Boa leitura, se for caso disso.
1/2 Acto
[continua a música, até
ás 3 pancadas]
Voz off – Senhores e senhoras, meninos e meninas e
já agora a senhora de verde alface na primeira fila da plateia. Pedia a V/
atenção e o vosso silêncio.
Relembramos que devem apertar os cintos e apagar
os cigarros. O espectáculo vai recomeçar!
[3 pancadas, abrem-se as cortinas e começa a cena seguinte; em cena
Julieta e Romeu dormem na cama, o quarto está a meia-luz apenas com um
candeeiro na ponta do palco, e ouve-se um galo a cantar, logo a seguir,
ligam-se as luzes do palco. Julieta levanta-se e vai abrir o roupeiro.
[Julieta está de vestido de noite comprido e Romeu dorme de calções e
t-shirt]
Julieta: Tu aqui? Mas estás louco, eu não te disse
para ires embora…??
[Julieta e Macbeth falam baixo mas de forma que se consiga ouvir na
plateia; Macbeth está de camisa e boxers com as calças e ténis na mão]
Macbeth: não tive tempo, ele entrou de repente e
fiquei aqui toda a noite. Tenho as costas num 8.
Julieta: oh homem,! Tu some-me da vista com esse teu
traseiro gordo escocês, senão em vez dum 8 arranjas-me um 31!
[Macbeth sai do quarto descalço rapidamente, mas deixa cair uns
ténis]
Romeu: sim amor? Já tão cedo, que horas são?
Julieta: Já não conto o tempo, o caminho da minha
vida perde-se nas folhas amarelas e secas. Olha levanta-te e vai comprar o pão
que o sino já chama!
Romeu: ai chama? mas está-se tão bem na cama. Tão
fora de tempo chega aquele que vai depressa demais como aquele que se atrasa. Sai
já…e em força!
[Romeu levanta-se depressa e anda em direcção à sala, mas
apercebe-se de uns ténis no chão]
Romeu: o que é isto? Não são meus! São teus? não
te estou a ver de ténis?
Julieta: Quais ténis?
Romeu: Estes porra!
Julieta: Ahh! Pois são…são ténis…
Romeu: Isso já percebemos? E?...
Julieta: Devem ser da empregada. Eu já estou
fartinha de dizer que cá em casa só ando de saltos.
Romeu: Empregada? Qual empregada? Mas agora eu
tenho uma empregada? Se nem para pagar as contas da venda ao fim do mês tenho
dinheiro e agora também tenho uma empregada?
Julieta: Não.
Romeu: Então se não, onde é que entra a empregada?
Julieta: Era uma surpresa que te queria fazer nos
teus anos! Eu sei que tu me amas e queres que eu tenha mais tempo para ti, olha
por exemplo, para ver futebol sentada ali no sofá, para irmos juntos comer um
prego ao café com os amigos. Assim, decidi entrevistar uma empregada. De
certeza que se esqueceu dos ténis ontem quando veio cá!?
Romeu: Nem pregada, nem desempregada. Aqui nesta
casa os únicos pregos são o que prendem o meu apelido lá fora. E não se fala
mais em contratar ninguém. Olha, aonde é que está a minha t-shirt de ontem?
Julieta: Está para lavar…já vais?
Romeu: Sim, tenho que ir mais cedo porque há
reunião de Junta. Vemo-nos mais logo.
Julieta: Está bem. Bom trabalho e não venhas tarde,
beijo.
Romeu: Até logo querida! E tira-me esses ténis
daqui para fora…já me bastam os saltos pela casa toda!
[Romeu beija Julieta e abandona o palco]
Julieta: Maldito sejas Romeu! Eu sei que me andas a
enganar com outra. É reuniões atrás de reuniões. Jantares, telefonemas a meio
da noite, noitadas de trabalho. Mas chorar sobre as desgraças passadas é a
maneira mais segura de atrair outras! O que é que eu faço?!…durmo com um, mas
trago outro no meu regaço?
Já sei…uma skypada com a minha mãe! Talvez
ela tenha alguma ideia para me desempenar a vida!
[lê o texto do telemóvel]
Julieta: … mãe!! Olá mãezinha!! Então está tudo bem
por aí? ok ..olha ouve! Estou com um problema. As coisas não estão andar bem
com o Romeu! Eu acho que ele anda com outra dama. Está cada vez mais longe de mim….eu
sei que se fosse verdade já toda a gente sabia, incluindo o gato da vizinha.
