28/12/2013

...sermão da montanha

Sem rodeios. A declaração de Natal do Passos foi um brilhante exercício de hipocrisia política ao pior nível do melhor que os seus ghost writers sabem fazer. Diria que numa escala de mediocridade, o aviso imprudente da McDonald’s aos seus colaboradores, encontra-se num patamar mais elevado. A análise rigorosa da variação do número de novos postos criados vs desempregados fica para os think thank de cada trincheira . Penso que já gastei demasiado carvão sobre este tema.

“Existimos em Função do Futuro” 
Jean-Paul Sartre

Quando abri as páginas hoje de manhã veio-me à memória o travo amargo que pressenti nos últimos dias de 2012. Meu dito, meu feito. Este ano foi um verdadeiro desastre, a todos os níveis sociais. Apesar da tímida recuperação da economia, quando reparamos nos números (não basta ver!) e combinamos com a realidade, é por demais evidente que foi mais um ano em que os sacrifícios e o desespero de muitos esfumou-se completamente face à verdade dos factos. Não entrando com a estatística moldada pelo barro dos números, surge à cabeça um número extraordinariamente preocupante: um novo mínimo histórico no número de partos - menos de 80 mil partos. Para quem a demografia é algo semelhante a ciência oculta, o ritmo de envelhecimento da nossa população é desassombradamente mais penoso e fatal para o país do que a dívida! Pode-se culpar a austeridade, a fraca perspectiva de futuro e sobretudo a emigração da camada mais jovem da sociedade. Quando a taxa de renovação de gerações se aproxima do limiar de insustentabilidade, paulatinamente se desmaterializa o futuro de um país

Talvez fosse mais avisado o ministro das questões sociais ou ministra das depauperadas finanças dedicassem um pouco mais de tempo a questões da política demográfica e de incentivo à natalidade. O empenho e o proselitismo que devotam ao alívio das prestações sociais dos aposentados (último suporte de muitos casais jovens) e a incidência inebriante em políticas que visam liberalizar o despedimento ou o aumento do número de horas de trabalho, são exemplos perfeitos da inabilidade para tratar de um mal maior que nos vai afectar a médio/longo prazo. Vou lançar uma pergunta: quantas jovens empregadas arriscam hoje em dia engravidar?

“A dor tem um elemento de vazio” 
Emily Dickinson

Também não vou falar aqui no número de falências e insolvências. Todos sabemos interpretar os papéis de jornal colados nas montras ou o significado de um espaço vazio com cadeiras num mar de pó.

"O mundo é cego, e tu vens exactamente dele."
Dante Alighieri

Não vou falar no colossal aumento de impostos. O resultado aparente são 0,2% de diminuição no défice. Surge-me à ideia uma metáfora. Afinal o Gaspar tinha razão. Estava errado e cego.

"A estupidez humana é a única coisa que dá uma ideia do infinito."
Ernest Renan

Não é um relógio idealizado pelo irrevogável Portas que vai diferenciar o sucesso ou insucesso do drama final.  A tragédia promete continuar para lá da vida póstuma da cebola do Caldas. Qualquer relógio daqueles que se vendem no mercado da Praça de Espanha teria semelhante efeito cautelar. A ideia de uma contagem decrescente para o início de algo semelhante é prova provada que a demagogia é ainda uma ciência por explorar.

“Ser austero é não saber esconder que se tem pena de não ser amado” 
Fernando Pessoa

A austeridade, ou na semântica da maioria parlamentar, o ajustamento vieram para ficar, alheios ao sofrimento das pessoas, ou insensível à miséria que se propaga diariamente. Acredito que haja pessoas, cuja realidade próxima não lhes permita ver e sentir, o coro de silêncio e tristeza que se abate sobre milhares de famílias portuguesas, resignadas à evidência da pobreza. A pobreza, a tristeza é coisa que nestes dias não se sente, ou pelo menos anda amansada pela beleza da época. O Natal amolece a alma e desenterra a purpúrea generosidade que paira inóspita do interior de cada um de nós. Infelizmente a bondade da natureza humana é efémera, talvez Descartes tenha sido demasiado optimista quando a apelidou de generosidade da alma.

"Nessa encruzilhada do desejo e da necessidade, não deixes nada: não voltarás lá nunca mais."
Omar Khayyam

Apesar de todo o fel que as minhas palavras carregam, acredito que há um caminho a percorrer, um rumo que pode ser emendado, seja por quem chega de qualquer uma das estradas que conduzem à encruzilhada. Apesar de tudo há indícios, luzes ténues de um início de futuro. Confesso que a forma que nos conduziu até este ponto de não retorno, nunca foi do meu agrado nem a mais inteligente. Mas aqui estamos, aqui chegamos a esta sentença. Vale sempre a pena olhar para trás e tentar explicar às gerações futuras, os desígnios de décadas de incúria que conduziram ao aumento desproporcionado da desigualdade e pobreza. Não deixa de ser cómico e bizarro que as personagens e actores principais desta ópera bufa (chamar-lhe-ia tragédia grega, mas essa já está em cena no Mar Egeu!) sejam as mesmas, ou algumas delas, que hoje decidem e arbitram o destino e a orientação de todas as políticas no seu âmbito global. Os actores de ontem (fouding-fathers da democracia) são hoje espectadores e partes interessadas, que nos bastidores manipulam e definem o tom da revolta ou a pauta das leis. O Eça de Queirós escreveu um dia, e passo a citar: “a ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.”. Absolutamente actual. Não vale a pena identificar os culpados.

Eles autoproclamam-se, pois carecem de protagonismo.

