22/03/2011

...nos tempos do rei Artur



...foram 70 anos a fazer história na rádio e na televisão!Apagou-se hoje a voz do nosso Artur Agostinho, um grande homem da rádio e sobretudo um grande sportinguista!

20/03/2011

..cruzes canhoto

…cruzes canhoto! Se dúvida alguma existisse, os comentários das últimas horas dos mais diversos quadrantes políticos dissiparam as nuvens de incerteza sobre a época que celebramos. Se não é nas palavras do Dr. Portas no soporífero Congresso do CDS, onde a alusão à cruzinha numas hipotéticas eleições em que o CDS vai ser Governo foram o prato forte, ressalta evidente nas palavras duras da Paula Teixeira da Cruz acerca da data da tal carta que o nosso Primeiro rascunhou e enviou para o amigo “porreiro pá!” Barroso [abra-se já uma comissão parlamentar e chama-se o Presidente dos CTT!]. Até o camarada Jerónimo doutor nas artes pagãs da doutrina marxista veio esta semana a púlpito declarar que o Governo oferece aos portugueses uma da duas cruzes, qual delas a mais dolorosa. Não há notícia de que alguns dos fiéis se tenha benzido após a apologia da morte do senhor Sócrates, morte política está claro. Mas voltando aos teixeirismos, o nosso ministro da Fazenda inaugurou também a semana que agora passou uma nova forma de abordagem aos assuntos do estado das finanças: conferências a conta-gotas seguidas de declarações bombásticas e terríveis. Como se não bastassem três PEC [nunca entendi bem onde encaixava a palavra crescimento nisto tudo?] agora o novo alvo a abater são os pensionistas e os futuros desempregados, quer por via da diminuição do tempo de subsídio, quer [ainda mais avassalador!] pela diminuição abrupta da própria indemnização! Se há medidas que dificilmente compreendo, esta é uma delas. Em que medida este ataque ao proletariado se insere numa política dita socialista, democrática e dinamizadora do emprego. Em que medida vai contribuir substancialmente para diminuir o défice português? Procurei a resposta a esta pergunta por debaixo do tapete da minha secretária mas nem o pó vislumbrei. Aliás encontrei a resposta no protesto da semana passada materializada nas famosas notas de 500 euros com a estampa do nosso Primeiro. Mas descansemos irmãos, provavelmente ainda nos próximos meses somos capazes de ser novamente chamados a colocar a cruzinha na folha das falsas ilusões, ou não, dependo da capacidade do sistema informático em reconhecer os portadores da cartão do cidadão.

Ainda assim continuo com uma dúvida: será que o nosso Primeiro também escreveu uma carta com o manifesto eleitoral da sua recandidatura ao PS à Angela Merkel? ou enviou em correio expresso para chegar antes da conferência de imprensa de ontem?

Outra dúvida que me apoquenta é a falta de protagonismo nos media da grande manifestação da CGTP, que ontem levou pela segunda semana consecutiva, milhares de descontes [provavelmente os pais dos da semana passada!?] à nossa primaveril capital. Será que a falta dos 20 skinheads e dos clientes do BPN fizeram a diferença? Os Homens da Luta também estiveram lá ontem,pá camaradas! Ai cruzes canhoto…

Por último, não ouvi os comentários do nosso Presidente acerca da memória dos soldados que caíram no teatro da guerra do ultramar, mas pelos vistos ainda bem que não ouvi. Também me parece que não vou ouvir tão cedo os comentários que ele não vai fazer acerca da crise política em que o nosso País se encontra mergulhado. Afinal o que está em causa é do foro dos correios. Não é matéria séria como escutas telefónicas ou assuntos relacionados com a Região Autónoma dos Açores.

(photo by: do grande fotógrafo Eduardo Gageiro)

12/03/2011

...acordar

Uma noite acordarei junto ao corpo infindável
da amada, e meu sangue não se encantará.
Então, rosa a rosa murcharão meus ombros.
Quer dizer que a sombra carregará meus sentidos
de distância, como se tudo fosse o cheiro
que as ervas pungentemente perdem
através do silêncio.


Plácido chegarei à mesa, e de súbito
meu coração se atravessará de gelo puro.
O vinho? Perguntarei. Flores de sal cobrirão
a luz poderosa do meu olhar.
Tempo, tempo. Eu próprio perguntarei no recente
pasmo da minha carne: o vinho?
Rosa a rosa murcharão meus ombros.
Então lembrarei a vermelha resina, o espesso
murmúrio do sangue,
o ocre e sobrenatural aroma das acácias.
Tentarei encontrar uma forma.
Com beijos antigos um momento ainda queimarei
o corpo solitário da amada, direi palavras
de uma ternura azebre.
E uma vez mais me perderei, dizendo: o vinho?
Rosa a rosa murcharão meus ombros.



Herberto Helder

(Photo by: Michael Papendieck)

06/03/2011

...o ano da morte de Alberto Granado

...aos poucos caiem como peças de dominó, uma após outra, as ditaduras islâmicas suportadas e acarinhadas pela real politik europeia e norte-americana. A esse propósito, retive com alguma ironia e pude deixar de apreciar a postura blasé do nosso bem Amado ministro dos assuntos externos (gosto mais do sotaque do inglês foreign affaiars), ao descaracterizar toda da a polémica em redor do reiterado apoio do ainda actual Governo à ditadura do coronel Kadhafi.
É caso para perguntar, e se Portugal não tivesse interesses nesse e noutros países nas barbas do deserto do Sahara? E se da Argélia, Líbia ou Nigéria não caísse pinga de ouro negro ou sopro de gás natural? Estaria a fortaleza europa tão receosa das movimentações desses povos? E se um dia jangadas milhares desses Povos do Mar sulcarem as águas do mar do meio e entrarem na fortaleza que dizemos nossa, em busca de melhores condições de vida? Quem terá capacidade para suster esta massa humana, quem terá a coragem política de submergir essa vontade sonhada por cada vez mais povos que resistem às migalhas lançadas pela cobiça dos povos da velha europa?

