30/12/2008

Ave, Caesar, morituri te salutant

O ano que agora finda foi parco em motivos para sorrisos estridentes ou euforias desmedidas. Começamos bem o ano com o anúncio que o Novo Aeroporto da Ota afinal não seria na Ota mas antes no deserto do Ministro MLino. Bem pelo menos aqui imperou algum bom senso.
Mas o ano que atravessámos foi, sem dúvida alguma, um mar de espinhos e pouco cor de rosa...a começar pelos combustíveis! A sensação que tínhamos ao abastecer era a mesma que um qualquer enófilo a tentar arrematar no Sotheby’s um garrafa de Château Mouton-Rothschild 1945!
Facto marcante foi por exemplo a primeira revolta não armada desde o 25 de Abril, falo da greve/bloqueio dos camionistas, que espante-se, conseguiram parar o país sem que ninguém mexesse um palha! Ficamos portanto a saber que afinal de contas não são os Belmiros, Mellos & Outros fulanos que tais que dominam verdadeiramente o nosso país; o sonho do Mário Nogueira era que os professores fossem todos camionistas!
Foi o ano do porreiro pá! O ano em que o nosso PM deixou de fumar e que se instituiram os fumatórios públicos à saída das empresas e lojas; antes eram os mictórios...
Outro facto que ainda hoje merece nota de registo é a autêntica explosão de violência que assola o nosso cantinho. Ainda hoje foi mais uma dependência assaltada na pátria dos assaltos– Mem Martins! Talvez aqui resida a verdadeiro álibi que o sector da finança nacional necessita para tentar justificar os graves e escandalosos erros de gestão, mas já aí vamos. Mas atenção, Portugal não sendo um qualquer país apresenta uma classe social de malfeitores com gostos refinados: assaltos sim , mas só de Mercedes, Audi ou BMW, nada de Fiats, Renault ou marcas ditas generalistas. Associado a esta vaga de crimes, sem paralelo nas estatísticas os portugueses aprendem um novo vocábulo que passa a preceder o já instituído bué, refiro-me ao carjacking – uma espécie de boleia em que o dono do carro não autorizou previamente, e que geralmente se destina a pessoas que não quiseram alugar os serviços de uma rent-a-car para transportar caixas multibanco roubadas!
Entretanto os meses foram-se sucedendo e os murmúrios das profundezas foram exalando cheiros fétidos vindos do outro lado do oceano...fui à janela e era a Crise! Frio, fome e escuridão, diziam os Velhos do Restelo. É claro que uns meses antes de ela nos bater à porta, tal e qual aqueles casais simpáticos que distribuem as revistas sobre o Novo Mundo, o nosso ministro da Economia Pinho (quem não se lembra do sketch dos Gatos sobre o Pino & Lino!!) resolveu anunciar o fim da Crise, pasme-se! Como é óbvio, o povo é sereno e, por isso ninguém ligou pevide. Já o mesmo não se pode dizer da contestação que levou à renúncia do Prof Correia de Campos, o amigo de Espanha e dos hospitais privados, que aumentou a população espanhola com os nossos recém nascidos e conseguiu movimentar um país inteiro contra si.
Outro Ministério que tem dado água pela barba ao nosso PM, é o da Educação. A Ministra é talvez a mulher com maiores testículos deste país, pois conserva-se virgem nas suas convicções, coadjuvada pelos Secretários de Estado que confessam igual castidade na teimosia.
Entretanto o terramoto prossegue, e ao escândalo BCP, segue-se a telenovela mexicana BPN, logo seguido do folhetim BPP. Dir-se-ia que são telenovelas a mais, mas a isso já nos habituaram os nossos canais privados! Curioso, é que afinal de contas, os nosso banqueiros, para além de trafulhas são incompetentes, levianos, entre outros adjectivos, mas atenção: NÃO SÃO CRIMINOSOS; crime é roubar chocolates em supermercados! Esta nova estirpe, socorre-se do capote do poder político, e enquanto lá fora milhares são despedidos e muitas empresas fecham as portas, estes buracos sem fundo, aliás bancos, são auxiliados a bem da nação! Ao pobre cidadão só lhe resta assistir na plateia à balbúrdia dos milhares de milhões que simplesmente desapareceram e rezar para que o dinheiro chegue ao fim do mês para pagar as contas e o empréstimo da casa!
Aliás, no ano que agora finda também ficamos a saber que afinal de poucas contas, os nossos juros eram tão meticulosa e cientificamente calculados, que o resto entrava directamente nos cofres do banco! Agora oferecem juros elevados e promessas de ganhos acima da EURIBOR, essa mãe de todas as rameiras, que destruiu lares e que ornou o país de placas – VENDE-SE.
Crise ou não, o certo é que os portugueses este ano gastaram mais dinheiro no Natal do que em igual período do ano transacto! Espero que tenham consciência que o mês de Janeiro é o mês mais looongo do ano!...e foi assim o epitáfio de 2008!
Amanhã se o tempo bastar faço votos que entrem todos com o pé direito, com qualquer peça nova de vestuário azul (dizem que dá sorte!?) que bebam com moderação e que pelo menos digam bemvindo ao novel ano com um sorriso nos lábios!

Ana tens razão: “Carnaval é o que é hoje Portugal”

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