Mãe, já não sou a única mulher! Afinal
havia ostra.
Sim…eu até gosto dele, mas há outro que me
anda a tentar. Casamento? Não! ainda não há data…nem data, nem desata, nem lua-de-mel!
Sim, o jacaré está a tornar a cena mais complicada! É como dizes, uma maca. Nem
o sofá me vale nestas horas…
Eu? dar o sumiço ? Há dias em que me
apetece mandá-lo pastar caracóis! Não sei não mãe. Vou pensar no assunto. Jindungo?
Não sei..talvez…
[batem á porta!]
Olha tenho que desligar. Quando é que voltas?
No cacimbo? ah ok no verão. Beijinhos mãe. Adeus!
[entra Macbeth]
Julieta: O que é que eu disse? Sabes que não estás
autorizado a entrar nesta casa! Além disso nem penses que podes fazer parte do
argumento da minha vida, quanto mais do texto. Mas tu insiste!
Macbeth: Só sairei da tua vida amanhã, e amanhã e
amanhã. Mas hoje não é esse dia. Talvez amanhã.
Julieta: Eu sei que me amas, Macbeth mas eu estou comprometida.
Aquele estropício, que deixa as garrafas de cerveja na sala, que não me ajuda a
fazer a cama, e que provavelmente vai chegar outra vez tarde, para todos os
efeitos e mais outros tantos está fadado para ser o meu marido.
Macbeth:…mas tu fada, mereces muito mais! A
matemática dos meus argumentos há-de convencer-te!
Julieta: Sai por favor!
Macbeth: …eu tenho a solução para os teus problemas,
doce Julieta. Talvez um pouco amarga, é certo, mas bastante eficaz!
[tira um pequeno frasco do bolso]
Macbeth:..bastam umas pequenas gotas, no vinho,
todos os dias! E já está…
Julieta:…ele agora prefere cerveja morna de lata!
Macbeth: …passa a beber no copo! Diz-lhe que tem
mais classe! Tão feio e belo dia eu jamais verei, no dia em que pudermos
partilhar o sol daquela janela que me ilumina!
Julieta: não é sol são LEDs do chinês dali da
Feitosa. Sim, e a tua mulher?
Macbeth: Lady Macbeth irá para o convento. Está de
partida. Acho que o bom frade já falou com ela. Aliás pensando bem, ela agora
não faz mais que rezar com o bom frade. Não sei se por penitência…ou por
apetência.
Julieta: …ou pelas almas defuntas que andas a engendrar!
Não Macbeth, decididamente há que traçar uma linha vermelha que nos vai
separar. De um lado NOS, do outro lado a MEO, aliás tu!. Mas chega de conversa!
Podes sair e já agora levar essa sapatilha que deixaste para aí! Baza …
Macbeth: A vida é uma simples sombra que passa. É
uma história contada por um idiota, cheia de ruído e de furor e que nada
significa. Saio, mas fica cá dentro. Quando sair por aquela porta, será a
última vez que me verás. Depois só nas redes sociais!
Julieta: A sério? Prometes? Então adeus e até
nunca meu tolinho!
[Macbeth sai triste]
Julieta: Oh Deus! Por tudo quanto tenho lido ou
das lendas e histórias escutado, em tempo algum teve um tranquilo curso o
verdadeiro amor. É como as estradas de Souto: curvas e perigos vários!
[Música: https://www.youtube.com/watch?v=CFA6dEwWOb4 durante 56 segundos
e abre-se o pano novamente já sem Julieta e com o Romeu a entrar ao final dia]
Romeu: Julieta? Julieta…já cheguei…estou cá com
uma sede! Trás-me ai qualquer coisa que se coma! Estás cá?
Ora bolas. Aonde é que ela se meteu? Deve
ter ido ter com os irmãos!? Ora deixa cá ver se há por aqui qualquer coisa que
se beba…olha…uma garrafinha pequena!!!
Hum…deve ser um daqueles licores que o
frade Pé de Cabra fabrica. Não digam a ninguém, mas as homilias animadas têm
sempre um fundo de verdade… o fundo da garrafa.
[enche o copo e antes de beber, aproxima-se do sofá e profere a
seguinte frase antes de cair deitado no sofá]
"Oh, não! Meu amor, minha esposa! A
morte, que suga o mel do teu hálito, ainda não tem poder sobre a tua beleza. Ó
Julieta, por que és tão bela?”