“Ora a democracia cometeu, a meu ver, o erro de se inclinar algum tanto para Maquiavel, de ter apenas pluralizado os príncipes e ter constituído em cada um dos cidadãos um aspirante a opressor dos que ao mesmo tempo declarava seus iguais.” 
Agostinho da Silva


A palavra flexibilizar algures no tempo referia-se a algo com propriedades plásticas, que se moldava em várias direcções até ao ponto de ruptura. Dado que a massa neste caso específico é uma constante (perdoa-me Einstein!), ao aumentarmos a longitude, diminuímos necessariamente o diâmetro. Isto dito de uma forma um pouco mais desprezível é algo como, você passa a trabalhar mais tempo, com o mesmo dinheiro, ou então passa a trabalhar menos tempo ganhando muito menos. Há uma terceira hipótese metafísica, e que parece ganhar grande consistência na nossa massa empresarial: passa a trabalhar sem tempo, sem contrato, talvez com contractos de alguns meses, preferencialmente a recibos electrónicos (um gadget que bate aos pontos a Bimby!) e talvez com muita sorte daqui a uns 3 ou 6 meses possa engrossar as apetecíveis filas do IEFP. Em termos de estatística descritiva e recreativa, contabiliza-se menos um desempregado [para bom entendedor, há umas bisnagas de vaselina líquida com efeito semelhante á venda em algumas lojas gourmet]. Ainda a propósito da frase acima, vem-me à memória os ecos das últimas revoltas dos professores - um dos alvos a abater. Sou apologista da avaliação séria [nunca por motu proprio], não aquela encenação de bons e excelentes que mascaravam até há pouco, a avaliação dos docentes. Prova de acesso à carreira, tal como já existe noutras profissões, não vejo porque não, antes pelo contrário credibiliza e confere outro estatuto. Agora, os avanços e recuos desse senhor com ar blasé que se deixou instrumentalizar pela entourage da 5 de Outubro, apenas lhe conferem o direito a resignar ao cargo que ocupa há demasiado tempo. Ainda a propósito da luta dos professores, não me parece que o artigo 57.º da Constituição refira algo a propósito de limitar ou impedir a realização da prova por quem pretenda efectuá-la. O mesmo se aplica a quem pretende trabalhar em dias de greve.


"Ai temos o Estado, nosso pai, autoridade e segurança" 
Thomas Mann

E por agora é tudo ou antes, um pouco de nada. 

(photo by: Lewis Hine)

17/11/2013

...o manto de Penélope está rasgado

O unanimismo é uma palavra que pela sua singularidade, só se aplica em casos excepcionais e só a vemos plasmada nas consciências e nos discursos políticos aqui nesta jangada de pedra, de tempos a tempos [remotos!]. É uma preciosidade quase equivalente ao mítico pote de ouro no final do arco-íris.
Nestas duas últimas semanas tem sido recorrente, e sê-lo-á cada vez com maior intensidade nos tempos que se avizinham, nem que a última desculpa seja agora o simples facto dos malandros dos irlandeses nos terem deixados pendurados no varão, sem o tal programa cautelar. As 112 páginas do documento “Um Estado Melhor”, apesar do estágio em carvalho francês no Palácio das Necessidades e de vários meses nas gavetas de inox do Conselho de Ministros, mereceram uma reprovação unânime, tal o teor e profundidade dos taninos que azedaram a já escassa popularidade do irrevogável PPortas. Continuou com a discussão acalorada do OE2014, epitáfio final da austeridade? Documento que tenta incutir um esperança renovada na independência da lusa pátria, o tal 1640 financeiro que, teimosamente, nos tentou vender.
No intervalo ainda tivemos uma momento político paralaxe, com a “não proposta” de diploma legal da TSU dos Cães e Gatos, documento que foi alvo de uma comissão técnica durante sete anos[pasme-se!]! Para acicatar ainda mais os ânimos, qual Lázaro, o antigo Ministro das Finanças Teixeira dos Santos [apócrifo autor do ”Memorando de Entendimento”],´eleva-se como novo contra poder do comentarista JSócrates (eterno enfant terrible!). No meio desta sopa de letras, sobram silêncios e inseguranças no Largo do Rato. Mas mais do que isso, a firma intransigência em declarar não a tudo e negar a mais singular das evidências- sem acordo entre os dois maiores partidos, a nau continuará ao sabor dos ventos alíseos do mercado!

Imbuído desse espírito de grande união, o País desfaz-se em greves, apelos à indignação, apelos á luta de classes, como se neste unidade na revolta, ainda houvesse esse revolucionário que tomba, mas já não tem as dez mãos para lhe suster a arma. A arma é o voto, essa está guarda na inexpugnável muralha de Belém.

Confesso que guardava a maior das expectativas no guião do PPortas. Mas ao lê-lo sobram-me o desalento e a estupefacção. Talvez não tenha tido o conveniente apoio do staff super produtivo do seu colega Passos. As prensas do Largo do Caldas já tiveram os seus dias de maior glória.

Aumente-se portanto o salário mínimo, símbolo máximo da miséria com que muitos teimam em sobreviver. Penso que o senhor Subir Lall está profundamente equivocado no continente. Baixar os salários e ainda mais o salário mínimo é algo que pode aplicar perfeitamente no seu país, onde a tradição secular das castas condena á morte inocentes e relega para a extrema miséria e para a semiescravatura milhões. Conselhos desses renegamos por princípios básicos de humanismo e decência.

Não há semana em que o ataque despudorado ao Tribunal Constitucional não cesse na vergonha das intervenções nem da baixeza da argumentação. Todos aqueles que ardilosamente atentam contra a Constituição terão a resposta à altura no momento maior da democracia – o voto popular. Também esse será um dia colocado em causa?