Mas não deixa de ser inquietante ver o quão frágil é a estrutura do poder nestes países tão perto de nossa casa, e a velocidade com que o vírus ou a vacina (alea jacta est) se propagou na maré desse mar que nos divide e nos une. Contrariamente a outras revoltas, não vi bandeiras dos inimigos clássicos a serem queimadas, não vi o livro sagrado bem alto no céu com uma mão firme a apelar ao Altíssimo morte aos infiéis! Vi novos e velhos. Vi gente do campo e da cidade, gente como nós com uma vontade enorme de mudar. O tempo decidirá o pendor da mudança.


De volta ao nosso canto, cumpri a velha tradição de não assistir ao festival da canção. Na minha lembrança saudosista, recordo apenas o playback do Carlos Paião, o mítico José Cid e o fabuloso Quarteto 1111, o grande Fernando Tordo e a voz do Carlos do Carmo, a nossa Simone ou a singular Tonicha. Alguém se lembra dos Gemini? Ninguém. O Festival da canção morreu com o apogeu da cor.



Confesso que fiquei espantado para não dizer intrigado quando hoje de manhã vi que os Homens da Luta tinham vencido a edição deste ano. Como diria o nosso caro Primeiro “este é um momento histórico”. Da mesma forma que a revolução de jasmim nasceu do Facebook e das redes sociais, por cá o povo tomou a palavra e por momentos pudemos saborear um doce aroma a PREC como há muito não se via neste país. É caso para gritar bem alto: tragam-me um cabaz de madeira para eu subir e gritar!. É disto que o povinho é gosta!
Realmente vivemos momentos históricos, épicos eu sei lá mais o quê. Falta-me adjectivos e prosa homérica para classificar tudo o que me vai no rodapé. Por exemplo quem poderia imaginar um primeiro-ministro português deslocar-se com o séquito das finanças ao gabinete da Sr. Merkel, para  pedir a bênção e aprovação das medidas do PREC e as que se seguem (já se falam na versão 3.1a!). Já estou a imaginar o nosso Primeiro com o nervosismo que o identifica e o ministro do fazenda pública com os dedos suados a tentar limpar os números da execução orçamental de Fevereiro no seu Ipad, ambos sentados na antecâmara de espera, com a sinfonia inacabada de Schubert no ouvido e a incerteza dos mercados na cosnciência. Que revistas terão lido? a Hola! espanhola, a Caras portuguesa ou corrosivo Der Spiegel?
Nestes quase 37 anos que nos separam da madrugada dos cravos, nessa manhã em que as gaivotas voaram, com asas de vento, e coração de mar, nunca imaginei sentar-me na sala de espera com a dúvida oscilante entre a sandes de coirato e a salsicha Bockwurst. Provavelmente daqui a uns tempos para além ámen ao Orçamento da República, seremos convidados a introduzir o alemão nas escolas e a substituir o renegado Camões por um mais consentâneo Goethe.

Espero sinceramente que a Cimeira de Primavera decorra com o vento de feição e que em Outubro possamos celebrar de forma entusiástica a Oktoberfest sem o catarro dos mercados, nem a micose do FMI a assar as pertuberâcias nacionais.
No entretantos, sempre podemos exportar os Homens da Luta para aquecer as hostes da chanceler. De uma coisa podemos estar garantidos: da mesma forma que o campeonato já não sorri ao Sporting, já ninguém nos tira o último lugar no Festival da Eurovisão.
Mudando agora o catavento para sul, fiquei amedrontado com a revelação surpreendente do ex-presidente Dr. Jorge Sampaio. Portugal está “em apuros”. Não fui eu que disse, não foi o também ex-venerado Dr. Mário Soares (mais preocupado com do day-after da manifestação da “geração Deolinda”) e muito menos o benjamim António José Seguro que esta semana se colocou (também ele) em cima do caixote da fruta e disse que depois de Sócrates logo se vê.
E assim vamos nós alegremente, avenida da liberdade abaixo no cortejo carnavalesco da fábula de duas páginas do Bloco de Esquerda, e uma manifestação des parvos e parvas que os Deolinda cantam. “É disto que Portugal precisa” usando soundbyte preferido do nosso caro Primeiro.


Notas do chefe de mesa: recomendo vivamente o filme Black Swan uma petit chef-d’oeuvre com uma interpretação notável da bela Natalie Portman (profunda admiradora do irrecuperável Galliano) e por último uma lufada de ar fresco em termos de banda desenhada: Rango, um extraordinário western spaghetti camuflado com humor por um camaleão com problemas de identidade, uma banda sonora sob a batuta e mestria da ILM. Sabe bem o cinema pipoca sem os incomodativos óculos 3D!
Entretanto divirtam se e aproveitem para se desmascararem. Afinal de contas há que aproveitar estes dias para deixarmos de ser palhaços tristes.
No ano da morte de Alberto Granado a pobreza e à injustiça social persistem de mãos dadas com a desigualdade, o desemprego e a fome envergonhada. A luta por um mundo mais justo e melhor não é uma ideologia nem uma utopia. Infelizmente, é uma necessidade.

Bom Carnaval!

photo by: Michael Papendieck