31/12/2012

...last famous words


Vim agora da minha última tentativa [bem sucedida] para comprar uma bomba de confettis made in China e uns balões coloridos com um Happy New Year com hélio português. No caminho das pedras fui tomando um conjunto de notas mentais sobre a minha perspectiva pessimista realista sobre o ano que se avizinha.Chove.

Depois de um 2012 para esquecer a todos os níveis mais umas quantas sub-caves, tudo o que seja acima de mau vai acabar por ser suficiente ou mesmo aceitável, um pouco como as notas na pauta do primeiro período. Desde logo o meu acto de fé: não acredito neste OE2013 publicado hoje na surdina da azáfama das passas e do espumante rasca.  Definitivamente deixei de me rever nas projecções optimistas do Governo, sobretudo num ministro que falhou em toda a linha e num conjunto de aprendizes que todas as semanas se reúne em redor do mais ilustre habitante de Massamá.
 
 

Depois de Troika, crise e austeridade, as palavras que vamos continuar a ver pintadas nas paredes e nas bocas do mundo continuarão a ser desemprego, perda de direitos e convulsão social. Tal como o advinho Spurinna também eu alerto para o perigo dos idos de Março. A publicação dos dados do INE no boletim da Primavera, bem pode ser este o princípio do fim da epifania política do senhor de Massamá. Para o sucesso desta nossa desventura, espero estar errado.

Mas antes, já em Fevereiro vou estar atento ao dito plano de "Refundação do Estado", esse momento Artur Baptista da Silva do nosso PM. Só ainda não entendi uma coisa de somenos importância: como é que um plano que é apresentado aos parceiros como um facto consumado e presente aos reis magos da Troika envolto em incesso e mirra, mantém-se em discussão até o verão quente de Agosto?

Já nas próximas semanas, depois das férias decretadas por sua Exa. O Senhor dos Pastéis de Belém e do Bolo Rei, o Tribunal Constitucional vai-se transformar numa espécie de El Corte Inglès no Black Friday. Vai ser um ano em cheio para os excelsos juízes do Ratton, a começar com a fiscalização sucessiva do OE2013 acarinhada pelo PS, BE e PCP..e umas quantas vontades recalcadas do CDS e PSD, a revolução administrativa em curso, O IMI, entre outos fait-divers. Ainda assim, o prime-time está reservado às telenovelas Isaltino, BPN, Monte Branco, Submarinos, Casa Pia e outros tantos episódios truculentos do nosso quotidiano. No fundo a continuação do longo capítulo da injustiça á nossa moda.

Algures entre o retorno das andorinhas e a próxima Feira do Livro [se entretanto não for anulada pela CML por novas obras no Marquês], será interessante verificar se submarino azul aguenta a tormenta da agitação social abrilista. Apesar de confiar mais nas previsões das ciganas romenas do Parque Eduardo VII, estou em querer que o Caldas vai começar a escaldar antes de levantar fervura na Lapa.

Lá para os meandros do calendário há um Congresso do PS, altura em que veremos se é desta que o Presidente do ajuntamento de freguesias agregadas à força de Lisboa vence o seguro de vida deste Governo. Sim porque não é com açaimes de raiva contida ou lapsos de memória recente que este partido socialista leva a noiva ao altar. Relembremo-nos que os nubentes em causa resultaram um casamento civil de conveniência, com um padrinho à espanhola em Belém, com uma vontade irrascível de manter a relação incestuosa. 

Ainda não falei do BE porque ainda não entendi a química entre o Semedo e a Catarina. Pessoalmente gostava mais da oratória barroca do primo do outro Loução. Quanto ao PC do camarada Jerónimo só espero que a cassete passe finalmente a DVD.

2013 vai ser um ano parco em vendas sonoras. Já pouco sobra, mas ainda há a Torre de Belém, o Mosteiro da Batalha ou a  Torre dos Clérigos. Estou indeciso entre vender a Madeira aos marroquinos ou alugar o Allgarve aos Sarracenos, mas de todas as hipóteses a que me satisfaz mais será sem dúvida alguma  a concessão desses espaços de inaudita fruição e prazer, por tempo indeterminado tal como sucedeu com a ANA. Esta sim seria uma medida com impacto visível no défice público. Matavam-se dois coelhos numa cajadada: por um lado acabava o triângulo das bermudas da economia madeirense no erário público, e por outro os portugueses podiam começar a beneficiar a poupança e o aumento da produtividade em detrimento do dinheiro supérfluo gasto em vícios pouco saudáveis como passar férias na praia ou comer em estações de serviço de qualidade duvidosa sandes de leitão a preço de caviar russo.

 Ainda no subcapítulo da produtividade, para além dos supra assassinados feriados civis (ver último post), a Santa Sé deu bênção a dois autos de fé. Este conjunto de medidas de reciprocidade duvidosa vai ter como corolário…mas 1 dia de trabalho comparativamente a 2012. Nada a acrescentar em abono da medida. É bem provável que o vendedor de farturas ou a roulotte das sandes de courates serão os mais beneficiados com a medida.

Também pode ser que Abril traga boa novas e tudo o que atrás disse seja manifestamente o contrário do que presumo. Nesse caso, as minhas desculpas pelo equívoco técnico!É que equívocos destes também acontecem....

 
Mas não digam que eu não avisiei!

photo by: Ines Belkhala

...every time I say goodbye




O Ano de 2012 foi a todos os níveis memorável. Em primeiro lugar este blog teve mais visitantes e comentários do que check-in do aeroporto de Beja, por outro lado gastei menos tempo a escrever do que nos anos anteriores e não cedi à opressão do Novo Acordo Ortográfico. Por último, este blog mantém a classificação DOC 100% português sem corantes nem conservantes que é como quem diz, ao visualizá-lo está a contribuir para a economia nacional e para o equilíbrio do défice da balança comercial. Mas nem sempre foi assim.

De facto, o ano que agora termina pode ter sido o início dos piores anos das nossas vidas:

1.       Continuam a fazer de nós palhaços pagantes no circo da política caseira;

2.       Somos confrontados com declarações bizarras e assaz tristes nas redes sociais dos principais magistrados da nação: PM e PR; há que chamar os bois pelos cornos;

3.       Foi decretado o fim do 1 de Dezembro e do 5 de Outubro, os feriados mais antigos e mais significativos do ponto de vista histórico;

4.       A receita bimby que a Troika nos impõe conduziu milhares para o desemprego, milhares para o limiar da pobreza;

5.       Os amigos do BPN continuam confortavelmente sentados no trono da inocência a saborear a austeridade imoral, enquanto nos centros de desemprego e no desconforto da noite, rostos de solidão e resignação choram por dias melhores;

6.       O Estado Social foi substituído pela caridade mesquinha e a necessidade de racionamento, numa trajectória evolutiva pautada por uma iníqua falsidade social;

7.       Os pobres, os reformados e todos aqueles que supostamente beneficiavam da extrema bondade do Estado, são mais hoje do que nunca, os bodes expiatórios de uma insensibilidade social nunca vista em democracia;

8.       O SNS e a Educação, sustentáculos de década de luta e reconquista são hoje um castelo de cartas ao sabor de um memorando que ninguém quer perfilhar, mas onde todos se refugiam;

9.       etc.

