…a esta hora algures em
Almada, uma enorme barraca de venda de cassetes mono deve estará a fervilhar de
ideologia e colectivo partidário. Sim é o enésimo congresso do PC. E este ano
mais do que nunca a cassete esteve presente, não só no acto inaugural com
aquele instantâneo do jornalista do Expresso, mas no discurso político.
Convenhamos, a doutrina pode ser um pouco compartimentada, ortodoxo, dura, o
que entenderem, mas a realidade dos factos, paulatinamente tem dado razão às teses
defendidas elas vozes que ecoam daquele lado de lá da iron curtain. Já na
sexta-feira a saudosa Odete citava outro indefectível camarada da causa, o
Almeida Garret :
«E eu pergunto aos
economistas, políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos
que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à
desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à
penúria absoluta, para produzir um rico?».
Mas vamos a assuntos mais adstringentes:
enquanto na Alemanha punem-se com penas de prisão os responsáveis pelas negociatas
dos submarinos, por cá distrai-se a opinião pública com um julgamento sui
generis em que a defesa alega que os pecados estão todos perdoados derivado ao facto de existir um novo agreement de contrapartidas entre o Estado o Grupo alemão MPC. É sempre agradável
quando tudo termina em bem, não é? Mas vamos por tartes, :
- Contrapartidas negociadas na altura do anterior contrato com a German Submarine Consortium (geridas pela Man Ferrostaal) – aproximadamente 1.210 M€ distribuídos por 39 projectos de capacitação e indústria portuguesa
- Novo acordo entre o Ministério da Economia e o fundo de investimento MPC - recuperação do hotel de luxo Alfamar (Albufeira) e um investimento de 150 M€
Quando o limite da generosidade alemã esbarra
na intransigência do actual Governo, podemos estar seguros e confiantes na
defesa da (des)causa pública.
....para dar continuidade à submersão demagógica do negócio...
...durante o
zapping que habitualmente faço durante os noticiários indigestos da hora do
jantar em família (um dos luxos que ainda conservo) pareceu-me ouvir o (ainda) PM
a referir-se a qualquer coisa semelhante a co-pagamentos na educação.
Pasme-se, o corte da tal refundação, reformulação, o diabo que o carregue da
reforma do Estado Social, iria ser inteiramente direccionada para as prestações
sociais e para as pessoas, já que segundo os dados confirmados e sublinhados
pelo INE, 70% da despesa total do Estado português incide sobre essas rúbricas.
Não digo que a novidade do PM tenha sido uma cluster bomb, ou uma blitzkrieg,
mas os soundbytes já fizeram moça nem que tenha sido pela recusa frontal por
parte do ministro Nuno Crato no que diz respeito ao ensino básico. Quanto ao
ensino secundário e quanto ao SNS, já tenho as minhas dúvidas que as fatwas inscritas
na redacção da Constituição particular do Governo, não lancem as bases para um
regime fundamentalista alicerçado na educação e saúde só para alguns. Será que
são necessárias mais crianças a desmaiar nas escolas com fome? Quantos
agregados irão suportar o pagamento de propinas no ensino secundário, para além dos avultados custos que isso acarreta actualmente!!
Mas não deixa de ser curiosa
esta perspectiva simplista & simultaneamente ignorante por parte da teocracia
que (ainda) nos governa. Quando o discurso da oportunidade para aproveitar a
crise, o vislumbre de uma nova oportunidade perante o facto consumado do
desemprego, este novo desígnio ultramarino de exportar jovens e não jovens para
outras terras, para outros mundos, passa a ser denominador comum de todos
aqueles (que por agora) juram a pé juntos fidelidade ao actual establishment,
refundar o Estado Social retirando todas as conquistas obtidas por décadas e
séculos de luta em matérias fulcrais como a educação e a saúde, é apenas o
corolário da vocação de um político menor, num país que merecia muito mais.
Dividir para reinar sempre foi o desígnio de
gente medíocre, e em última instância o prenúncio do seu colapso.
Quiz da semana:
1.
Quantos aviões aterraram esta semana no aeroporto
de Beja?
- Opção 1: <1
- Opção 2: entre 1 a 3
- Opção 3: >3
2.
De entre os grupos sociais, seleccione aqueles
com maior probabilidade de atirarem pedras à Assembleia da Repúlica?
- Opção 1: Estudantes anarquistas mascarados.
- Opção 2: Estudantes anarquistas mascarados, estivadores, sindicalistas, professores, trabalhadores da RTP, funcionários públicos na disponibilidade, desempregados.
- Opção 3: Estudantes anarquistas mascarados, estivadores, sindicalistas, professores, trabalhadores da RTP, funcionários públicos na disponibilidade, desempregados, e agentes de segurança infiltrados.
3. Qual a próxima rotunda que vai
ser alvo de refundação pelo Presidente da Cãmara Municipal de Lisboa?
- Opção 1: Saldanha
- Opção 2: Relógio
- Opção 3: ambas
4. Os banqueiros portugueses acham
a ideia da criação de um Banco de Fomento?
- Opção 1: Não, até ao dia 12 de Novembro
- Opção 2: Sim, depois do dia 12 de Novembro
- Opção 3: ambas
Por último, uma pequena observação: o membros da Troika vêm na
figura do nosso ministro da fazenda uma personagem fascinante, único quiçá.
Gostava que alguém me explicasse, uma medida, um facto, um número que espelhasse
de forma inequívoca essa devoção. Preferencialmente fundamentada com dados do
INE, como é óbvio, e não como os eufemismos e o sarcasmo das suas intervenções.
Nota de redacção: o burro e a vaca não entraram no quadro de
disponíveis do Presépio, o Gaspar mantém as mesmas oferendas, mas passou para
terceiro na hierarquia dos soberanos adoradores. Quando chegar à Páscoa, logo
se verá se o Coelho se mantém.
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