Para finalizar com um toque de classe, parece que o nosso porreiro Barroso está de malas aviadas para Portugal. Não querendo embirrar com ilustre personagem, diria ainda que a sorte de Penélope é que o Barroso interessa-se mais por móveis do que de mantos, pois não é nem arauto da felicidade, nem mensageiro de boa nova. Parafraseando o O’Neill" sigamos, pois, o cherne, antes que venha, já morto, boiar ao lume de água".

29/09/2013

...a carga da brigada ligeira

Alguns anacronismos e outras considerações absurdas para deleite da minha reflexão eleitoral.

Amanhã é dia de eleições mas ao contrário de outras lutas fratricidas, desta feita estou com sérias dúvidas se hei-de sucumbir à violoncelista, e embarcar na jangada de pedra que me levará à urna, ou se hei-de contrariar aquela faceta sarcástica do Saramago e deixar-me levar na minha jangada de pedra e deixar que o mar decida o meu destino. A indecisão é a corrosão da razão, mas estou plenamente convicto que no momento em que sentir a textura daqueles três pedaços de papel, a minha pena se encarregará de suportar o fardo da minha indecisão.

Estras foram sem dúvidas as eleições mais tristes que assisti. Não pela actuação primária da CNE que acordou do seu sono quadrienal, mas pelo facto de muitas das candidaturas que apareceram por aí não passarem de pura demonstração de um bairrismo bacoco e de uma profunda e insana demonstração de pobreza de espírito. A certa altura, senti dificuldades em entender se estava num país dito europeu ou numa pseudo democracia latino-americana, tal era a ignorância e o conteúdo da mensagem. Ao contrário do Manchete, a verdadeira podridão não está nas incorrecções factuais, mas no patamar basal que a política portuguesa atingiu. A degradação é tal que ameaça tornar-se num endemismo em toda a cadeia trófica.

Hoje, sábado dia 28, a escassas horas de partir [eu e a minha ink rollerball], escrevo amordaçado com o lápis azul apontado nesta sala escura e húmida, na perspectiva de assistir na primeira linha à desagregação do discurso corrosivo e arrogante que nos tem acalentado o desespero e a revolta. Provavelmente depois das 19:00 assistirei ao primeiro acto desse novo ensaio para o pessimismo, esse reavivar para o tal 2º resgate (buzzword do momento), que nos vai infernizar ainda mais a nossas vidinhas condenadas. Mas a linha foi traçada por esses mesmos que amanhã vão desferir o doubletalk de condenados e carrascos.

Houvesse por aqui uma passarola e seriam esses os primeiros a experimentar os ventos do atlântico até parte incerta. A nós resta-nos a jangada de pedra, o navio do holandês voador, sei lá, na melhor das hipóteses o poço ou o precipício.

Por um lado sinto o alívio de voltar à rotina, e poder sentir o pulso da cidade (ou melhor falta dele) sem aqueles cartazes com ideias vagas e projectos mirabolantes. Já para não referir a caixa do correio cheia de propaganda autárquica reciclável. Até as árvores deixaram de chorar folhas, neste princípio de Outono triste e silencioso, como o nosso PR.

TC. Raro é o dia que os inquilinos do Ratton não se sintam confortados com uma primeira página do jornal de transporte público. Houve um tempo em que provavelmente por falta de expediente ou inépcia partidária, o bar e a sala de fumos deveriam apinhados de becas com tonalidades a mofo. Actualmente acredito piamente que as pizzas fora de horas ou sandes da marmita (não as do Sr. Oliveira e Costa & associados) são os bestsellers do bar do Ratton. É triste dizer isto mas, provavelmente a única forma de sentirmos algum alívio na nossa carga fiscal é atacar os hunos e deixarmo-nos de resmas de papel. Há por aí muito boa gente que pode e deve produzir muitos mais, nem que seja pelo orgulho profissional ou outra virtude ignorada.

Aparentemente devíamos ter entrado esta semana no dito mercado [essa personagem enigmática que ninguém sabe], mas metade da população incluído a coordenadora Catarina, o secretário (in)Seguro e outros ditosos produtores de soundbytes esqueceram-se que em tempo oportuno o nosso Gaspar fez uma operação de troca de Obrigações do Tesouro [eu relembro! 2 de Outubro de 2012], cujo vencimento seria neste mês, tendo passado para Outubro de 2015. É claro que não são obrigados a saber isso, mas estou certo que quando alguns deles chegar ao ponto de sentir o pó nos móveis do Palácio de São Bento, certamente vai ter um exército de jovens assessores [principescamente pagos] para os alertar para a data no livro de fiados. Com ou sem entrada nos mercados, fiquemos então por uma entrada cautelar nas compras online.

Será que a esta hora no telefone do nosso PM já começaram a chegar as primeiras mensagens das distritais, de teor sórdido e refinado calão social-democrata? Afinal de contas, foram deles as palavras de pontapé de saída para o acto eleitoral

«(…)que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal!».

A partir de segunda-feira tudo muda, a começar pela linha vermelha do Caldas. Volto depois de escalpelizar os resultados.

Theirs not to reason why
Theirs but to do and die


13/08/2013

...the song that remains


...nada como um Verão quente aqui na Forca, para que os virtuosos políticos da terra possam dar azo à sua inopinada vontade de abraçar as gentes do povo. Então se acrescentarmos o singular facto de estarmos em pré-campanha eleitoral, não há redoma de cristal que os aprisione. Ele é abraços, beijos e sorrisos. Camisa e calça branca imaculada, a fazer inveja á mais abençoada divindade, que por estas alturas, também vêm a luz do dia em ritos de profunda e devota fé, essa esquecida virtude que conjuntamente com a caridade, apenas é relembrada nestas alturas de grande foguetório. No resto do ano, já se sabe, ou melhor, nem se vislumbra. Mas este ano temos um ingrediente assaz caricato: nada como desconstruir  imagem desgastada de um político, com uns passes mágicos de Photoshop. 
Por estas alturas aquele caixa que o mundo nos apresenta pouca ou nenhuma atenção merece. Pode até estar ligada o dia inteiro, votada ao mais genuíno desprezo, pois a procissão de tolices que boceja não bate a leitura de um livro, ou um ainda mais salutar serão de conversa entre família e amigos. Mas ainda assim, dá um certo gosto espreitar a tal podridão política que alguém apregoou.
 
