Esta semana foi marcada por 3 momentos, um deles faço menção
mais adiante mais adiante; a intervenção crispada do PR sobre os gandins
políticos que pululam um pouco por ai e que já se preparam para um carnaval de
horror nas Europeias de 25 de Maio e a prescrição (tentada) de alguns casos
mediáticos. O terceiro é servido com caviar de esturjão do Alentejo.
Já estamos habituados às comunicações do nosso PR, algumas
das quais verdadeiras pérolas de oratória (para quem não se lembre, retiro aqui
do baú a célebre referência às escutas!). Desta feita o cidadão de Boliqueime
seguiu o traço do inconseguimento em matéria de dialéctica política; mais do que
consensos forçados e lamentos presidenciais, a política constrói-se, sobretudo
a partir das clivagens ideológicas e do confronto entre opiniões. Unanimismo,
no meu singelo entender, era a receita da anterior Assembleia Nacional. Esterilidadeé manter esta teimosia em forçar pontes entre duas "margens" que se
afastam cada vez mais, um pouco como a constante de Hubble.
Seria mais fácil
sentar o beirão Seguro e o transmontano Passos a comer bolo-rei na praia de
Carcavelos, do que desempanar toda a engrenagem dos aparelhos que os impele a
simplesmente evitar qualquer tipo de entendimento. Todavia há um facto
subliminar nesta alocução sobre os bons malandros e demais hordas; recuando um pouco
na década, ainda no tempo em que no Largo do Rato ainda havia vida, quem não se
recorda das atoardas bolcheviques de Belém contra a Crimeia socrática de São
Bento. Nessa altura, estou certo que o telefone vermelho de Belém não aparentava
brandura e a pudicícia que agora apregoa. Ou, o que dizer da bonomia do seu
discurso de vitória após as últimas presidenciais? Há quem diga que o povo tem
uma fraca memória meteorológica, ao qual eu acrecscento que o mesmo
chefe que desenterra o machado de guerra é o mesmo que no dia seguinte dança
a implorar chuva aos deuses.
É óbvio que o resultado final depende da maior
ou menor quantidade de tabaco que se inala. Em suma, ficamos a saber que o nosso
espectro político é composto por malandros e mafiosos cuja absolvição, já nem o
cardeal Bergoglio consegue interceder! Mas tudo bons rapazes, assinale-se!
"Poder es la capacidad de hacer cosas, política es la
capacidad de decidir qué cosas hacer, de elegir. Los gobiernos tienen
políticas, programas, pero no el poder para aplicarlos. Antes, los gobiernos
tenían el poder y hacían política. Eso ya se acabó porque el poder emigró y es
global, pero la política sigue siendo tan local como hace 400 años. La política
no tiene poder y el poder no tiene control político. En esa situación, las
clases medias cada vez influyen menos, y eso es un peligro mayor para la
democracia."
Zygmunt Bauman
Por falar em mafiosi, voltemos a ponta da carabina para
outro assunto de relevante interesse. Na minha lista cinematográfica há um
filme que recordo sempre com alguma saudade, sempre que o tema impoluto vem à
baila – Goodfellas do Martin Scorsese; esta semana tivemos três bons exemplos,
dois casos que envolvem ex-banqueiros, e um caso mediático que envolve um
sucateiro, um ex-ministro e um grupo interessante de altos quadros do
apparatchik do Estado. Se isto fosse um filme francês, faltaria só o marido
corno e uma vizinha lasciva para compor o set burlesco. Mas não é, é mesmo um remake
do Grande Elias, sendo que no caso concreto a tia rica do Brasil somos todos
nós com os nossos impostos! Mas vamos a factos: esta semana fomos informados que devido a uma
questão de dias um dos processos movidos contra o Jardim (não confundir com o
outro que fuma charutos cubanos!) prescreveu, entretanto nas alegações finais
do caso Face Oculta [excelente nome para boîte de alterne!] a advogada do
arguido Lopes Barreira entrepôs um um requerimento a invocar a perda da
eficácia de toda a prova produzida, por terem passado 30 dias (imagine-se) sem
produção de prova (apenas a análise de uma fotografia comprometedora!).
Quando
falo em nulidade é efectivamente apagar os autos das 170 sessões que o processo
já leva! Trivial! Mas não desesperemos, apesar de ficar isento de pagar a
esmola de 1 milhão de euros e de poder retomar a sua actividade bancária, esta
oferenda da nossa justiça não é “um brinde e uma graça de Deus” (Jardim dixit!), graças ao
nosso Comendador com sotaque madeirense, decorre em tribunal outra acusação,
para além disso o processo só vai prescrever em 2018!!! À cautela, aconselhamos
o ilustre Jardim a manter a mortificação corporal, não vá o diabo tecê-las.
Entretanto não muito longe deste labirinto de fauno, outro
processo caminha para um fim equiparável: após o voto de silêncio apenas
interrompido por umas sandes na Comissão Parlamentar de Inquérito em que
devorou a mansidão piedosa dos deputados da nação, O Costa [não confundir com o
respeitável Simplício Costa, para os amigos Costa do Castelo, um verdadeiro
homem de acção] nunca mais foi o mesmo. Neste momento alega ser mais pobre do
que o franciscano Melícias, que é o mesmo que dizer, arranje-se mais um desses
impostos à la carte sobre o funcionário público para cativar igual verba!
"Então, Pedro aproximou-se e perguntou-lhe: «Senhor, se o meu
irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?» Jesus
respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete."
Mt 18: 21-22
O Manifesto dos 70 depurado das várias fragilidades e
conteúdo político que encerra, é no meu singelo entender, um bom documento para
reflexão futura. Se me questionam se concordo com tudo, a resposta é um rotundo
não, se concordo com a oportunidade do mesmo a resposta é invariavelmente a
mesma. Mas se me perguntarem se Portugal aguenta este nível de austeridade cega
e na capacidade de honrarmos os prazos e as metas económicas, a resposta é tão
óbvia como as testemunhas de Jeová começarem a vender árvores de Natal em
frente à sinagoga de Lisboa!
Mas ainda assim é óbvio que por mais malabarismos que a
actual maioria decida mais tarde ao mais cedo o assunto restruturação vai
voltar á baila, e isto é tão certo como amanhã o Gaspar dizer uma piada! Como nota de rodapé, já considerei levar o manifesto ao meu banco para
(des)estruturar a minha hipoteca; ou há moralidade ou comem todos.
Entretanto na Crimeia, tudo rola à boa maneira bolchevique,
tudo o que é ucraniano é invasor e os referendos servem para anexar as
bebedeiras de outros tempos! Na prossecução da sua política ad terrorem, Putin
renasce o antigo império sob a complacência de uma Europa mais preocupada com
os malandros perguiçosos do Sul. Mas como o Rock in Rio realiza-se no dia das
eleições, há uma trivial esperança que nada mude na burocracia de Bruxelas e
que mais uma vez a malta não vá em cantigas! Sr. Putin faça de conta que é da casa!
Assim vai este meu pequeno mundo de ideias que oscila em
torno do universo dos meus pensamentos. Como tudo o que acontece, à medida que
a razão se afasta da realidade a velocidade de afastamento supera a
mediocridade dos factos que nela ocorrem.
"É muito fácil viver fazendo-se de tonto. Se o tivesse
sabido antes, ter-me-ia declarado idiota desde a minha juventude, e poderia ser
que, por esta altura, até fosse mais inteligente. Porém, quis ter engenho
demasiado depressa, e eis-me aqui agora, feito um imbecil."
Fiodor Dostoievski