…numa altura em que as baterias do discurso político direccionam-se ora para a retórica militar [bazuca] ora para a escatológica performance de alguns ministérios, aqui do alto desta torre de cristal, seguro da justeza da argumentação e a salvo de raides de haters, diria que o clima é mais de descendente do que propriamente de um ciclo de expansão.
Não é necessário percorrer algumas das
brilhantes performances dos senhores do capital – nobres honrados cavaleiros
feudais, reputados na arte do esquecimento e exímios mestres na arrogância - que
por estes dias glorificam o papel dos ilustres deputados da Nação, nas audições
parlamentares sobre a gestão do Novo Banco. É um aconchego para esta alma,
imaginar que os favores dos amigos – agora meros conhecidos ou nem isso,
serviram para criar uma teia de ilusões tão densa que nem na noite mais obscura,
seria possível a mais incauta borboleta da traça evitar ser surpreendida. É confortável
verificar a agora aquilo que muitos camaradas alertavam para os perigos do
capital, não eram um salto de pó de um disco riscado, mas antes a mais pálida
das verdades.
(foto do mestre Sebastião Salgado)
Fomos construindo um País assente em
bases tão sólidas e tão nobres, que agora servem como stand-up comedy
para donas de casa de final de tarde na televisão do parlamento. Mais, tão determinados
e voluntariosos, os nossos apóstolos da economia de mercado, ainda se deram ao
trabalho de criar paraísos e fundações com fins filantrópicos, para aliviar a voracidade
da Autoridade Fiscal, a bem da nobreza e uns e criando empregos para uma
imensidão de gente que a esta hora devia estar de joelhos agradecida por tamanha
demonstração de caridade.
Tenhamos fé neles e em todos aqueles que
se ajoelham a apanhar frutos e hortícolas a troco de um quarto compartilhado com
mais uma dúzia e pouco mais de 3 m2 de liberdade neste paraíso de
tendas de plástico. O consumidor no hipermercado agradece o desconto
proporcionado e o Estado assobia ao som de uma qualquer moda alentejana. O problema,
é que estes invisíveis [revisitando as personagens do escritor Ondjaki] há-os
por todo o lado. Mas como sempre, ninguém se apercebe ou realmente incomoda.
Desde que não vivam relativamente perto da sua zona de conforto.
Pergunto-me se não seria preferível enfiar qualquer loquaz vedeta do canal parlamento em contentores e dar alguma dignidade a quem fugiu da miséria e a da iniquidade?
Sem comentários:
Enviar um comentário