Ainda á pouco enquanto divagava o meu olhar na feira, foi notória a quantidade de bengalas que se começam a ver, em verdadeiro contraste com os ecos da debandada que se tem observado aqui no interior esquecido. Todos anos a cantiga é a mesma, mas o testemunho fica aqui cravado na placa de argila. Numa terra onde é mais importante doar centenas de milhares de euros para um relvado sintético do clube cá da terra, cujas bancadas em cimento belicoso hão-de permanecer despidas de emotividade, do que construir equipamentos que fixem as pessoas, uma sugestão – um centro de dia, por exemplo! Mas não, o clube da terra cujos feitos passados permanecem encarcerados numa vitrine de mofo, mas em cuja direcção figuram as mais distintas sumidades da terra, deve também ele ser um baluarte da política abjecta do esbanjamento dos dinheiros públicos. Ainda se conjecturou, um pavilhão polidesportivo de categoria, para ombrear com os vários albergues vazios que proliferam, por esta terra onde nem as caligae do Judas se dignaram a ser encontradas, mas isso requeria um esforço financeiro maior, e além disso não notícia que os velhos que jogam sueca na tasca sejam promessas para qualquer tipo de desporto mais violento que uma renúncia.
 
Este país não é para jovens, essa espécie em vias de extinção ou em vias de saltar borda fora desta imensa jangada de pedra, onde já nem uma diminuição de 0,7% taxa de desemprego exarada até à exaustão pela nomenklatura resiliente, parece alegrar ou sequer motivar os fracos acólitos. Isso e uns sinais promissores sobre a evolução positiva da economia, que aliás refira-se, parecem ter saído da recessão técnica, mas não nesta valsa triste a que chamamos crise.
 
Quando o último fogo se extinguir e a Maria Luísa se lembrar do conteúdo dos quadros excel da malfadada pasta, logo se verá se estes sinais do céu não passam de uma brisa de verão ou de uma inopinada bandeira vermelha na praia da Quarteira. Mas voltemos à feira: se fosse possível extrapolar pela quantidade e calibre das cebolas que este ano nos são oferecidas com um pregão e uma grande simpatia, diria que a nossa agricultura estaria pujante. O problema é que são esses mesmos “velhos a mais”, os parcos resilientes que ainda animam uma feira, espelho baço do que foi em tempos de outrora. Em compensação, bonecos made in China e trapos de proveniência igualmente longínqua não faltam [um parênteses, para acrescentar aos autos que das 5 fabriquetas de lanifícios que existiam aqui nos arrabaldes da aldeia, já só restam duas] Não diria que esta agricultura que alimentou gerações de foragidos deste país esteja moribunda, talvez congelada no tempo. O mesmo tempo que consome o olhar desgastado dos velhote que suspiram o tempo ao compasse do toque de finados, na torre da matriz.
[pausa para ver aos resultados do fecho da Bolsa de Tóquio]
Sinto um vazio dos briefings do Pedro Lomba. Eu que me deliciei com os Homens do Presidente, e que acompanhava os briefings da White House na CNN com a mesma avidez com que uma dona de casa acompanha a telenovela, anseio pelo prazer daquele jogo do on e off, do agora a sério agora a brincar com, uma reencarnação do lápis azul jornalístico que o Urbano e o Saramago tão bem sabiam ludibriar. Estranhamente ou não estava a ser curioso ver transformado aqueles episódios efémeros, numa espécie de guilhotina com execuções públicas na hora, daí o interesse em saber qual seria a próxima vítima deste nosso Dexter à portuguesa. Que o diga, o último secretário de Estado que por lá passou e que apesar dos desmentidos, lá confessou que não ter sido ele o causador do longo sono da Branca de Neve mas tão somente a promoção da maçã à Bruxa Má- O veneno estava incluído na promoção. Faltou-lhe uma pontinha da corda do Martim Moniz, para que o acto tivesse um efeito mais mediático.
 
[por este caminhar, ainda vamos ter conversas em família ao serão com lobo do Prokofiev?!]
Ainda não passei na augusta Bracara para ver a estátua da polémica, mas os arautos já me trouxeram a aziaga nova. Com alguma sorte o Cónego Melo ainda se vai transformar no Marquês do Pombal dos saudosistas da outra señora
[para não me acusarem de sinecura aviso já que troco acções a 1 € da SLN pelas minhas acções fétiche o Banif, aceito pagamentos em cash, não vá a Luísa temê-las!]
Ontem pareceu-me ver o jovem Seguro gritar no palco de um jantar comício (comícios só mesmo o do Avante), ainda pensei que também ele tivesse sido arrastado pela corrente da praia da Luz, mas não. Estava a referir-se a uma tal de política de verdade, ainda que utilizasse uma tonalidade um pouco agressiva.
[a diferença entre a baixa política e a alta política é uma faca de dois gumes]
Hoje não falo sobre a educação pois cada vez me faz lembrar a alegoria sobre a imensidão do universo e a estupidez humana do Einstein.
E é assim, entre o deve e haver, fico-me pelo paradoxo do gato do Schrödinger.

10/08/2013

...silk



Manto de seda azul, o céu reflecte

Quanta alegria na minha alma vai!

Tenho os meus lábios húmidos: tomai

A flor e o mel que a vida nos promete!

 
Sinfonia de luz meu corpo não repete

O ritmo e a cor dum mesmo beijo... olhai!