[entretanto Julieta entra em casa]
Julieta: Alô! Está alguém em casa? Romeu? [olha para o
relógio] Estranho a esta hora já devia ter chegado. É mais uma reunião nocturna, qualquer dia
chamo-lhe Chopin em vez de Romeu.
[toca o telefone; Romeu acorda meio zonzo mas não sai da posição
deitado no sofá, Julieta não reparou que ele estava lá!]
Estou? Tu outra vez, já te disse 1001 vezes,
e mais outras tantas que, NÃO QUERO QUE ME TELEFONES. Imagina que o Romeu
ouvia? Era lindo, não era…?
[Romeu num sobressalto cai para o chão e levanta-se imediatamente]
Romeu: Lindo e belo! Pelas barbas do frade, pelo
mel que deu aquele licor milagroso, por quem me trais Julieta? Despedaças-me o
coração!? Quem é esse vilão? Ele que se aproxime para lhe triturar os ossos em
pó! Do sangue que lhe corre nas veias, farei uma pasta sobre a qual amaldiçoará
o chão que pisa. Por falar nisso, que dor de barriga….acho que me estou a
sentir mal!?
Julieta: Romeu, oh meu Romeu, perdoa-me! Não é isso
que estás a imaginar…ouve lá o que bebeste, e o que está fazer aqui esta
garrafa?
Romeu: Não me digas nada! como se não bastasse essa
punhalada nas costas, esta dor de barriga que me trespassa dos pés à cabeça.
Que bebida dos infernos é esta que guardavas cá em casa?
Julieta: Apenas um licor de mel preparado pelo frade
Lourenço. Diz que tem propriedades terapêuticas!
Romeu: …terapêuticas e pelos visto laxantes! Vá
deixa-me sentar aqui e relaxar um pouco porque tudo isto é demais para mim. Por
favor, chama-me o justo frade que precisamos de ter uma conversa a quatro.
Julieta: A quatro?
Romeu: Sim! A Santíssima Trindade, o fulano que
telefonou aqui para casa, o conteúdo desta garrafa e eu...ai que dor!!…vai lá
antes que me soltem as tripas!
Julieta: Pudera, com tanta blasfémia nessa alma….
[Julieta afasta-se ligeiramente e pega no telefone enquanto Romeu
se consome em dores deitado no sofá]
Julieta: …estou sim, frade? É Julieta. Está ocupado
agora?! Será que pode dar um saltinho aqui em casa? Preciso de falar consigo
Romeu: Precisamos [diz gritando] aí! Acho que saiu tudo!... depressa casa de banho….[e saia correr para fora do palco]
Julieta:…ok..eu espero!Então até já !
[Julieta: anda de um lado para o outro no palco, senta-se no sofá,
volta para a mesa e alguém bate á porta e entra o frade]
Frade: Julieta querida, vim a correr, sentado no meu
carro de bois! O que se passa minha querida? senti nas tuas doces palavras um
travo amargo de dor….?
Julieta: dor? É com o Romeu! está lá dentro na casa
de banho! Mas sente-se aqui caro frade, a sua bênção
[o frade tenta um sorriso e dá a face, mas Julieta beija-lhe a mão]
Frade. Vá conta lá, o que perturba esse doce
olhar Capuleto?
[Julieta senta-se na mesa com xadrez enquanto fala; ela de um lado, o frade
no lado oposto; vão manter o diálogo enquanto simulam um jogo de xadrez; para
ajudar, o diálogo fica escrito no papel em cima da mesa]
Julieta: É o Romeu!
Frade: o que é que tem o Romeu?
Julieta:… está lá dentro na casa de banho!
Frade: ..de certeza que não foi para isso que cá
vim?
Julieta: não frade certamente! As coisa entre mim e
o Romeu não estão a correr bem. Nem a correr nem a andar, nem paradas.
[não esquecer que enquanto falam vão jogando]
Frade: …no caso nele só mesmo sentadas! Pelo odor
que vai nesta casa. Mas o que se passa realmente há algum peão a mais no jogo?
Julieta: não frade, o seu acabei de comer com o
cavalo.
Frade: essa jogada não estava nos meus planos. Mas
agora com mais calma, que a minha torre está com esperanças para entrar nas
tuas defesas…
Julieta:…sim frade! há mesmo um peão, ou melhor, eu
acho que há mas não tenho a certeza.
Frade:..como é que não tens a certeza? 10, 11,12…
Julieta: …não frade é apenas um!
Frade: …estava só a contar até à próxima jogada,
então conta lá toda a verdade.
