31/01/2010

..ensaio sobre o optinismo

(foto by: João Monteiro)
…pois é assim de relance parece que estamos nos 80’s, ora vejamos, na rádio ouve-se música dos anos 80 como nunca, graças à brilhante M80 [e do bom gosto de quem está do outro lado do microfone!], no quiosque ali da esquina as gordas dos matutino advinham-se duas palavras: crise e despedimentos, para além da vitória do Benfica, e por todo o lado, as janelas estão fechadas com placards “vende-se”. Mas há que ser optimista, estamos no zénite, no pico superior da curva descendente. Como numa montanha mágica ou russa se for o caso, a partir de agora é sempre descer a pique não se sabe aonde. Como diria alguém noutro dia relativamente à situação que se vive no Haiti, também podemos questionar - Haverá um amanhã? Claro que há! Não há que negá-lo. O amanhã é uma incógnita, e a beleza da incerteza reside no facto de podermos sorrir, sem receio da ignorância.

Por falar em montanha russa, gostaria de compreender em profundidade as razões obtusas que levam os homens dos carrosséis a infernizar os deambulantes de Lisboa. Compreendo de sobremaneira o direito à indignação, só não entendo é como é que a segurança pode diabolizada desta forma.

Mas voltando à negação das evidências, temos que olhar para este clima pop, com uma perspectiva mais optimista da coisa. Olhemos os exemplos que vêm de cima, bem, não tanto pois
tenho vertigens. Concerteza que ficamos mais aliviados com o facto de o nosso ministro das finanças ter ficado “surpreendido pelo défice de 9,3%”, em sintonia com outro "marido enganado" , o canditado ao um lugar no BCE, o nosso governador-geral da caixa forte lusitana. Há que ser optimista, viver na ilusão, é acreditar que no extremo do arco-íris existe um pote dourado.

Vejamos a realidade do ponto de vista niilista, mais do que ser optimista é necessário não se ser optinista*. Viver a realidade na abstracção é assobiar, num dia de vento. Não se ouve, não se faz ouvir, e não se sabe quem o ouve.

Hoje comemora-se no Porto a primeira [talvez!?] tentativa de revolta republicana, diz-nos o nosso PM que a República “nasceu na esperança”, é isso mesmo, há que ter esperança que haverá um amanhã. Como alguém me disse esta semana, por vezes as mudanças acontecem por algum motivo. Há 100 anos a mudança começou nas ruas do Porto. Na génese, as palavras em surdina se foram propagando
em rumores que foram tomando forma, e eis que a semente deu fruto. Chegados a esta encruzilhada em que nos encontramos, questionemo-nos não sobre a qualidade da semente, mas de quem moldou a terra, e quem adubou os ideiais que a viram crescer.
Há que ser optimista, mais ainda, optimista construtivo, palavra muito em voga lá para as bandas do Largo do Caldas.

Nestes dias de grande alegria e tolerância, vou seguir o conselho do Padre António Vieira, vou dar um sermão aos peixes e vou afogar as mágoas do meu optimismo, nas “lágrimas salgadas”que o mar me providenciar, mas antes quero consultar o oráculo do meu rating, ná vá o diabo tecê-las!
Para quê consumirmo-nos em apocalípticas conjecturas, se lá fora reina o optimismo no Pais das Maravilhas?

* não vale a pena ir ao dicionário, seria demasiado pessimismo admir a sua existência!

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