Iguala o sol que sempre às ondas cai,

Sem que a visão dos poentes se complete!


Meus pequeninos seios cor-de-rosa,

Se os roça ou prende a tua mão nervosa,

Têm a firmeza elástica dos gamos...


Para os teus beijos, sensual, flori!

E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,

Só me exalto e sou linda para ti!

 

Florbela Espanca
 
photo by: Helmut Newton

23/07/2013

...tempo sem ser


...a preguiça é de facto uma das virtudes que me tem assolado neste últimos tempos. Não sei se é pelo advento de tempos conturbados ou pela falta desse factor escasso a que se dá o nome de tempo. Em boa verdade, o tempo hoje em dia é uma variável tão aleatória como o salto quântico de um electrão movido pela energia que escasseia na ponta da minha pena. Da mesma forma  que a minha alma se inflama num vazio crescente, assim rareia o rio de tinta que discorre em pensamentos diluídos no papel, antes mesmo de poder soletrar a primeira nota. Apesar disso, e desta inconstância serena que o tempo se encarrega de suturar, a ferida ainda me consome. E a carne sente uma vontade enorme de se soltar numa descarga orgástica, só pelo prazer de poder escrever qualquer coisa...assim haja esse ser sem ser, que dá pelo nome de tempo.
 
...enquanto isso a melodia de palavras continua a orbitar no meu ser, parada no tempo.

19/05/2013

...o paradoxo do burro


….isto hoje vai ser crú, sem links em html ou outras mezinhas avançadas. Parei para pensar no que ia escrever mas uma voz crítica ontem à noite enquanto nos digladiávamos entre umas notas de syrah e alicante bouschet incentivou-me a não tocar na ferida política ou cair na tentação que colocar mais uma uma janela com um vídeo irritante do youtube, como se meu universo de contactos já não tivesse discernido que estudar os meus gostos músicas é um exercício estranho como desenhar um diagrama de Venn. Ainda pensei abordar um tema completamente novo, como a crise, mas foi logo descartado porque a crise está para a política como a lapa numa rocha à beira-mar. Concentrei a minha atenção num conjunto de outras divagações como a beleza, a fotografia a arte, mas sobrava tempo e um vazio de ideias. Parece que de uma forma mais ou menos inconsciente tenho perdido a minha energia em assuntos que não o são, e relegado para segundo plano a metafísica do acto de pensar. Apenas pensar e deixar fluir as palavras na pauta. Há quem chama esta aparente contradição da condição humana [o não cogitar] falta de inspiração, no meu caso diria que o vaticínio é apoxia.

Ultimamente tenho andado com uma ideia um tanto ou quanto absurda. Dado que a Europa encaminha-se para uma espécie de estado de desgraça enquanto entidade colectiva, talvez fosse altura de alargar os horizontes e começar a (re)pensar em termos de Mediterrâneo. Durante séculos, a centralidade do poder económico e social estendia-se desde as margens do Líbano até à foz do Guadiana, e foi essa intensa mescla cultural que foi dando corpo à explosão de intelecto e racionalidade que se seguiu à Idade Média. É uma ideia que provavelmente choca com as fragilidades das várias interpretações da Primavera Árabe mas sobretudo com exploração ideológica de grupos fundamentalistas que florescem e parasitam a as fragilidades próprias de alguns países muçulmanos. Talvez esse seja um dos principais obstáculos. Não deixa de ser curioso que, numa Europa onde as clivagens entre países do Norte e Sul e o recrudescimento de algumas ideias nacionalistas em países que já integram a União Europeia, a simples intenção de adesão da Turquia [a porta de entrada no Oriente] provoquem ainda tantos anticorpos. É caso para pensar que os ideias humanistas e os três pilares que fundamentaram a criação da União Europeia se transformaram em relativamente poucos anos, em dois pesados fardos que o paradoxo do Burro de Buridan tentou explicar. Aparentemente encontramo-nos numa encruzilhada, e pior do que isso não existe nenhuma sinalética.

Falando de arte. Já tenho encontro marcado com a exposição que está no Museu de Arte Antiga. Talvez um dos poucos locais neste país onde tudo faz sentido. Quando discorro o meu olhar pelas paredes daqueles corredores, a minha alma oxigena-se.

Obrigado PF pelo oxigénio do teu sorriso.