[entra Romeu]
Romeu: ...a verdade? é que a Julieta é uma
traidora! deve ter um amante e não quer admitir! A sua bênção frade!
Frade: …Romeu, esta conversa é entre mim e a
Julieta
Romeu: …e eu sou quem? o cornudo? Agora também
fico com as hastes penduradas à porta?
Frade:…o diabo
[benze-se] não é chamado para o confessionário.
Já te chamo, olha senta-te ai no sofá e faz
qualquer coisa útil. Olha reza uns laudes ou umas vésperas.
[Romeu deita-se no sofá a joga no telemóvel]
Frade: ..continuando minha filha. A acusação de
facto é grave, a confissão é uma atenuante. Mas não te livra de qualquer perdão
superior. Bispo come peão.
Julieta …mas frade! Vivemos tempos modernos, para
além disso eu tenho a certeza que todas as saídas do Romeu, todos as noites que
passa fora de casa, se devem certamente a alguma dama da corte! para além disso
como o bom frade sabe, o meu amor com o Romeu é proibido.Está escrito em todo o
lado.Torre come bispo.
Frade:…Julieta minha filha. Cuidado com a
presunção!….é pecado imaginar sequer que me podes dar a volta. Foi campeão no
mosteiro, e não havia freira que me resistisse ao meu rei! E por favor, moderação
as interpretações. Proibido era o fruto, mas até esse o Adão comeu. Por falar
nisso já se comia qualquer coisa. Oh Romeu interrompe ai oração e traz-me algo
para comer e beber!
Romeu: …é para já frade!
[levanta-se vai lá dentro , depois traz um tabuleiro
com um copo e um pão]
Julieta: …acredite frade, o Romeu anda a trair-me
eu sei! Aquilo que sinto é amor…amor ingénuo, talvez platónico? Olhe não sei…
Frade: Julieta, Platão não é para aqui chamado…..mas
afinal quem é esse teu peão [pega num
peão]?ou quem será a rainha que imaginas como adversária [pega na rainha]?
Julieta: o sr. MacBeth, frade…
Frade: MacBeth [em voz alta e com espanto, levantado-se]!?!? Aquele, aquele…[ri-se]…mas não tem piada. Que bom,
que bom!!! Julieta correis graves perigos, não sei se tendes consciência disso!
Julieta: …mas eu já lhe pedi para se afastar de
mim! Mas ele é como alcatrão num dia de verão.
Frade: …não é por esse motivo Julieta. Em boa
verdade, os MacBeth também não vivem grandes momentos, aliás, lady Macbeth já
abandonou a casa….eu estou a par de tudo.
Julieta: …mas então qual o perigo que corro?
Frade: …a família dela Julieta! Se corre o rumor
que ela anda a tentar seduzi-lo!
Julieta: Então é ela!!?
Frade: Cheque ao rei
Julieta: Ai frade que não me estou a sentir bem…
Frade: Romeu traz um copo de água!
Julieta: …mas isso é demais frade, até para mim.
Mas o que é que aquela bruxa tem que eu não tenha?
Frade: …não sei, talvez um castelo na Escócia com
vista para o mar, um coche último modelo com estofos em pele, dizem que
pastagens com manadas de gado de perder a vista; bons contactos na corte em
Londres. Alta sociedade, minha querida. Mesmo! E um Romeu não é de ferro, eu
também não…
[entra Romeu]
Romeu: aqui tem frade, um copo de água para a
Julieta, uma caneca de cerveja morna e uma sandes com manteiga de vaca das
melhores pastagens para si!
Julieta: ouve lá aonde é que foste arranjar isso?
Romeu: ora! No frigorífico, essa agora!
Julieta:. Cerveja morna? Manteiga de vaca? Tens que
me apresentar essa vaca!
Frade: Julieta..mais devagar…cavalo come cavalo!
Romeu:…querida, desculpa mas não estou a entender
essa jogada.
Julieta: ..o meu reino por alguma inteligência neste
cavalo! Andas cego homem? cavalo negro em 2b come cavalo branco distraído em
4c. Mas conta-me lá Romeu, o que fazes tu nas pastagens das terras altas,
certamente que não é a pastar o tempo!? Sim porque um rapaz como tu que se
consome em trabalho, não tem tempos mornos?
Romeu: …lá começas tu a falar em código! Acho que
é melhor continuarem a conversa desse lado e eu ficar em devoção aqui no sofá!
Julieta: ….não tão confortável como o pasto, mas
quase não é!?
