“Ponho o
ouvido à escuta de encontro ao mundo:
ouço-me para dentro.”
E não tardam
as dispersas primaveras,
uma atrás da outra.
Passa no mundo a estranha
ventania.
(...)
Por trás da imobilidade, horas
verdes
caem de espaço a espaço
— gotas de água no fundo de um
subterrâneo.
E em volta um círculo de
montanhas atentas.
No alto da noite côncava e
branca,
uma camélia gelada. E metem as
árvores
para o interior
a tinta e os ramos.
Absorção
dolorosa, diamante polido,
vegetação
criptogâmica.
— O tempo.
E o céu. Basta-nos o nome para
lidar
com ele.
O céu.
Uma nódoa que se entranha
noutra nódoa.
— A água tem um som.
Mar inesgotável que desliza no
silêncio.
Ponho o ouvido à escuta de
encontro ao mundo:
ouço-me para dentro. Mal posso
dar no mundo um passo
sem tremer; sinto-me
balouçado num sonho imenso,
ando
nas pontas dos pés.
E estou só e a noite.
Há palavras que requerem uma
pausa e silêncio.
Herberto
Helder
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