26/04/2013

...engolindo swaps


…o homem não quer e pronto. Qual é a parte que não entenderam?
Não ouvi o discurso do senhor de Boliqueime, por isso vou-me pronunciar ao som de alguns acordes de silêncio para tentar não incomodar a maralha que se digladia em entusiasmos cáusticos. Sinceramente não entendo o ar de virgens arrependidas por parte das restantes bancadas do hemiciclo. Será que já se esqueceram do discurso de vitória nas presidenciais? Ou das suas intervenções como primeiro-ministro (papel que nunca conseguiu descolar) na Assembleia da República? Ele bem tenta mas o seu tento não o permite. Dêem-lhe bolo-rei que ele serena.
Mas o tema da semana, são os swaps! Tomem lá atenção e esqueçam lá o facto dos canteiros de cravos ter caído assim que o senhor de Boliqueime usou da palavra [corre por aí o rumor que o senhor já antes do 25 de Abril tinha alergia a cravos!]. Como se não bastasse um CDS no sapato do PSD, só faltava mais outro CDS (credit default swaps) para fazer comichão na breguilha da Lapa.
Mas atentemos às vantagens deste chato: numa penada mais dois secretários de Estado [um deles para gáudio e champagne da EDP!] foram afastados por motivos que não cansaço, família ou , ou…uma daquelas desculpas estapafúrdias que os governantes se lembram de acrescentar nestes momentos. Eu digo mais dois, porque não sei se repararam mas este Executivo tem passado as últimas semanas com a consistência de uma fatia de molotov já com algumas semanas de frigorífico... 
Adivinhem quem entrou desta vez? Não, não foi o homem do poço da morte nem a assistente do engolidor de espadas, mas a nossa insular Berta que há um punhado do meses, dava a entender que em matéria de boçalidade, aquele puto com mania de contratenor  nada tinha a acrescentar em termos de curriculum e muito mais a comprovar! Não me vou alongar sobre o outro secretário, agora braço direito do palácio das Necessidades que, para além de umas colunas de opinião no jornal do partido [provavelmente um admirador dos artigos de opinião do Relvas] e de uma interessante passagem pela Guia TV Cabo, certamente vai deixar uma marca indelével no admirável mundo da diplomacia.
É caso para dizer que o banco de órgãos do Executivo assemelha - se cada vez mais a um banco de suplentes de uma equipa de futebol das distritais.
Mas nem tudo foi mau esta semana: o efeito vasodilatador do chumbo do TC teve o condão de espevitar o trabalho de casa dos super assessores e meter de uma vez por todas o Governo a olhar para fora da janela. Por motivos insondáveis que nem a Santíssima Trindade com a sua reconhecida profundidade se atreveria adivinhar [nem isso nem o que o Gaspar e o  contratenor dissera ao senhor de Boliqueime naquela noite!],  descobriram agora que faltava economia á equação da austeridade. E eis que o milagre acontece: alguém retirou o Álvaro de um processo escondido da gaveta de um funcionário mais zeloso e eis que a palavra investimento surge nos feixes hertzianos do rádio a pilhas da barbearia da esquina.
Últimos reparos de uma mão já cansada de imaginar. Eu tinha o Crato com um refinado letrado nas artes matemáticas...ficamos a saber agora que também confecciona números ao gosto do paladar do ministério das Finanças! Há gostos que mais tarde ou mais cedo se revelam adstringentes, para não dizer despudoradamente irrelevantes. 
E agora, o soneto último da minha prosa. Da trilogia fantástica dos três “D” da Revolução de Abril soletro penosamente três “D” de desilusão, descrença e desamparo. Fica a lembrança a p&b do photomaton dos rostos, lágrimas e gritos de todos aqueles que na madrugada do primeiro dia do resto da nossa vida, puderam enfim dizer e cantar a palavra LIBERDADE. Abril continua amanhã…e nós por cá também.
 
edição ne varietur


24/03/2013

...second life



 …não sei se já tinha utilizado este título para um post mas achei apropriado dada a reencarnação do filho Lázaro do Largo do Rato. Sou da opinião nem na sua imensa sabedoria, o profeta Isaías alguma vez terá imaginado este regresso épico.

"Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados".

(Is 53:5)

Mas já lá vamos …
Um dia escrevi que o mal da Grécia seria o nosso mal e reafirmo agora que para lá das águas tempestuosas do Mar Branco do Meio, o bote de náufragos tem agora mais um desesperado cipriota. É claro que tratando-se de uma ilha paradisíaca, os senhores da Troika tinham que experimentar uma solução completamente inovadora. Depois de uma madrugada bem passada entre telefonemas e filmes no Ipad, o Eurogrupo decidiu que desta vez ficavam de fora os donos de restaurantes e esplanadas de Nicósia, e seriam os banqueiros lá do sítio e a nata dos ricalhaços amigos do Putin que iriam pagar a conta do hotel.

Cheguei á conclusão que o Eurogrupo e o Ecofin são uma versão mal estonada do Ocean’s 12, uma espécie de dozes apóstolos do crime organizado institucional comandados por um Ocean de “rodinhas” com um aspecto de Mr Burns (vide Simpsons). O nosso amigo Gaspar nem sei bem aonde o poderia encaixar mas apostaria tal num misto de Reuben Tishkoff (para quem não se recorda aqui fica um link) com uma certa queda para Ebenezer Scrooge.

Questão da semana: deve ou não o Eng. Sócrates trabalhar de borla no prime-time como comentador político no canal público de televisão?

Felizmente tenho um comando. Para ser sincero vou acompanhar os comentários dele, da mesma forma que sou assíduo ouvinte dos comentários do professor Karamba, da Maia e as das Tardes da Júlia. Para comentário político já me bastam o Santana, o Marcelo, o Marques, e por aí adiante. Num país em que existem fazedores de ideias para todos os gostos e tendências sexuais, mais um vendedor de cobertores na feira é sempre bem-vindo, nem que seja para animar o povo. Ainda assim confesso que estou mais inclinado a mudar para o canal Q. Para comentaristas de ocasião e números circenses já me bastam as senilidades do Belmiro, e os comentários sociais do Ulrich e mesmo assim ainda sobra uma meia dúzia de agiotas versados na nobre arte da política a sério, refiro-me aos valentins, albertos joão, isaltinos, dias loureiros e outros tantos.

Por falar em bom senso o meu garrote solidário ao deputado do PS que esta semana no Parlamento Autónomo demonstrou mais uma vez que uma coisa é ser socialista na oposição, outra bem diferente é a prática governativa…

 Entre a moção de censura envergonhada do PCP desta semana e da oposição violenta do Seguro, sobra o Ken e a Barbie. Estou em crer que já discorri sobre o tema das moções de censura com morte anunciada, por isso não vou adiantar grandes considerações. Gostava que despendessem um pouco mais tempo sobre temáticas mais interessantes como por exemplo: limitar o uso desavergonhado do Facebook e do Twitter durante as sessões do parlamento. Ora aí está um bom tema de reflexão!