Muito haveria para dizer…basta sair e acreditar no que vemos, já que a realidade que nos vendem não passa de banha da cobra.

Até jazz!

24/12/2012

...um Santo Natal para todos!



1Por aqueles dias, saiu um édito da parte de César Augusto, para ser recenseada toda a terra. 2Este recenseamento foi o primeiro que se fez, sendo Quirino governador da Síria. 3E iam todos recensear-se, cada qual à sua própria cidade. 4Também José deixando a cidade de Nazaré, na Galileia, subiu até à Judéia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e da linhagem de David, 5a fim de recensear-se com Maria, sua mulher, que se encontrava grávida. 6E quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz 7e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoira, por não haver lugar para eles na hospedaria. 8Na mesma região encontravam-se pastores, que pernoitavam nos campos guardando os seus rebanhos durante a noite. 9O anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu em volta deles, e tiveram muito medo. 10Disse-lhes o anjo: “Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: 11Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias, Senhor. 12Isto vos servirá de sinal para o identificardes: encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.” 13De repente, juntou-se ao anjo uma multidão de exército celeste, louvando a Deus e dizendo:
14 “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de Seu agrado.” 15Quando os anjos se afastaram em direcção ao Céu, os pastores disseram uns aos outros: “Vamos então até Belém e vejamos o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer.” 16Foram apressadamente e encontraram Maria, José e o Menino, deitado na manjedoura. 17E quando os viram, começaram a espalhar o que lhes tinham dito a respeito daquele Menino. 18Todos os que os ouviram se admiraram do que lhes disseram os pastores. 19Quanto a Maria, conservava todos essas coisas ponderando-as no seu coração. 20E os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, segundo lhes fora anunciado.

(Lucas 2,1-20)

02/12/2012

...ai aguenta, aguenta!

…a esta hora algures em Almada, uma enorme barraca de venda de cassetes mono deve estará a fervilhar de ideologia e colectivo partidário. Sim é o enésimo congresso do PC. E este ano mais do que nunca a cassete esteve presente, não só no acto inaugural com aquele instantâneo do jornalista do Expresso, mas no discurso político. Convenhamos, a doutrina pode ser um pouco compartimentada, ortodoxo, dura, o que entenderem, mas a realidade dos factos, paulatinamente tem dado razão às teses defendidas elas vozes que ecoam daquele lado de lá da iron curtain. Já na sexta-feira a saudosa Odete citava outro indefectível camarada da causa, o Almeida Garret :
«E eu pergunto aos economistas, políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?».
 Mas vamos a assuntos mais adstringentes: enquanto na Alemanha punem-se com penas de prisão os responsáveis pelas negociatas dos submarinos, por cá distrai-se a opinião pública com um julgamento sui generis em que a defesa alega que os pecados estão todos perdoados derivado ao facto de existir um novo agreement de contrapartidas entre o Estado o Grupo alemão MPC. É sempre agradável quando tudo termina em bem, não é? Mas vamos por tartes, :
  •  2 submarinos que nem sempre funcionam bem e com alguns remendos - 1.070 M€ (pagamento até 2026)
  •  Contrapartidas negociadas na altura do anterior contrato com a German Submarine Consortium (geridas pela Man Ferrostaal) – aproximadamente 1.210 M€ distribuídos por 39 projectos de capacitação e indústria portuguesa
  • Novo acordo entre o Ministério da Economia e o fundo de investimento MPC - recuperação do hotel de luxo Alfamar (Albufeira) e um investimento de 150 M€
 Quando o limite da generosidade alemã esbarra na intransigência do actual Governo, podemos estar seguros e confiantes na defesa da (des)causa pública.
 
....para dar continuidade à submersão demagógica do negócio...
 
...durante o zapping que habitualmente faço durante os noticiários indigestos da hora do jantar em família (um dos luxos que ainda conservo) pareceu-me ouvir o (ainda) PM a referir-se a qualquer coisa semelhante a co-pagamentos na educação. Pasme-se, o corte da tal refundação, reformulação, o diabo que o carregue da reforma do Estado Social, iria ser inteiramente direccionada para as prestações sociais e para as pessoas, já que segundo os dados confirmados e sublinhados pelo INE, 70% da despesa total do Estado português incide sobre essas rúbricas.
 
Não digo que a novidade do PM tenha sido uma cluster bomb, ou uma blitzkrieg, mas os soundbytes já fizeram moça nem que tenha sido pela recusa frontal por parte do ministro Nuno Crato no que diz respeito ao ensino básico. Quanto ao ensino secundário e quanto ao SNS, já tenho as minhas dúvidas que as fatwas inscritas na redacção da Constituição particular do Governo, não lancem as bases para um regime fundamentalista alicerçado na educação e saúde só para alguns. Será que são necessárias mais crianças a desmaiar nas escolas com fome? Quantos agregados irão suportar o pagamento de propinas no ensino secundário, para além dos avultados custos que isso acarreta actualmente!!
Mas não deixa de ser curiosa esta perspectiva simplista & simultaneamente ignorante por parte da teocracia que (ainda) nos governa. Quando o discurso da oportunidade para aproveitar a crise, o vislumbre de uma nova oportunidade perante o facto consumado do desemprego, este novo desígnio ultramarino de exportar jovens e não jovens para outras terras, para outros mundos, passa a ser denominador comum de todos aqueles (que por agora) juram a pé juntos fidelidade ao actual establishment, refundar o Estado Social retirando todas as conquistas obtidas por décadas e séculos de luta em matérias fulcrais como a educação e a saúde, é apenas o corolário da vocação de um político menor, num país que merecia muito mais.
 Dividir para reinar sempre foi o desígnio de gente medíocre, e em última instância o prenúncio do seu colapso.
Quiz da semana:
1.       Quantos aviões aterraram esta semana no aeroporto de Beja?
  • Opção 1: <1
  • Opção 2: entre 1 a 3
  • Opção 3: >3
2.       De entre os grupos sociais, seleccione aqueles com maior probabilidade de atirarem pedras à Assembleia da Repúlica?
  • Opção 1: Estudantes anarquistas mascarados.
  • Opção 2: Estudantes anarquistas mascarados, estivadores, sindicalistas, professores, trabalhadores da RTP, funcionários públicos na disponibilidade, desempregados.
  • Opção 3: Estudantes anarquistas mascarados, estivadores, sindicalistas, professores, trabalhadores da RTP, funcionários públicos na disponibilidade, desempregados, e agentes de segurança infiltrados.
3. Qual a próxima rotunda que vai ser alvo de refundação pelo Presidente da Cãmara Municipal de Lisboa?
  • Opção 1: Saldanha
  • Opção 2: Relógio
  • Opção 3: ambas
4. Os banqueiros portugueses acham a ideia da criação de um Banco de Fomento?
  • Opção 1: Não, até ao dia 12 de Novembro
  • Opção 2: Sim, depois do dia 12 de Novembro
  • Opção 3: ambas
Por último, uma pequena observação: o membros da Troika vêm na figura do nosso ministro da fazenda uma personagem fascinante, único quiçá. Gostava que alguém me explicasse, uma medida, um facto, um número que espelhasse de forma inequívoca essa devoção. Preferencialmente fundamentada com dados do INE, como é óbvio, e não como os eufemismos e o sarcasmo das suas intervenções.
Nota de redacção: o burro e a vaca não entraram no quadro de disponíveis do Presépio, o Gaspar mantém as mesmas oferendas, mas passou para terceiro na hierarquia dos soberanos adoradores. Quando chegar à Páscoa, logo se verá se o Coelho se mantém.

