28/02/2010

...panelas & tachos com pouca cousa

(foto by: DDiArte)
A distância pode condicionar o modo como observamos o objecto. Se nos distanciarmos certamente que veremos com melhor clareza a face oculta que se disfarça no esboço que tentamos perscrutar. Todavia,à medida que nos afastamos da realidade, a clareza das ideias funde-se no emaranhado de contradições que a tela nos provoca. Será que apenas uma face, ou uma imensidão de faces que se revelam a cada pormenor reavivado?

Vem isto a propósito do renascimento da famosa carta que o administrador BCP A. Vara guardou silenciosamente na sua secretária, e que a fazer fé nas suas palavras ali permaneceu silenciada.

Este simples facto per si não quererá dizer anda, apenas o detalhe de vir agora a lume um mero número de telefone. Mas se adicionarmos ao melting pot as declarações do sociólogo António Barreto nas entrelinhas do Expresso deste fim de semana ["há pessoas a ganhar fortunas para vender informações em segredo de justiça"], talvez ai comece a fazer algum sentido o porquê dos sucessivos ataques à magistratura com especial enfoque no nosso Procurador-geral. Ab initio as fugas de informação só podem ser oriundas de quem está dentro do processo. Lógica oblige.Mas no meio de tanta pureza de linguagem, de tanto mistério em redor das lutas entre o Ministério Público e o Supremo, o que falta mesmo é um juiz de Aveiro com tomates para vir ao terreiro explicar os vícios que padece a virtuosa liberdade de expressão e o malfadado estado de direito.

Mas não deixa de ser curioso que o facto de só agora entrar em cena a misteriosa personagem cuja pena alertou (ou quis alertar o nosso PM). Fica no limbo uma indelével pergunta: quem é a misteriosa personagem que já veio desmentir tudo? e que ainda não foi tida nem achada?

Entretanto e num outro "edifício anexo" da nossa magistratura de dissemelhanças, prosseguem os trabalhos da Comissão de Ética, cujas explicações dos ilustres convidados, tenho acompanhado com a voracidade de um pacote de pipocas na sala de cinema. Aliás, confesso que fiquei fã do ex-administrador da PT ex-não Representante do Estado que esta semana nos presenteou com uma panóplia de interjeições no mínimo evocativas do seu estado de espírito e uns apartes que deixaram os deputados do PC e BE com os nervos em franja. Se nas suas palavras aquilo foi dignificar a AR, vou ali e já me venho. Brilhante foi sim a sua arte da fuga. Não foi preciso recorrer a essa peça magistral da Bach para subentender nas suas parcas palavras un petit peu de não sei de nada, não me lembro, não era bem isso, e aquela repetitiva frase que o Zeinal e o chairman Granadeiro poderiam explicar melhor. Ou seja, com mais aperto no nó da gravata ou bufar de tédio pelo tempo gasto naquela estupada, haveria algum figurão que o precedesse e que por certo iria explicar melhor aquilo que lá andava a fazer.Confesso que fiquei com a nítida impressão que era qualquer coisa parecida , uma espécie de tacho com cousa nenhuma.

Depois do eterno candidato ao nobel da literatura José A. Saraiva o digníssimo sensei do falido ou ex-falido Sol, ficamos coma ideia que se não vivemos na Sícília como o Alberto João disse, devemos estar bem perto do calcanhar da bota. Pelo menos na Sícilia as famílias da noiva tinham a tradição de ostentar orgulhosamente os lençóis manchados de sangue após a noite de núpcias. Aqui na AR nem sangue nem cabazes de fruta para animar a malta . Um bouquet de flores brancas, uma aura de virgindade fétida nas poucas virgens que lá se sentam e pouca razoabilidade nas declarações. Talvez não fosse má ideia começar a fazer umas acareações entre algumas das ofendidas, pra conferir alguma verdade pornográfica à cousa. Olhem por exemplo, aproveitando o espaço do antigo Animatógrafo, outrora palco de eventos de igual monta.

Mas enquanto na AR se brinca às comichões de averiguação. No Parlamento Europeu, a coisa pia mais fino. Que o diga o nosso ilustre desconhecido Presidente Herman Van Rompuy (com o seu “carisma de esfregona”) que esta semana teve o privilégio de ser agraciado com uma actuação burlesca ao velho estilo britânico. A vossa atenção para o vídeo abaixo:







Continuando para as bandas da Europa, fiquei com um arrepio na cosnciência por saber que afinal o nosso Governador do Banco de Portugal tinha toda a razão. Andei para aqui a atacá-lo de uma forma despudorada (a esse propósito flagelo-me com um sincero mea culpa; não a boite de alterne!!) e agora nem sei o que dizer. Aliás sei. Realmente e tal como referiu um dia, “as nomeações para o BCE são mais fruto de habilidade diplomática do que de competência”. Sem sombra de dúvida uma questão de apetência natural pelo tacho.

Por falar em sombra, não pude ir à manifestação de apoio que estava marcada para a Alameda em Lisboa, por causa das condições climatérias dos últimos dias e outros precalces de natureza profissional. Curiosamente ainda não ouvi os ecos dessa vaga de fundo popular. Estarei eu demasiado distraído com as 111 músicas da edição especial da Deutsche Grammophon, ou será que cousa nenhuma se terá realmente passado?

Aproveitando a boleia da vaga de fundo, é com uma saudade contida que vou ver hoje o Prof Marcelo com a Maria Flor Pedroso. Essa dupla que preenchia a inutilidade das noites de domingo do canal público. Espero sinceramente que a vontade de ir “para casa” seja breve, a não ser que pelo caminho resolva também ele ir fazer a rodagem do carro ao Congresso. Penso que não será necessário que Cristo desça à Terra para ele entender o quão mal vai o partido laranja.

... e assim vai a cousa nossa!

1 comentário:

Telmo disse...

Olá, gostei da introdução bastante pertinente com o que veio a seguir, neste sitema viciado tudo é possivel, é o diz que não disse, o que pus na gaveta e nem dei importância e já nem me lembrava que lá estava, o eu não escrevi isso nem assinei, etc.etc., depois o palco teatral que se vive na nossa A.R e politica, são todos bons e nenhum faz nada de jeito, isto leva-me a sentir que faria falta existir um povo forte e unido que fosse capaz de ser humilde e exigir, mas aí vamos encontrar um povo que cada um olha pelo seu umbigo, que se quer demonstrar melhor que o vizinho e se puder enterra-lo ainda melhor, bem mais não digo porque acho que já estou a falar(desabafar demais), mas entendo bem a teu ponto de vista(revolta) perante um mundo que vive cego pelo conforto aparente ou temporário, grande abraço e boa semana.:)