Uma mera cortesia transfigurou-se numa espécie de transposição do Rubião em matéria de equidade, de solidariedade. O gesto em si tinha todos os condimentos para ser um penhor digno da época natalícia, mas aquele desvio ideológico, santificado com o mais coerente espírito ultraliberal, quebrou a harmonia do acto e arremessou o pêndulo da justiça social para os antípodas.
Xeque-mate da matemática pura sobre a beleza da epifania.
Se houvesse possibilidade de ilustrar a metáfora, imagine-se os Reis Magos entrarem pelo estábulo adentro e, perante a majestade do cenário, não oferecessem ouro, incenso e mirra, mas apenas uns cupões de desconto para que Maria e José tivessem a oportunidade de adquirir umas papas e um brinquedo para o petiz.
A providência divina, a divindade, e a humanidade ficam reservadas, para aquela criança que, por azar do destino, nasceu no mesmo dia na maternidade privada. A mãe está a acordar do efeito da epidural, e o pai está atrasado no trânsito, mas já enviou mensagem por WhatsApp para o grupo que criou.
O Natal é como a lógica financeira. Tem várias interpretações.
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