11/11/2012

...por favor fechem as torneiras


“O que é que tu queres pá?” terá sido a resposta do Relvas ao cartaz do “Benvindo Dr. Relvas”. Mas antes de certeza absoluta que houve mais mimos entre entre o jornalista os guarda-fatos que acompanham o ministro. Ainda não foi desta que o Relvas se martirizou perante a opinião pública. Mas tenho a certeza que mais cedo ou mais tarde, o dito senhor vai ter o seu momento Marinha Grande, ainda que com a quantidade de armários que acompanham cada dignatário neste momento no país, é mais fácil o Sporting ganhar um jogo do que a ministra da Agricultura levar com uma Apfelstrudel na cara.

Por falar em culinária alemã, a mail alta magistrada do nosso país, vem a Portugal. Da minha parte só lhe desejo uma boa estadia, que possa saborear os nossos saborosos Pastéis de Belém, que coloque umas flores no túmulo do nosso poeta maior, e que lhe seja presenteado um faustoso cozido à portuguesa para melhor digerir a viagem de regresso. Nada me move contra a senhora, já contra aquilo que defende e o facto de não ter a memória histórica, isso sim aflige-me. Talvez tenha chegada a hora dessa senhora e os seus lacaios olharem um pouco para a história do período pós II Guerra Mundial e observar bem quem ajudou a reconstruir o que restava do III Reich. Talvez tenha algumas surpresas desagradáveis. Muito, mas mesmo muito mais haveria para escrever, mas estamos em época de austeridade e é melhor poupar na tinta. Fico-me apenas com este número: cerca de 20% da mão-de-obra alemã vive numa precariedade triste, e o milagre alemão é uma ilusão tão grande como as estatísticas económicas chinesas. A médio-longo prazo cá estaremos, honradamente sentados num sofá roto com as molas a entrarem na alma, para ver o resultado da usura alemã na Europa.

O BE escolhe este fim-de-semana, uma estrutura bicéfala para dirigir o partido nos próximos combates políticos. Apesar dos princeps senatus merecerem o meu mais profundo respeito, tenho receio que esta solução não passe de uma recriação entre tetrarquia romana e a actual situação da União Europeia. CAda cabeça sua sentença. Nesta Europa supostamente liderada por um senhor que pouco ou nada adianta  - o senhor Van Rompuy (pars Orientis) -  e uma baronesa que ninguém conhece ou que simplesmente foi obliterada pelo mediatismo da chanceler -  a senhora Catherine Margaret Ashton (pars Occidentis) - nada, mesmo nada nos permite repousar. De facto, faltam-os "políticos gordos", referências. Com se não bastasse, ainda ainda sobram figuras ainda menores, como é o caso do Sr. Barroso (o emigrante português mais envergonhado de o ser), ou o Sr. Martin Schulz. Que Europa é esta? 

Eu gostei do que a Isabel Jonet tentou transmitir, exceptuando 80% do que disse. Digamos que que a essência está correcta, mas a abordagem que utilizou foi quiçá ingénua.  Receio que os ataques que ela semeou por motu proprio, tenham uma final infeliz. Há uma passagem da Bíblia que recomendo a leitura, para todos aqueles que movidos pelo frenesim e o soundbyte causado pelas declarações da Jonet, queiram ou pretendam atacar a obra do Banco Alimentar Contra a Fome ou mesmo a Cáritas:

“Quando, pois, deres esmola, não permitas que toquem a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa.” (Mt 6, 2)
Quando vi o Sr. Passos a convidar o Sr. Seguro para um chá dançante, em que o tema era o corte já estabelecido de 4000 M€ acordado no road map definido na 5ª avaliação, senti uma espécie de aperto na gargantilha. Assemelha-se um pouco aqueles casamentos pré-agendados em que a noiva vai ter que se abrir mesmo contra vontade. Há convites mais envenenados. Depois de meses a fio em que toda a oposição foi ignorada, os parceiros sociais subalternizados, e numa altura de visível ausência de autoridade política, talvez seja demasiado tarde para lançar uma tábua de salvação neste bote de náufragos. O mal está feito, e é incrível que nem o próprio ministro da Fazenda acredite no Orçamento que apresenta.

Relativamente à constitucionalidade do OE2013 não me vou pronunciar antes de o analisar. Não sou pressionável e quando lavo os dentes fecho a torneira.

Nota de rodapé: A Isabel Jonet disse que viu nas ruas de Atenas aquilo que ainda não tinha visto em Portugal. Pois bem, convido-a a sair do gabinete e ver o país como os próprios olhos....

01/11/2012

...mortal combat




Nunca a palavra refundar teve tanto holofote e motivou tanta preocupação. Provavelmente é uma daquelas palavras do dicionário que estariam à partida condenadas ao esquecimento, mas de repente, saltaram para a ribalta dos processadores de texto. Julgo que na minha curta existência enquanto cozinheiro de letras & ideias, nunca me tinha passado pela imaginação, escrever uma frase que fosse sobre conceito tão vasto e tão vago. Mas como o outro disse um dia, “..é uma oportunidade para mudar de vida”.