Será que estamos a caminhar para a bancarrota?! Talvez seja uma boa questão a colocar aos inquilinos do palácio Ratton. Entretanto já passaram quase 80 dias desde que um conjunto alargado de personalidades colocou sérias dúvidas sobre a constitucionalidade desta ou daquela norma da Lei do Orçamento. Das janelas do palácio, não há vislumbre de fumo negro nem fumo branco. Também não há evidências que o rapaz das pizzas tenha tido entregas em horário pós-laboral!

Por vezes penso que o nosso sistema político se comportasse como a Cúria Romana, talvez os processos de aclaração demorassem um pouco menos tempo. Ora vejamos, se acrescentarmos os novos processos da auto designada Revolução Branca, mais os processos que por norma chegam á recepção do TC, ainda somos capazes de chegara a Outubro sem saber se o Menezes se pode candidatar no Porto (contrariamente à interpretação do CDS!), ou se o Seabra sempre pode ser candidato em Lisboa (conforme a pretensão do CDS!). Melhor só mesmo as eleições no meu querido Sporting.

Felizmente não voto em Lisboa, pois se o fizesse, não votava certamente em Relvas. Pessoalmente nunca achei muita piada a dinossauros, gosto de secretos de porco preto ou migas de espargos.

Pois é, Sócrates chegou. Foi morto, enterrado, extraditado para o degredo num café na boulevard Saint Germain, última vez foi visto numa reunião de administração duma farmacêutica suíça, e agora qual zombie renascido invade qual poltergeist os nosso lares programa de culinária política. O lado positivo é existir na casa de cada um de nós um telecomando. Diria mais, a linha ténue que divide do comentário e silêncio, está na palma da mão, qual bastão de Moisés.

Esta semana também assistimos ao renascimento do Jorge Coelho, o mago da propaganda socialista, o primeiro político que teve a hombridade e a coragem de se demitir por uma questão de consciência. Coisa rara nestes tempos em que a obscena sede de poder faz escola e dita a regras.
Tantos renascimentos mas nenhum salvador.
 
Nota de rodapé: não sei se alguém reparou, mas esta semana um país com 800 mil habitantes e uns quantos turistas russos recusou o plano insidioso todo-poderosa Troika Über Alles. Se eles conseguiram porque é que nós não lhes explicamos que o memorando órfão de pai (socialista) e mãe (social-democrata) tem que ser obviamente alterado para ir de encontro com as realidades sociais do nosso País?!

16/03/2013

...uma mera questão de estabilizadores



 
…toda aquela retórica de previsões, rescisões amigáveis, são chorrilhos de quem já extinguiu todas as hipóteses de credibilidade. Quando um ministro das Finanças responde que não sabe o que de mal se passou, nem sequer imagina cenários explicativos, só tem uma saída possível. O problema agora é que, como o próprio frisou, o legado é penosamente mais penoso do que previra, e o futuro bastante mais incerto do que o presente. É demasiado redutor. Para piorar o cenário, já que o prognóstico é muito reservado, o ministro é coadjuvado por um secretário que mais não é que um nobre fidalgo de voz cândida que clama pela inocência do seu lorde, e incentiva os soldados a reincidirem nesta carnificina pírrica. No final, perante a peste negra do desemprego e do desespero, duas ou três almas cantarão vitória sobre um país perfeitamente moribundo.
Acho perfeitamente nauseabundo que em cada um dos partidos que compõem o ramalhete governativo, as vozes opositoras busquem a surdina de um programa de rádio em horário matinal, uma tirada no blog costumeiro, mas não tenham a coragem de falar alto na casa da democracia.
Curiosamente [ou não!] não deixa de ser paradoxal que nas sondagens apresentadas este fim de semana, o PSD surja a escassos quatro pontos percentuais do PS e tenha subido na bolsa de valores da opinião pública. Fica demonstrado que a quarta república atravessa os seus dias mais negros e incertos, tamanha é a descrença entre o povo e quem supostamente os deveria representar.
Como é apanágio, o Governo e a Troika já se encarregaram de reunir os suspeitos do costume para interrogatório e julgamento sumário e aparentemente a culpa do fracasso total do programa cabe a quem desenhou, ou seja, o PS. O mesmo PS que agora renega a maternidade do filho pródigo. Solução para este imbróglio: não há, ou melhor, existe mas a fat lady não está para aí virada: haircut, renegociação da taxa de juro, etc, etc. Não é uma solução inovador, nem muito menos vergonhosa ou imoral. Perguntem à Inglaterra, Alemanha e mais uns quantos países europeus se sentiram alguma dor de rins quando lhes foi garantido tamanha prova de solidariedade? Ou será que que já se esqueceram? Provavelmente dirão que os tempos eram outros, à qual eu respondo que os tempos agora são igualmente diferentes.
Entretanto, numa galáxia longe daqui, o nosso PR advoga o uso abusivo de maçãs para relançar a indústria agro-alimentar. Ando perplexo com o minimalismo e a arrogância mal disfarçada das suas últimas alocuções acerca da política governamental. É penoso assistir a um PR que simplesmente nada faz, ou se o faz é durante aquela hora que troca bolachas e chá verde com o PM na audiência semanal. Cá fora, por debaixo da ponte [o Alberto que se cuide com as despesas de pessoal], apenas clamamos por qualquer mudança, actos e acções. Estamos entediados e fartos do discurso prolixo.
Pensões. Tema na berlinda. Sou favorável ao plafonamento das pensões. Não aos “contractos sociais” já em vigor, afinal o Estado deveria ser uma pessoa de bem!! Se me perguntarem se a imposição de uma taxa sobre as pensões mais elevadas é uma boa iniciativa deste Governo a resposta é, claro que sim. Desde que seja uma medida transitória. Para as novas pensões, defendo com unhas e dentes a imposição de tectos, assim como defendo o plafonamento nas retribuições e ajudas a gestores públicos. Os suíços neste particular estão mais na vanguarda estalinista, mas o caminho que defendo poderá passar por aí. Sou contra a meritocracia subversiva das nomeações políticas. O Estado tem pessoas qualificadas, e não é necessário escolher um colega de carteira de faculdade ou o companheiro de café na sociedade de advogados para um cargo importante do aparelho do Estado. Mas esta é uma aberração típica da política portuguesa. Há demasiados bois com vontade de cobrir a vaca estatal.
Mas a aritmética é impiedosa e não são textos abstractos ou contestários que vão fazer que saímos deste buraco que construímos. Os meus pais ensinaram-me a distinguir o bem do mal, o certo do errado. Noções básicas de sobrevivência. Espero que o burro volte atrás e emende a trajectória traçada. Afinal os burros só enganam uma vez.
Por mais imaginação que tenha não estou a ver uma geração de universitários a entrar directamente para o matagal ou para a estrumeira. Também não estou a ver uma, duas, três gerações que sejam a rondar caixotes do lixo na calada da noite envergonhada em busca de comida.
Há pessoas que não sabem o que dizem, nem o que escrevem pois ainda não aprenderam a sair da zona de conforto que as protege, o resto são estabilizadores e projecções económicas.
Nota final: a Cúria que se prepare. Este Francisco I promete!