Romeu: …esse teu tom de voz deixa-me
inquieto! Acho que estou a precisar de uma morna.
Frade:..Julieta por favor! Alguma serenidade…
Julieta: Serenidade frade? Então aquele filho da
mãe, anda a comer a vaca escocesa nas minhas costas e….
Frade: …e o marido da dita, a roçar tojo nas
costas do cornudo, não é Julieta [benzendo-se]?
Julieta: Calma frade, nesse particular sou pura e
casta O escocês bem tentou, mas a torre do castelo manteve-se firme. Torre come
peão. Cheque-mate Frade!
Frade: Com mil diabos! [benzendo-se] como é foi
possível!?
Julieta: Instinto de mulher…o rei rodeou-se de
peões, mas acabou comido!
Frade: …minha querida. Manda o bom senso, tu e o
Romeu entenderem-se. Para o bem de ambas as famílias e para o bem da minha
sanidade mental. Já basta de escândalos na corte.
Julieta: …frade perdoe-me!
Frade: …perdão porra! Eu quero a desforra!
Promete-me que nos próximos tempos não há saias escocesas?! Não te preocupes eu
trato da manteiga de vaca. Senta-te ali no sofá e reza-me umas 10 avé-marias e pede-me
ao teu Romeu para vir aqui. Quero ter uma conversa de orelha de porco com ele!
[Julieta vai para o sofá e pede a Romeu para ir ter com o frade]
Julieta: … Sabes Romeu, a raiva é um veneno que
bebemos esperando que os outros morram. O frade quer falar contigo.
Romeu: ..nem palavras duras e olhares severos
devem afugentar quem ama; as rosas têm espinhos e, no entanto, colhem-se querida
Julieta. A caminho frade! Já estou em peregrinação até ai!
[Romeu levanta-se e corre para a mesa onde o frade esta sentado]
Frade:….não sei como é que foi possível!
Romeu: …frade, eu não tive a culpa! Ela é que me
tentou… as dúvidas são traidoras, e o pecado é como o calor num dia de verão.
Sabe bem com um copo de leite fresco!
Frade: …Romeu, já chega de piadas fáceis sobre vacas.
O meu problema é entender como é que o meu rei foi comido. Ora vamos a factos
1º) chega de leite escocês, pois já me bastam as intrigas da corte; 2º chega de
trabalhar até tarde, pois em casa há muito pó na mobília, 3º casar rapidamente
com a Julieta pois esta estória já começa a estar demasiado envenenada! Faz
qualquer coisa, uma serenata á porta de casa com um grupo de mexicanos, oferece
uma bimby, sei lá, um fim de semana no clube náutico da vila, qualquer
coisa…menos manteiga de vaca! Alimentos de peso é comigo!
Romeu: ..o frade tem razão!...ela sabe jogar bem.
Estou mesmo desconfiado que era isso que ela me escondia, cada vez que acordava
de noite e o lugar dela estava vazio.
Frade:Alto…mas vocês dormem juntos? [benzendo-se] E não estão casados?
Romeu: Não frade! tecnicamente…habitamos o mesmo
tecto como o sr. frade pode constatar, mas eu durmo sempre no sofá!
Obviamente que só depois de consumar o acto
nupcial é que poderei pernoitar nos aposentos da Julieta.
Frade: ah! [benzendo-se]
por momentos imaginei algo terrível! Agora sim percebo que é pura e casta.
Doce Julieta. Mas voltando à vaca fria…Romeu. Estás proibido de ter contacto
com a Macbeths nos próximos meses, e só poderás deleitar-te com cerveja morna,
após casares com a Julieta. Chega de jogos florais. Chegou a altura colocar as
peças todas no tabuleiro!
Romeu: Estão todas aqui em cima da mesa,…
Frade: …e por favor não sujes a fonte onde
saciaste a tua sede. Estes copos precisam de uma limpeza.
Romeu:…é do leite de vaca!
Frade: bosta! Romeu & Julieta cheguem aqui os
dois: dentro de duas luas, nem mais um dia ,quero-vos juntos à saída da igreja;
tu grinalda de rosas brancas e sem espinhos, e tu de fato escuro, é claro!
Quero muita música, convidados e comida para alegrar a festa.
Romeu:..e muita cerveja morna para todos
[diz gritando com alegria enquanto Julieta
cruza os braços e o frade benze-se repetidamente]
Julieta: não te preocupes Romeu, cerveja não
prometo, mas um licor especial tenho guardado para te aquecer na noite do nosso
noivado!
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