A princípio não liguei muito ao conceito em si “refundar o memorando de entendimento com a troika”, e cai na tentação de presumir que os doutos que se sentam na cadeira do poder iriam emendar o erro colossal em que insistiram no último ano. Mas não. Num país, onde os deputados da Nação saem sobre escolta policial do púlpito máximo da democracia, em que o poder de mobilização de quem Governa, é escasso ou nulo. Já não há nada a temer, já não há nada que esperar.

Durante anos, fomos bombardeados com uma cantilena de nutricionista arvorando pretensa gorduras do Estado que seriam eliminadas, reformas estruturais que mais não fizeram senão destruturar ainda mais o Estado e o país.

Esta fábula das reuniões, dos apelos ao PS (antes carrasco da Nação, agora travestido de salvador-mor da pátria) para um entendimento alargado faz-me recordar aqueles casos de violência doméstica, em que a mulher depois de anos de porrada do marido, volta aos seus braços, até à próxima nódoa negra.

Chegamos ao zénite da questão: chegou o momento de ver qual a fibra que a uns demove e os outros oprime. Até agora foram flores, a partir de agora começa uma luta sem quartel. Depois disto, nada será como dantes. Uns ficarão pelo caminho, outros nem chegarão a vê-lo. Chegou a hora de ver se o povo é sereno.

Por aqui ficamos atentos ao desenrolar da estória do melhor povo do mundo…enquanto não mudamos de vida.

15/09/2012

...massa folhada & doce d'ovos


…hoje devo ter acordado com algum Borges, tudo me lembra Borges (não confundir como o Borges & Irmão, esse ilustre banco). Comecei o dia á espera que o velho das bolas de Berlim acabasse o telefonema logo no momento exacto que escolhia entre uma bola com creme ou simples. É quase com escolher entre pedir um pastel sem a nata. Ao folhear (ou melhor tentar!) as páginas do jornal perante a adversidade da brisa matinal, tudo me lembrava Borges e RTP. As folhas sucediam-se e lá estava ele, na personagem de 13º apóstolo do capitalismo cruel, 8º anão da Branca de Neve, o querido Consultor, o homem da máscara de ferro, eu sei lá como classificar bizarra personagem.
O Borges acredita fielmente que as empresas públicas são mal geridas. Ele estruturou um mundo privado, onde o público é uma aberração. Quem está a mais é despedido. Quem gere mal é exonerado, privatizado, desprezado. Não sei o que o Borges pensa sobre o assunto, mas tenho a certeza que se ele acreditasse mesmo na doutrina que o persegue, já tinha demitido o seu patrão.
O Relvas é um tipo inteligente. Foi para o recanto mais longínquo onde os feixes hertezianos demoram uma eternidade a chegar, logo na altura em que o Borges se sentou no sofá e começou a explicar a visão do patrão. Ouvi que os chineses pensam colocar um homem na lua nos próximos tempos. Pode não ser tão confortável como estar alojado no ritz de Díli, mas pelo menos lá [na Lua] não há cartazes na rua. 
Como eu te compreendo Passos. Mas histeria seria se, em vez da Judite Sousa a entrevistar o Borges aparecesse um Goucha ou quem sabe uma Fátima Lopes. Histeria é entregar o serviço público a um privado e continuar a pagar a taxa de televisão na factura da EDP. Para além de histeria, seria fazer o Zé e da Maria, uns idiotas completos.
Continuando na mesma senda ideológica, ainda não reflecti no novo ordenamento do ensino proposto pelo beato Crato, ilustre matemático. A teoria da irracionalidade do chumbo, fez-me recuar uns anos largos ao tempo em que entrava de manhã e sai da parte da tarde sem ver meninas de saia, pelo singular motivo de ser imoral e perturbador da atenção, ter umas saias lado a lado na sala de aula. Querem saber a minha opinião? Esta experiência do amigo Crato de concentrar alunos em latas de sardinha para diminuir o número de professores, de acabar com os sorrisos de crianças nas aldeias e coloca-las a quilómetros de casa em mega escolas que depois não têm orçamento para as manter é um erro colossal. Tem o aroma a estalinismo puro ao concentrar os alunos em autênticas fazendas Sovkhoz, com uma estranha redução ao ao fascismo primário do “porque tem que ser”.
Há alturas marcantes que figuram nos manuais de História. O dia 7 de Setembro de 2012, vai constar dos índices como o dia em que Portugal acordou do longo sono induzido pela irrealidade socialista e o desprezo social do liberalismo selvagem deste actual elenco governativo. Mas vamos por partes.

Como o Miguel Sousa Tavares disse e muito bem, todos tínhamos uma ideia que o Passos era a pessoa mais séria do mundo e que tinha uma coragem e uma frontalidade ímpares. Ficamos a saber que afinal, como bom político que é, também mente descaradamente e vive num mundo que não é o que pisamos. Apesar da sua coragem, de andar de Opel Corsa, morar em Massamá e ser capaz de imolar a fome com uma sandes de queijo, cometeu a iniquidade de pensar que os Portugueses são como os pastéis de nata do seu amigo Álvaro, comem-se em duas dentadas, e são, óptimos para exportar.

Não contente por espoliar os funcionários públicos de dois subsídios, agora sob pretexto da decisão do Tribunal Constitucional, decide que todos somos pastéis de nata descartáveis e que pelo contrário, o dito Capital deve manter-se como o Pastel de Belém. Contrariando toda a ideologia económica e ao arrepio da social-democracia que diz ser paladino, toca a extorquir ao trabalho (malus) e granjear o capital o bónus. Numa penada, o mero contribuinte, a sua família, os seus filhos e restante massa folhada com creme d’ovo, passam a ser os únicos e presumidos culpados da inoperância e descontrolo financeiro do Governo. É a inversão total da lógica política no seu zénite. Eu presumo que com esta experiência social do amigo Gaspar, [que os amigos da Troika aplaudiram como sendo uma solução ardilosa] seria capaz de juntar Marx e Keynes na manifestação de logo à tarde. Vistas as coisas, não somos pastéis de nata, somos meros ratos de laboratório.

Não vou aqui anunciar o coro de insultos, enumerar as vozes dissonantes dentro dos partidos que “apoiam” esta maioria governativa e os de fora, mas uma coisa posso afirmar. Nunca se viu tanta unanimidade neste país como agora, talvez exceptuando o 25 de Abril, os jogos da Selecção Nacional sem o Ronaldo e os últimos dias de Timor ocupado.

