23/03/2014

...a constante de Hubble


Esta semana foi marcada por 3 momentos, um deles faço menção mais adiante mais adiante; a intervenção crispada do PR sobre os gandins políticos que pululam um pouco por ai e que já se preparam para um carnaval de horror nas Europeias de 25 de Maio e a prescrição (tentada) de alguns casos mediáticos. O terceiro é servido com caviar de esturjão do Alentejo.

Já estamos habituados às comunicações do nosso PR, algumas das quais verdadeiras pérolas de oratória (para quem não se lembre, retiro aqui do baú a célebre referência às escutas!). Desta feita o cidadão de Boliqueime seguiu o traço do  inconseguimento em matéria de dialéctica política; mais do que consensos forçados e lamentos presidenciais, a política constrói-se, sobretudo a partir das clivagens ideológicas e do confronto entre opiniões. Unanimismo, no meu singelo entender, era a receita da anterior Assembleia Nacional. Esterilidadeé manter esta teimosia em forçar pontes entre duas "margens" que se afastam cada vez mais, um pouco como a constante de Hubble.
Seria mais fácil sentar o beirão Seguro e o transmontano Passos a comer bolo-rei na praia de Carcavelos, do que desempanar toda a engrenagem dos aparelhos que os impele a simplesmente evitar qualquer tipo de entendimento. Todavia há um facto subliminar nesta alocução sobre os bons malandros e demais hordas; recuando um pouco na década, ainda no tempo em que no Largo do Rato ainda havia vida, quem não se recorda das atoardas bolcheviques de Belém contra a Crimeia socrática de São Bento. Nessa altura, estou certo que o telefone vermelho de Belém não aparentava brandura e a pudicícia que agora apregoa. Ou, o que dizer da bonomia do seu discurso de vitória após as últimas presidenciais? Há quem diga que o povo tem uma fraca memória meteorológica, ao qual eu acrecscento que o mesmo chefe que desenterra o machado de guerra é o mesmo que no dia seguinte dança a implorar chuva aos deuses.
É óbvio que o resultado final depende da maior ou menor quantidade de tabaco que se inala. Em suma, ficamos a saber que o nosso espectro político é composto por malandros e mafiosos cuja absolvição, já nem o cardeal Bergoglio consegue interceder! Mas tudo bons rapazes, assinale-se!

"Poder es la capacidad de hacer cosas, política es la capacidad de decidir qué cosas hacer, de elegir. Los gobiernos tienen políticas, programas, pero no el poder para aplicarlos. Antes, los gobiernos tenían el poder y hacían política. Eso ya se acabó porque el poder emigró y es global, pero la política sigue siendo tan local como hace 400 años. La política no tiene poder y el poder no tiene control político. En esa situación, las clases medias cada vez influyen menos, y eso es un peligro mayor para la democracia."
Zygmunt Bauman

Por falar em mafiosi, voltemos a ponta da carabina para outro assunto de relevante interesse. Na minha lista cinematográfica há um filme que recordo sempre com alguma saudade, sempre que o tema impoluto vem à baila – Goodfellas do Martin Scorsese; esta semana tivemos três bons exemplos, dois casos que envolvem ex-banqueiros, e um caso mediático que envolve um sucateiro, um ex-ministro e um grupo interessante de altos quadros do apparatchik do Estado. Se isto fosse um filme francês, faltaria só o marido corno e uma vizinha lasciva para compor o set burlesco. Mas não é, é mesmo um remake do Grande Elias, sendo que no caso concreto a tia rica do Brasil somos todos nós com os nossos impostos! Mas vamos a factos: esta semana fomos informados que devido a uma questão de dias um dos processos movidos contra o Jardim (não confundir com o outro que fuma charutos cubanos!) prescreveu, entretanto nas alegações finais do caso Face Oculta [excelente nome para boîte de alterne!] a advogada do arguido Lopes Barreira entrepôs um um requerimento a invocar a perda da eficácia de toda a prova produzida, por terem passado 30 dias (imagine-se) sem produção de prova (apenas a análise de uma fotografia comprometedora!).
Quando falo em nulidade é efectivamente apagar os autos das 170 sessões que o processo já leva! Trivial! Mas não desesperemos, apesar de ficar isento de pagar a esmola de 1 milhão de euros e de poder retomar a sua actividade bancária, esta oferenda da nossa justiça não é “um brinde e uma graça de Deus” (Jardim dixit!), graças ao nosso Comendador com sotaque madeirense, decorre em tribunal outra acusação, para além disso o processo só vai prescrever em 2018!!! À cautela, aconselhamos o ilustre Jardim a manter a mortificação corporal, não vá o diabo tecê-las.

Entretanto não muito longe deste labirinto de fauno, outro processo caminha para um fim equiparável: após o voto de silêncio apenas interrompido por umas sandes na Comissão Parlamentar de Inquérito em que devorou a mansidão piedosa dos deputados da nação, O Costa [não confundir com o respeitável Simplício Costa, para os amigos Costa do Castelo, um verdadeiro homem de acção] nunca mais foi o mesmo. Neste momento alega ser mais pobre do que o franciscano Melícias, que é o mesmo que dizer, arranje-se mais um desses impostos à la carte sobre o funcionário público para cativar igual verba!

"Então, Pedro aproximou-se e perguntou-lhe: «Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?» Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete."
Mt 18: 21-22

O Manifesto dos 70 depurado das várias fragilidades e conteúdo político que encerra, é no meu singelo entender, um bom documento para reflexão futura. Se me questionam se concordo com tudo, a resposta é um rotundo não, se concordo com a oportunidade do mesmo a resposta é invariavelmente a mesma. Mas se me perguntarem se Portugal aguenta este nível de austeridade cega e na capacidade de honrarmos os prazos e as metas económicas, a resposta é tão óbvia como as testemunhas de Jeová começarem a vender árvores de Natal em frente à sinagoga de Lisboa!

Mas ainda assim é óbvio que por mais malabarismos que a actual maioria decida mais tarde ao mais cedo o assunto restruturação vai voltar á baila, e isto é tão certo como amanhã o Gaspar dizer uma piada! Como nota de rodapé, já considerei levar o manifesto ao meu banco para (des)estruturar a minha hipoteca; ou há moralidade ou comem todos.

Entretanto na Crimeia, tudo rola à boa maneira bolchevique, tudo o que é ucraniano é invasor e os referendos servem para anexar as bebedeiras de outros tempos! Na prossecução da sua política ad terrorem, Putin renasce o antigo império sob a complacência de uma Europa mais preocupada com os malandros perguiçosos do Sul. Mas como o Rock in Rio realiza-se no dia das eleições, há uma trivial esperança que nada mude na burocracia de Bruxelas e que mais uma vez a malta não vá em cantigas! Sr. Putin faça de conta que é da casa!

Assim vai este meu pequeno mundo de ideias que oscila em torno do universo dos meus pensamentos. Como tudo o que acontece, à medida que a razão se afasta da realidade a velocidade de afastamento supera a mediocridade dos factos que nela ocorrem.

"É muito fácil viver fazendo-se de tonto. Se o tivesse sabido antes, ter-me-ia declarado idiota desde a minha juventude, e poderia ser que, por esta altura, até fosse mais inteligente. Porém, quis ter engenho demasiado depressa, e eis-me aqui agora, feito um imbecil."

Fiodor Dostoievski


 

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