar à rotina, e poder sentir o pulso da cidade (ou melhor falta dele) sem
aqueles cartazes com ideias vagas e projectos mirabolantes. Já para não referir
a caixa do correio cheia de propaganda autárquica reciclável. Até as árvores
deixaram de chorar folhas, neste princípio de Outono triste e silencioso, como
o nosso PR.
TC. Raro é o dia que os
inquilinos do Ratton não se sintam confortados com uma primeira página do
jornal de transporte público. Houve um tempo em que provavelmente por falta de
expediente ou inépcia partidária, o bar e a sala de fumos deveriam apinhados de
becas com tonalidades a mofo. Actualmente acredito piamente que as pizzas fora
de horas ou sandes da marmita (não as do Sr. Oliveira e Costa & associados)
são os bestsellers do bar do Ratton. É triste dizer isto mas, provavelmente a
única forma de sentirmos algum alívio na nossa carga fiscal é atacar os hunos e
deixarmo-nos de resmas de papel. Há por aí muito boa gente que pode e deve
produzir muitos mais, nem que seja pelo orgulho profissional ou outra virtude
ignorada.
Aparentemente devíamos ter
entrado esta semana no dito mercado [essa personagem enigmática que ninguém
sabe], mas metade da população incluído a coordenadora Catarina, o secretário
(in)Seguro e outros ditosos produtores de soundbytes
esqueceram-se que em tempo oportuno o nosso Gaspar fez uma operação de troca de
Obrigações do Tesouro [eu relembro! 2 de Outubro de 2012], cujo vencimento
seria neste mês, tendo passado para Outubro de 2015. É claro que não são
obrigados a saber isso, mas estou certo que quando alguns deles chegar ao ponto
de sentir o pó nos móveis do Palácio de São Bento, certamente vai ter um exército
de jovens assessores [principescamente pagos] para os alertar para a data no
livro de fiados. Com ou sem entrada nos mercados, fiquemos então por uma
entrada cautelar nas compras online.
Será que a esta hora no telefone
do nosso PM já começaram a chegar as primeiras mensagens das distritais, de
teor sórdido e refinado calão social-democrata? Afinal de contas, foram deles
as palavras de pontapé de saída para o acto eleitoral
«(…)que se lixem as eleições, o
que interessa é Portugal!».
A partir de segunda-feira tudo muda,
a começar pela linha vermelha do Caldas. Volto depois de escalpelizar os
resultados.
Theirs not to reason
why
Theirs but to do and
die
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