Relativamente ao amigo Portas: Há silêncios que são ouro, outros são simplesmente demolidores. Certamente já reparou que uma simples conferência de imprensa do seu amigo Passos, acabou de vez com a ideologia e os princípios que defende. E não é o argumento do patriotismo bacoco, ou necessidade de ouvir o Conselho Nacional, O Partido ou o dono da pastelaria que lhe vai permitir explicar aos seus correligionários que esta é de facto a via democrata cristã que fundamenta a existência do seu partido.

Aproveitando a ideia do amigo Álvaro que a indústria mineira será o pilar da recuperação da nossa Jangada de Pedra, lanço-lhe um desafio, abra um buraco na rocha mais dura que encontrar e enfie-se no buraco que alimentou. Em opção continue a encher o cartão da TAP com milhas como faz o Dr. Relvas.

Logo vou à manifestação sem preconceitos ou ideias mágicas para resolver o problema. Não tenho uma bola de cristal, mas sei distinguir perfeitamente entre um político sério e honrado de um simples ladrão. E é isso mesmo que se passa hoje em dia. Penso que tal como o amigo Crato define os alunos que simplesmente não têm jeito para a escola, talvez não fosse má ideia colocar alguns senhores deste Governo no ensino profissional. Temos óptimos candidatos a canalizadores, picheleiros e algumas cabeleireiras.

Mas enquanto o circo prossegue até chegar a Janeiro altura em que começamos a ver o alcance do saque, deixo ao amigo Passos duas notas: 7 de Outubro (Porto-Sporting), 9 de Dezembro (Sporting Benfica). Duas datas excelentes e recomendáveis para se dirigir ao País, uns minutos antes de cada jogo e anunciar aos pastéis de nata que :

 - O dinheiro que nos vai roubar vai ser desviado para assegurar a nossa reforma e um Portugal mais justo;
- Vai começar a cortar efectivamente nas despesas do Estado e não andar a “fazer cócegas” aos Pastéis de Belém;
 - Vais fiscalizar se o dinheiro da descida da TSU vai servir efectivamente para combater o desemprego ou se vai ter como destino os dividendos dos accionistas;
- Vai tributar as mais-valias em bolsa o dinheiro desviado e não declarado para paraísos fiscais e outros dividendos com a mesma agressividade fiscal como nos vai ROUBAR;
- Vai cortar com todos aqueles subsídios estúpidos do Estado que ninguém entende?
- Vai resolver de uma vez por todas todos aqueles empregados que chegam picam no ponto e nada mais
 - Vai terminar com os abonos às supostas eventuais fundações que ninguém entende a utilidade;
 - Vai resolver de uma vez por todas a negociata das PPP, mas sem os mesmos escritórios de advogados que prepararam os contractos iniciais (sugiro por exemplo o FMI como auditor; já que gostam de cortar!):
  - Vai cortar efectivamente nas PPP porque também tem o descaramento e cortar em quem vive de um salário de miséria e não tem luxos;
 - Vai diminuir os assessores, secretários, carros de luxo em tudo o que é aparelho do Estado, (uma verdadeira aberração em qualquer país que se preze);
- Vai reduzir o número de deputados que é inapelavelmente desmesurado tendo presente com o tamanho e população portuguesa.

Só assim, talvez consiga fechar aos olhos ao facto de aumentar 60% na minha contribuição para a Segurança Social e o mais que há de vir da actualização do IRS e perda de benefícios fiscais, que vão fazer com que o meu orçamento familiar regrida uma década. A tal década perdida.

Mas por favor. Fale com o Portas e telefone ao Seguro com o mínimo de duas horas antes de aparecer no Palácio de São Bento com o microfone ligado.

Deste seu estimado Pastel de Nata

PS: entrevistas em casa saem caro ao erário público, e todos sabemos como o Dr. Relvas e o amigo Borges não gostam de desperdícios!

14/08/2012

...na estrada da Atafona


Quando metade da actividade jornalística da semana versou o mistério em redor do almoço entre o ministro dos affairs estrangeiros e o inseguro líder dos trabalhistas português, fico bastante mais preocupado quando passados três dias os sacos de lixo dos almoços e lanches ajantarados de alguns turistas de ocasião se acumulam na estrada que abraça a serenidade da albufeira aqui mesmo ao lado. Como se não bastasse os caixotes do lixo servirem de mera decoração urbana [pobre turista não possui instrução nem traquejo para saber como se operam!], sou confrontado com um giro pouco regular dos serviços de recolha de monos e derivados plastificados. A thin blue line entre a cidadania e a porcaria consome a paisagem de uma forma abusivamente chocante, isso e a passividade das autoridades policiais perante a utilização abusiva de motos de água e embarcações a motor na albufeira. Na estrada da Atafona isso não se passava.
   
“In every person there was a king”


A Zita Seabra fazendo uso do epíteto da silly season, surge agora quase três décadas depois com a ideia miraculosa de que o país era vilmente espiado pelo ártico ar da FNAC. Por momentos tremi, pois utilizo a FNAC para confidenciar o meu amor pela literatura e adoptei as ruas apertadas e alcatifadas como santuário para adorar e namoriscar aqueles maços de folhas perfumadas. Todavia ao perscrutar com maior acuidade a notícia, as entrelinhas revelaram algo mais pernicioso: afinal eram uma marca de A/C que ornamentavam os varandins e fachadas das nossas torres de betão nos idos anos 80 do século passado. Não fazia a mais pálida ideia que, juntamente com o Avante e a Vida Soviética, a FNAC fazia parte do politburo de publicações socialistas progressistas. 

Na estrada Atafona as árvores fazem sombra todo o ano, o calor simplesmente não apertava.

O simples facto de imaginar um comunista atento e alerta em cada aparelho causa-me algumas angústias indisfarçáveis. Não bastava o recalcamento de infância, ainda legado do Estado Novo, que os comunistas comiam crianças ao pequeno-almoço e agora mais este delirium tremens- comiam e espiavam ao sabor das cálidas tarde de verão.
Infelizmente nunca tive um comunista destes em casa e confesso que muita falta me fez. Seria deveras interessante ofertar ao camarada Jerónimo, reconhecido produtor de manchas de suor, um destes aparelhos. Já reparam na admirável estoicidade com que ostenta os seus fluídos durante as suas intermináveis intervenções de pé nos comícios escaldantes naqueles pequenos recintos fechados (ora na Voz do Operário, ora na Baixa da Banheira) ou nas intervenções mais acaloradas no último dia da Festa do Avante? Tenho na minha ideia que haverá por aí muito camarada disposto a martirizar-se uma ou duas tardes para refrescar o Secretário-geral desse infernal calor vermelho que lhe desperta a sudoração. Isso e umas cadeirinhas para os restantes membros do comité caviar, pois essa coisa de estar em pé de braços cruzados com ar sério durante 1 hora seguida é obra quase tão diabólica como partir pedra no gulag. Na estrada da Atafona, não havia ares condicionados, apenas vacas que pastavam na bonomia dos verdes prados verdejantes, passe a redundância.

