31/12/2010

...encruzilhada

Em surdina, e enquanto ninguém se lembra que tal, fui encher os depósitos das carroças antes que o preço do fardo de palha aumentasse por via do aumento do IVA e do fim da comparticipação aos produtores de biodiesel. Mesmo apesar da variação do euro face ao dólar beneficiar o preço do barril de crude, estou certo que a Galp (produtora internacional de todos os fardos de palha que são digeridos em Portugal e algumas bombas em Espanha) vai mesmo aumentar o manjar asinino logo após as 12 badaladas da meia-noite. Saciado agarrei os arreios e com toda a impedância apontei a cenoura até à grande superfície mais próxima. Estava cheia, para não variar nesta altura de saldos & enganos. Achei delicioso o pormenor de à entrada terem construído uma pirâmide de bolos rei industriais com aspecto de móvel velho lambido com óleo de cedro. Mais espantoso foi ver o escaparate dos preservativos Durex mesmo ao lado das nossas garrafas de espumante travestido de champanhe francês. Mais adiante, os inevitáveis sonhos oleoso, as rabanadas emplumadas de açúcar mais caro e canela das mais barata e as imprescindíveis uvas passa de calibre XXL para dar substância aos 12 largos e desmedidos desejos de início de década. Fritos & alcoólicas ao som das 12 badaladas, as passas do Allgarve e chá de tília para acalmar os fígados mais desprevenidos na manhã seguinte.

Confusão, mesmo grande confusão era a bicha para o marisco:

- “9,99 €/ kg, mas com desconto em cartão!” – não sei tive pena dos bichos ou quem estava disposto a mariscar as últimas finanças do ano numa amálgama de tremoços de bigodes meio congelados e mal amanhados . Satisfação para a carteira, decepção para o paladar. Fiquei-me portanto pela prata da casa e pelo tradicional paté de atum com um derivação de vinho da madeira e resguardo de pasta de azeito. O queijo de Évora também vai fazer pendant com as azevias de grão que a bimby preparou. Para memória futura, robalo no forno com batatinhas acompanhadas com um branco Duas Quintas 2007.

Mas voltemos á brutal realidade dos números, neste “fim de festa” da governação em que nem os reis magros do mercado nos agraciam com a mirra (muito menos o ouro ou o incenso), o nosso Primeiro Herodes depois de degolados os abonos das inocentes crianças deste país, prepara-se agora para o saque supremo ao templo pátrio do contribuinte. Felizes os convidados para a Ceia do Senhor, eis o carniceiro que tira o imposto ao povo.

IRS, IVA, Deduções Fiscais, Benefícios Fiscais, Código do Trabalho, Código Contributivo, Segurança Social. Amén

Rejubilem todos aqueles que foram enganados (os patos bravos que ainda acreditam neste Carcereiro-mor), ele que transporta numa bandeja de prata, o sonho de todos aqueles que ainda esperam a última vinda do messias libertador, o D. Sebastião que nos há-de livrar de Alcácer-Quibir, e de todos os negociadores do FMI. Façam as vossas apostas, será que o FMI ou o Sr. Trichet nos vai visitar no final do primeiro trimestre, será que o nosso Ministro das Finanças vai finalmente poder apreciar o merecido descanso ao sabor de uma peça de fruta enquanto se delicia com o seu ipad no sofá da sua sala. Será que o nosso Primeiro vai finalmente dar o braço a torcer e mudar a retórica de desculpabilização sistemática da crise internacional e vacilar sob a pressão dos números?

Será que alguém de bom senso vai poder votar em consciência nas próximas eleições presidências dada a total ausência de discurso político, diálogo de ideias ou soluções? Vou ser sincero: assisti a apenas um debate, o confronto final entre os dois únicos candidatos presidenciáveis. Que pobreza, que vazio! Não deixa de ser caricato para não dizer aberrante ver dois candidatos discutirem aquilo que não podem fazer mas que insistem prometer, e não falar claramente sobre aquilo que podem e devem fazer. Cada vez me convenço mais que dado o esvaziamento que se assistiu nos últimos cinco anos no papel do Presidente da República, era tempo de termos alguém em Belém que tomasse definitivamente o rumo do País e augurasse um novo estilo de protagonismo.

Mas nem tudo foi mau neste ano que agora se esvazia: mantenho a minha conta fora do BPN, continuo a respirar sem que para tal pague imposto, ainda posso sair de casa sem pagar taxa de ocupação municipal, e ainda tenho liberdade para escolher os ingredientes que utilizo e o modo de os confeccionar sem que a ASAE entre cozinha a dentro com os seus comandos swat.