 

23/02/2013

...bife no PREC


…da mesma forma que em algumas avenidas dos nossos centros comerciais existem ilhas onde os amantes da nicotina imaginam-se a fazer círculos de fumo branco para o ar, também nalguns colóquios devia existir semelhante gaiola para alguns ministros puderem repousar as sua lições de sapiência sobre assuntos nenhuns, longe das grandoladas e a salvo dos espíritos mais subversivos. Eu acrescentaria que para além disso, fosse ainda criada um gabinete de canto para o fiel jardineiro do Governo treinar a sua inigualável inaptidão para a música.
Contrariamente aos que apelidaram de atentado à liberdade de expressão, fascismo, intolerância desprezível, etc. continuo convicto que mais não foi do que um alerta, uma verdadeira e saudável forma de expressar o descontentamento de toda uma população. Se for necessário também eu entoo o refrão, já que o resto da letra não tenho presente. Assim penso eu, pensa a ministra da Justiça e pelos vistos pensa muito boa gente não conotada com a tal extrema-esquerda pulha e arruaceira.
Lá pelo facto do fiel jardineiro ter demonstrado uma despudorada cobardia política ao abandonar o palco onde ia discursar sobre o futuro do jornalismo [sendo ele um outsider na matéria] isso não quer dizer que tenha sido silenciado ou proibido. Outros colegas tiveram semelhante tratamento de charme e mantiveram a postura e a diplomacia necessária, prosseguindo com os respectivos discursos. Não querendo fazer aqui a defesa do anterior incompetente que alugou o Palácio de São Bento [cuja pesada factura ainda hoje me é acrescentada no IRS!] recordo que nos últimos tempos do seu apostolado, o fiel jardineiro e outros ditosos  não ofereceram o peito às balas populares, mas antes, deram razão à vox populi manifestamente farta do dito cujo.

“Cowards die many times before their deaths. The valiant never taste of death but once.”
W. Shakespeare

A questão que se impõe é, se também não temos direito à indignação ou se devemos observar uma pouco dignificante resignação à fatalidade que nos impõem? Também estamos fartos do fiel jardineiro, saturados de todos os lacaios que aplaudem esta louca descida aos infernos do nosso país! O que enjoa já chega.



Confesso que senti um prazer sórdido ao ouvir o ministro das finanças referir-se aos enganos, ao retrocesso das estimativas. Confesso que pasmei-me a ouvir o mesmo PM que jurava a pés juntos, doesse a quem doesse, custasse o que custasse, que não iria pedir nem mais tempo nem dinheiro. Confesso ainda o meu espanto ao ouvir o ministro da Economia falar num problema de entendimento e de estratégia do Governo face à onda de desemprego. Como mudaram tanto em relativamente pouco tempo. Quem sabe, talvez o mesmo raio divino que assombrou a cúpula da Basílica de São Pedro, tenha tido eco nos corredores bafientos de São Bento.

Entretanto em Belém o nosso PR qual Bela Adormecida acordou do sono profundo e desvendou o mistério da troca do “da” pelo “de”. Talvez seja melhor não acrescentar muito mais acerca do seu papel relevante nestes últimos tempos!

Não. Não vou aqui falar das opções sexuais deste ou daquele bispo, ou se existem as tais orgias de seminaristas nas catacumbas do Vaticano. Supostamente os anjos não têm sexo. Mas vou estar atento aos desenvolvimentos.

Nunca imaginei que houvesse tantos generais neste pequeno rectângulo.

E mais uma semana passou sem que tivesse sido abordado ou revistado por um agente das finanças em busca das facturas que invariavelmente me esquece. Ao contrário do Viegas, não vou entrar em poesia erótica, nem vou argumentar com a velha teoria do Triunfo dos Porcos. Com alguma sorte canto-lhe o refrão da Grândola e sigo em frente pois de idiotas estamos todos fartos!

Prometo que as minhas próximas palavras serão para o nosso ministro que é tão reconhecido lá fora e tão incompreendido cá dentro, mas isso só depois do 7º fellatio à Troika.

"Deixai toda a esperança, ó vós que entrais!"
Dante

photo by: New York Times

01/01/2013

...jailbreak



...o ano passado neste mesmo dia profetizei esta frase:

 "Estranha esta sensação de dúvida permanente, este pot-pourri de esperança mesclada com receio. Aguardemos serenamente o desenrolar da nossa próxima estória..."


Este ano animado do mesmo voluntarismo e firme certeza:

...faltam 365 dias para o fim! Há que pensar positivo.