“Big Brother is watching You”

Ao cuidado da Zita: o promotor da fábrica de painéis solares de Abrantes [agora mais um elefante branco de desinteresse nacional) é um mesmo barão-vermelho que presumivelmente esteve ligado à falência da FNAC. Talvez seja interessante investigar possíveis escutas a partir do telhado e não nas varandas.

Ainda no capítulo gestão do risco: o projecto para o Alqueva, que iria reformular toda a arquitectura da placidez da paisagem alentejana, secou na origem. Não se sabe se foi pelos excelentes acessos providenciados pela A6, ou pela proximidade do aeroporto internacional de Beja, mas o certo é que os bancos nacionais já não fazem bicha à porta da Herdade do Esporão. Um caso a rever pela nossa ministra da agricultura e seu colega da economia. Como é possível secar a torneira da CGD mesmo ao lado da maior “banheira” do país? Na estrada da Atafona, vendem-se banheiras.

Eu se fosse a Paula Rego, encaixotava o acervo de 500 quadros que estão expostos na Casa das Estórias e empacotava tudo para uma qualquer galeria de Nothing Hill ou simplesmente as exibia no Speakers' Corner. Talvez os súbditos de Sua Majestade tenham um pouco mais reconhecimento que os biltres das Finanças! Ao cuidado do manifestamente silencioso secretário da cultura [que não se tem visto nem ouvido sobre esta e outras preciosidades]. Estou certo que aquele senhor que pendurou a roupa numa rua de Guimarães teve maior acolhimento por parte da intelligentzia cultural do nosso governo? Na estrada da Atafona, há uma loja de móveis e uma oficina., também têm a sua arte.

Submarinos. Este neue não-assunto de tem algumas dissemelhanças com a popular rábula dos Gatos Fedorentos “o papel, qual papel? o papel, qual papel?”. Eu pensava que que a silly season era um pouco mais prolífera em matéria de criatividade e esta coisa de barcos que andam debaixo de água ao sabor da voracidade com que o ministro do affairs tira fotocópias. Não é preciso fazer um grande equação imaginativa para entender que este exercício já foi chão que deu uvas em matéria de gossip politic .Mas já que insistem na buzzword. Na estrada da Atafona não há submarinos, só vacas a pastar.

Na estrada da Atafona, o tempo parou numa tarde ensonada. A outrora entrada da vila, é apenas uma memória esquecida no tempo. Os carros pouco se vêem ou ouvem, mas o sol brilha da mesma forma e as folhas caiem tal e qual como no Outono. Na estrada da Atafona há menos gente do que na Manta Rota, mas em compensação há vacas.

Quando ouvi a frase profana do D. Januário Torgal Ferreira “Há jogos atrás da cortina, habilidades e corrupção. Este Governo é profundamente corrupto nestas atitudes a que estamos a assistir”, senti um leve toque de Behind the green door. Gosto mais da “Maratona do Amor cujo desafio foi colocado ontem na Cova de Iria. É um pouco mais horny!

Alguém sabe o que é o RERT III (Regime Excepcional de Regularização Tributária)? Ainda bem, é uma espécie de nata “Monte Banco” que permite refrescar 3,5 mil M€ que foram depositados fora de Portugal (leia-se, sobretudo na Suíça) através de regime especial de amnistia soft cream. Deste modo, enquanto o vulgar banhista da penela de feijoada e garrafão de vinho ao estender a toalha na praia da Manta Rota, paga à cabeça sem qualquer pejo uns meros trinta a quarenta e tostões percentuais, e não tem direito à bola de Berlim que a ASAE não gosta nem ao topping, ali na esplanada da malta do colarinho branco, paga-se apenas 7,5% e ainda por cima oferecem tremoços de bigode e finos. Les portugais sont toujours gais!

Na estrada da Atafona é que se estava bem, hoje está a chover lá. Mas as vacas continuam a pastorear.

Alguém viu por aí o Relvas?

17/07/2012

cul-de-sac



“Para conhecer as coisas, há que dar-lhes a volta, dar-lhes a volta toda.”
 José Saramago

Estava a necessitar de um argumento para o meu momento carta do Guilherme à Selecção e eis que o camarada Saramago me abre outra perspectiva.

Gossip:
Também eu norteei a minha vida pela procura incessante do conhecimento, ainda que com resultados diametralmente opostos. Depois de digerir todas as notícias e não assuntos que esta semana escalpelizaram o caso não Relvas, cheguei à conclusão que o senhor de facto está inocente. O doutor [esse!] está ferido de morte e tem muito que explicar, ou melhor o outro colega do avental é que nos poderá elucidar um pouco mais sobre essa estória de “diabinhos negros”. 

Depois de tentar desatar o nó górdio de relações bizarras que manteve e mantém, chego à infeliz conclusão que temos aqui enredo para o mestre David Lynch [um novo Twin Peaks?] ou dependo das personagens para o John le Carré [uma sequela do Alfaiate do Panamá?]. É o que se chama uma personalidade multifacetada!

Não vou acrescentar muito mais à vontade expressa pelo camarada Jardim sobre as suas pretensões a novas equivalências académicas, pois o elogio fúnebre que acabou por fazer ao ministro em questão, foram uma espécie do beijo da mulher-aranha. Por outras palavras um excelente epitáfio político, após uma manobra de heimlich bem à sua medida.

Em sintonia com as declarações prestadas pelo Marques Mendes e o Professor Marcelo, quero prestar aqui a minha solidariedade com Fiel Jardineiro [está é só para quem viu o filme!].

Internal affairs:
Adoro as PPP, o nome claro não o conceito per si. Talvez se a negociação dos pagamentos certos e permanentes das PPP não tivessem sido adiada para a as calendas não andássemos com a calculadora a adivinhar qual a taxa sobre o 13º mês.
No sector da energia, também não deixa de ser caricato o próprio Secretário de Estado a recear que a tão afamada e badalada liberalização do mercado implique um aumenta os preços e não uma baixa considerável como é pregão e ideologia do Governo.