Ainda consigo arranjar dois metros quadrados na praia de Carcavelos para apreciar uns banhos de sol e ler umas quantas páginas de língua portuguesa com consoantes mudas e pasme-se, ainda consigo ir pedalar no mar do Guincho sem pagar portagem. Por isso não me posso queixar. Nem foi assim tão mau!

Podia ter sido pior, mas o Papagaio sem Penas, essa loja mística que nos ilude e nos confunde deu uma ajudinha, e do outro lado do rio, algures no meio de livros e desapontamentos, um sorriso banhado em lágrimas acordou de um longo sono quimérico. Afinal enganei-me (estranho! sempre pensei que eu e o Cavaco éramos infalíveis e não líamos jornais!?) não te tornaste uma desilusão, apenas uma breve pausa no tempo.

E portanto, é com grande satisfação e maior preocupação que aguardo, as doze badaladas para a nova década. As passas brancas (só gosto dessas!) já estão alinhadas, na firme convicção que as 12 rimas não se transformarão em sete pragas do Egipto, pois de sustos e desilusões já este ano foi pródigo.

Uma boa noite &; boas entradas.

PS: para os incautos e patos bravos apenas um aviso: o Pingo Doce realmente não vai aumentar os preços em Janeiro...e sabem porquê?eh!eh!eh!he!...advinhem!

23/12/2010

....já perdi a conta às fitas!



....sim é verdade! gata & árvore de Natal simplesmente não combinam!... já perdi a conta às fitas que ela já destruiu e as bolas que roubou. Mas após várias experiências mal sucedidads descobri o antídoto: luzes musicais. Uma espécie de cruzamento entre a Madame Edith e o bardo Assurancetourix em formato natalício! Simples e eficaz.

22/12/2010

...50%


...O Natal traz ao de cima o melhor e o pior de cada um de nós. O melhor pela imensa generosidade como neste pequeno período de tempo que medeia entre o subsídio de Natal e o extracto do cartão de crédito em Janeiro, nos desfazermos de tudo o quanto já não achamos piada, com é o caso das poupanças que fomos amialhando desde que viemos de férias e pela inusitada vontade de dar mais uns quantos cêntimos para esta ou aquela campanha a favor dos mais necessitados. Mas só neste período mesmo!Depois eSquecemo-nos ou simplesmente ignoramos. O pior, pelo facto de nos autoflagelarmos em filas intermináveis por entre empurrões e brigas por aquele brinquedo que está com 50%!!!! em cartão, diferencial esse que gastmaos uns metros mais adiante na primeira pastelaria em sonhos, azevias e fatias dourada, não sem antes pedir a bica da praxe com adoçante. Há que manter a dieta. Confesso, adoro o Natal. Não pelo que recebo, mas pelo que posso dar de melhor de mim, seja um postal ilustrado feito à medida (ah! bons tempos) seja por este ou aquele mail mais engraçado, ou por aquele telefonema para um amigo ou uma amiga! O melhor do Natal para mim, talvez seja o facto de estarmos todos juntos, não que esse reencontro não suceda de forma espontânea ao longo do ano, mas naquela noite, algo de mágico ou quiça trascendental transforma cada frase ou cada gesto em algo particularmente belo e reconfortante. também aprecio o Natal, para ver o quão depressa as pessoas se transformam quando entram na loja e se atacam umas às outras com um frenesim inexplicável e por vezes irracional. Por vezes dou comigo pasmado com determinadas atitude. Os gestos de falsa simpatia oscilam entre a falta de educação e a rudeza do trato.

Por vezes penso que definitivamente se perdeu a espiritualidade do Natal e que acima de tudo, o que conta é ter a mesa farta e não olhar a gastos. Esse [felizmente] não é o meu Natal. Aqui em casa ainda se comemora o Natal à moda antiga!!


08/12/2010

....tornado


..neste dia que em que se comemora o assassinato do ícone John Lenon, o homem que acabou com a carreira artística da Yoko Ono mas que fez singrar e a sua vértebra empresarial, a minha homenagem é dirigida não um dos elementos dos Fab Four [ que são mais intemporais e conhecidos que Jesus Cristo; não foi eu que disse isto!!] mas para todos aqueles que sofreram mais uma desventura da mãe Natureza. As imagens do tornado de ontem são no mínimo impressionastes!

Oxalá que desta, o Governo seja mais célere na ajuda e não se resguarde em pormenores burocráticos com sucedeu com a última intempérie na zona Oeste! Era o mínimo!...

02/12/2010

...na mouche!

....existem aquelas frases que pela leveza da pena e o nítído momento de clarividência do autor, ilustram de forma brilhante o momento em que me encontro!



                       «Nunca me senti tão sozinho e nunca tive tanta certeza de estar tão certo.»




Sá Carneiro