My name is Bond, Eurobond:
Quando me acerco da janela juntamente com as pupilas do Júlio Dinis para me banhar com o sol que nasce para todos, oiço o Governo Irlandês a clamar ao BCE e o EuroGrupo por uma nova negociação. Aqui ao lado, um pouco mais acima do buraco onde me encontro, o Sr. Rajoy envolto numa falsa neblina fala às massas numa prosa de enganos para o adiamento do compromisso do défice da monarquia. Na assistência os mineiros das Astúrias e todos os ludibriados assistem com palmas de revolta ao início do excelente negócio sem contrapartidas do empréstimo ao Reino de Castela (o rei numa tentativa de apagar as caçadas em África, acabou por auto infligir-se com uma redução de 7% da jorna). Lá na outra Europa, , o nosso ministro com o nome do “gato” do deputado Honório Novo, lança mais uma pausada prelecção insidiosa aos jornalistas:

“(…) fala-se de favorecer o processo de ajustamento. É a forma de palavras que é usada. Melhorar e favorecer parecem-me de facto os termos que podemos usar.”

Quem conseguir resolver mais este teorema lançado pelo nosso ministro, pode-se candidatar a uma vaga na próxima remodelação. Fazem-se apostas!

E que tal se os bancos baixassem os juros do empréstimo? Afinal de contas, no meu gráfico de EURIBOR, a taxa cobrada pelo BCE não é nem 6 nem muito menos 7%? Então para onde anda esse diferencial? Não me digam que todos os créditos da banca são insolventes e que os pobres dos senhores do capital coleccionam comendadores insolventes e ex-governantes corruptos como clientes? Não me digam que é para pagar os 9 000 M€ de juros da dívida pública?

Mirror, mirror on the wall:
Esta semana também li que o Sr. Gaspar enganou-se [ah! o Sr. Gaspar, nos meus tempos de menino bem comportado, fazia contas no papel pardo e cantava o somatório do trigo e do quadradinho de chocolate Avianense que fazia as delícias de qualquer garoto de aldeia!], ou melhor, anda a enganar-se a si próprio. Então não disse que podia poupar dinheiro através de uma negociação dos juros da dívida pública? Exactamente o contrário da doutrina defendida desde que começou a falar pausadamente. Faça favor de fazer a prova dos nove às declarações que tem proferido, tenha calma, não se precipite.
Mas afinal de contas, ou na falta delas, quid sabe ou quid controla a dívida pública? Ora vejamos o resumo dos últimos meses:
1.   

  1. 1   As PPP não são renegociadas ou os valores diminuídos por causa dos interesses financeiros e da escabrosa promiscuidade entre os governantes e os concessionários. Basta ter estado atento à reportagem que deu esta semana sobre alguns dos ex-ministros de anteriores governos [independentemente da cor das meias!]. Não me digam que estão a dar aulas e andam de autocarro. Nem vale a pena colocar aqui os nomes das empresas em que são administradores executivos, não executivos, com ou sem chauffeur.

  2. 2.    Digam-me lá três exemplos de países desenvolvidos onde os contractos de PPP sejam feitos pelos escritórios de advogados das próprias concessionárias? Vá, puxem pela imaginação!

  3. 3.  A título de exemplo devidamente sublimado, as parcerias das PPP vão ser renegociados pelos mesmos escritórios de advogados que transferiram o risco dos concessionários para o Estado. Coincidências!

Os contractos não podem ser renegociados?!O governo não prometeu cortar nas parcerias? Então façam-no! Talvez seja bastante mais fácil do que imaginam. Como é que se transfere o risco na totalidade para o sector público e garante-se com dolo, o filet mignon en croûte aux champignons para os privados. Se houve celeridade nos cortes na Função Pública e na promulgação do abusivo Código do Trabalho, estranha-se a morosidade quando se trata de incidir sobre o outro lado da moeda [isto já parece o discurso cassete do politburo da Soeiro Pereira Gomes].

Fiesta brava:
Por falar em Soeiro Pereira Gomes, o juiz presidente do TC deu uma rara entrevista intimista à Maria Flor Pedroso, e revelou uma faceta estilo “forças de bloqueio”, inaudita e assaz curiosa. Talvez o senhor dos Passos tenha alguma razão, pois estranha-se o facto de pela primeira vez desde há já algum tempo, alguém sair do palácio Ratton para uma faena política, isto sem o consentimento da autarquia de Viana, fiel depositária da virtude da tradição taurina.

Last famous words:
Apetecia-me dizer mais qualquer coisa…mas acho que para a sanidade mental de muito com especial ênfase para a minha inteligência como contribuinte, por agora chega. Assuntos e não assuntos não devem faltar agora que se iniciam as hostilidades da silly season!

01/07/2012

..algures entre a estrada da palha e o mar da palha!




…no fundo no fundo nada nos derrotou, nem mesmo os Man in Black da UEFA, ou a Troika turca do árbitro que nos apontou para fora do EURO. Por momentos ainda pensei que a saída da nossa selecção fosse o prenúncio inevitável da nossa licença sabática da moeda única (alemã). Felizmente a sra. Merkl inventou os chamados instrumentos financeiros os Cocos, uns meros 900 milhões de Euros que vão beatificar a desinteligência e aventureirismo dos bancos espanhóis e algumas contas mal explicadas que por essa Europa fora engendradas pelos diferentes governos, independentemente da orientação sexual de cada cor política. 

No fundo, e independentemente de estarem por baixo ou por cima, na posição de borboleta ou dominadora, todos os foram co-responsáveis pelo estado calamitoso a que as contas públicas chegaram. Claro está que, cair na tentação de imputar a total responsabilidade ao Governos é qualquer coisa blasé antes, a retórica demagógica apontará sempre para a culpabilização das massas populares, sempre crucificada com a receita liberal da austeridade cega. É triste quando a doutrina mutatis mutandis é aplicada com tamanha cegueira sob o apanágio da extrema necessidade e urgência nacional.

Esta coisa da urgência nacional tem alguma dissemelhança com aquelas invenções da época filosófica socialista- os PIN. Quando algum agrupamento de malfeitores pretendia construir este ou aquele empreendimento em zona protegida, ava cavadra e PIN. Em opção corrigia-se o traço da condicionante de modo a passar ao lado [este faz-me lembrar qualquer coisa!]. Era a época do lápis e da borracha, cujas feridas ainda hoje ensombram algumas dos mais belos quadros cénicos do nosso quadrado.

Esta semana ficamos a saber qual o preço do m2 da liberdade de imprensa, 45 euros por m2. [para quem não entender esta charada, é favor ler o acórdão da sentença de um reconhecido deputado da bancada da oposição!]

Continuando na onda bizantina, fiquei absolutamente convencido da postura salomónica por parte da ERC no Caso Relvas-Jornalista recém-despedida do Público. Fiquei eu e a vereadora Helena Roseta.

Sabem o que faz falta para animar a malta num dia destes? Não! não é o Vasco Gonçalves nem o amolador. É o homem dos gelados!

Existe um enigma matemático que intriga a minha inteligência e que me tem roubado horas de estudo, já para não referir do pó de giz que já gastei na tradução algébrica do teorema. Desde que tenho memória política, algo que germinou por geração espontânea nos arrabaldes finais da década de 70, oiço personalidades mais ou menos respeitáveis [nesses tempos esquecidos, vinham para a televisão de pullover e cigarro na mão!] a falar em reformas estruturais. Alguém me explica como é que um país com um historial tão enriquecedor e agressivo na prossecução de reformas estruturais trata de forma tão deprimente [e por vezes desprezível] os seus idosos e reformados?

…sem mais delongas, estou curioso para ver o que vai dar o hipotético refendo sobre a manutenção da Grã-Bretanha na União Europeia. Mais curioso ainda para saber o que pensa a chanceler alemã! A charada segue dentro de momentos…

Agora algumas semi-breves:

Na Grécia depois de empossado o novo Governo, o primeiro-ministro foi hospitalizado com um lenho no olho, o ministro das finanças meteu baixa eterna e resignou. Em Portugal o corajoso ministro da Economia enfrentou qual forcado os manifestantes e quem acabou mal foi o capot do belo Mercedes. Cá como lá, tudo se resolve com uns pensos e uns retoques na tinta.

ObamaCare. Este slogan significa: todos os americanos a partir de agora têm de adquirir um seguro de saúde. E mai nada. Olha se fosse por cá!

Alguém acredita que uma semana ou uns dias extra com os alunos que não se esforçaram o suficiente ao longo do ano [sobretudo aqueles que provaram não ter qualquer intenção de progredir ou aprender] resulta em algum progresso significativo para os mesmos!?

O Louçã ainda anda por cá, ou já ocupou o lugar na bancada parlamentar do Syriza?

O resto é palha!

20/05/2012

..o coiso



Esta tendência para deixar acumular ideias e estórias ao longo de várias semanas da mesma forma que os brinquedos e os jornais se acumulam aqui na sala tem sempre o óbice de metade das fantasias escritas para piano e orquestra se dissolver na pauta do esquecimento. Como pude deixar em claro aquele episódio cataclísmico das promoções do PD e toda a catarse que provocou nas mentes mais depauperadas deste singular país. E o que dizer das folhas nuas com todas aquelas palavras que se perderam no labirinto da minha mente sobre o desemprego, aqui nesta humilde Terra do Nunca. Ainda assim sobra sempre qualquer coisa orgástica, nem que seja ‘o coiso’ do ministro do desemprego. Acredito piamente [eu e o resto e todos os santos entediados e enganados!], que para o Álvaro, esta coisa do desemprego seja um verdadeiro desiderato, necessário, útil e promissoriamente indutor de uma economia mais arrogante e e competitiva, depois de destruir a classe média e a pouca coesão social que sobrou do desvario dos governos do nosso emigrante francês, já só falta reduzir a classe operária a meros operários temporários. Em clara oposição, e numa toada mais intimista, o ministro Gaspar vê ‘o coiso’ como um trauma difícil de suportar, uma dor tão insuportável que nem o mais optimista Calimero poderia aguentar. Finalmente, o supra-sumo da felicidade embrutecida, o nosso PM vê ‘o coiso’ como uma oportunidade, muito mais apetecível que a promoção dos 50% da carne do PD, um mar de rosas, o arco-íris da política neoliberal. O alfa e o ómega de um partido que se diz social-democrata. Tenho dúvidas, muitas e cada      vez mais fundamentadas que este não é [decididamente] o caminho.
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Agora um off-topic. É Tua, minha, nossa e da UNESCO, pelos vistos. Pois assim anunciam os arautos, a UNESCO insurgiu-se com a falta de explicação dos rabiscos do mestre Souto Moura e ameaça com paragem imediata das obras! Eu sobre a temática barragens sou suspeito pois ninguém constrói barragens por capricho e tenho a certeza absoluta que qualquer barragem tem impactes significativos quer na paisagem, quer na fauna e flora, e por aí adiante. Destroem-se equilíbrios mas geram-se novas relações ecológicas. Um antes e um depois. Para além disso, não basta fazer contas sobre o que se vai poupar em termos de combustíveis fósseis. É igualmente sensato, e talvez mais interessante abordar a barragem do ponto de vista do controlo de caudais ou na reserva estratégica de água. Quanto à vertente turística nem vou entrar por aí pois, analisando a orografia do vale a submergir, os acessos existentes ou a paisagem que vai desaparecer [a tal!] não prevejo grandes potencialidades nessa óptica! Construa-se a barragem pois estamos enjoados com romances tipo Foz Côa. Por ventura existe alguma barragem que tenha sido construída e que não tenha tido impactes sensíveis sobre a paisagem ou sobre o meio ecológico?
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Mudando de assunto para um bio-epic. O sr. Hollande fez lembrar um ex-primeiro ministro inglês Chamberlain que na antevéspera da II Guerra Mundial foi de peito aberto até Berlim e ao regressar trazia a famosa folha com assinatura do Führer com um plano de entendimento. Confesso a minha tristeza e perplexidade quando vejo ministros e parlamentares do Bundestag a alvitrarem e decidirem sobre os destinos do Gregos, Portugueses, Islandeses, Franceses, Italianos, Espanhóis, e por adiante para não ser tão exaustivo. Eu comungava do projecto de construção europeia sobre a perspectiva social-democrata de um Gerhard Schröder, de um Willy Brandt ou de um Helmut Schmidt. Aonde para o sonho europeu, o que são os hoje os pilares fundadores da construção europeia?
                                                       &
Para finalizar uma verdade laplaciana. Esta semana estive numa reunião de uma associação de pais de uma escola aqui do concelho de Oeiras e cheguei a um conjunto de conclusões desapontantes:
  1. O ensino e a política de educação para o Governo e para as autarquias é uma espécie de malus major e um fardo terrível;
  2. É muito mais importante arranjar um novo jardim em frente a uma escola, erguer uma estátua a preço milionário numa esquina do que reabilitar uma escola, Acresce a infelicidade de uma escola não ser tão bela e pujante como uma rotunda. Temos pena mas não há orçamento;
  3. Os políticos e alguns bajuladores gostam que os pais paguem do bolso os arranjos exteriores ou interiores da escola, pois os impostos que pagam serão mais bem empregues em outro tipo de obras com maior impacto como uma rotunda!

Nota da direcção: apesar do pedido de desculpas do Relvas, e da má exibição do Sporting, há que dar a devida vénia à briosa Académica que se bateu com dignidade na final do Jamor!