20/07/2014

..venenos de inspiração divina

…nos dias em que o espírito santo caiu em desgraça. Mas antes uma passagem prévia pela 27 obras de caridade rumo ao baby-boom nacional. Se não me falha a memória, algures nos meus escritos referi a questão da demográfica como uma ferida indolor que minava o futuro do país, mas isso foi no tempo em que os holofotes estavam virados para outras temáticas menos aborrecidas, e provavelmente para assuntos fracturantes da sociedade, moda com diversos adeptos em Portugal, ainda que cada vez menos.

Desde tempos imemoriais, quando não se pretende resolver assunto neste quadrado cria-se um comissão ou um sucedâneo com efeitos colaterais similares. À primeira vista, a agora extinta Comissão para uma Política da Natalidade em Portugal (segue-se provavelmente outra comissão para apreciar os efeitos em termos orçamentais das medidas!?) seria uma iniciativa pública com importantes contributos da sociedade civil, tratando-se de uma questão de elevado relevo nacional. Mas não. Curiosamente, ou não, tratou-se antes de uma iniciativa partidária do PSD, sem o bene placito do compagnon de route que já veio a terreiro com um sorriso pungente de ironia, reafirmar que a bandeira da procriação descontrolada era do CDS, não fosse ele um partido de inspiração cristã [abaixo a pílula, fora o preservativo].

A ideia até era interessante, e o conjunto de medidas indispensáveis. O problema é que o mentor da ideia, o próprio PPC na qualidade de presidente do grémio laranja foi abruptamente desautorizado uma horas depois pelo PM – o próprio! Mais, a própria ministra das finanças e o líder parlamentar da mesma corte partidária apresentaram desde logo uma bateria de condicionantes e premissas que tornam algumas [ou a quase totalidade das medidas] mais emblemáticas, senão difíceis de executar, quase improváveis de sair da mesma gaveta onde foram produzidas.

Felizmente para os futuros papás e mamãs, uma outra comissão [Comissão da Reforma da Fiscalidade Verde] com igual incumbência de resolver os males que afectam a sobrevivência da portugalidade, retirou os sacos de plástico da cartola e descobriu que o segredo para o sucesso da fecundação, não está no plástico mas sim na velha saca de pano bordado. Eu não discuto o mérito das medidas eco sustentáveis apresentadas, mas duvido que alguma vez os ca. de 180 M€ milhões de euros das medidas que visam a protecção ambiental à custa de um aumento encapotado de impostos sirva de leitmotiv para compensar os ca. de 300 M€ aumento da natalidade. Talvez fosse preferível substituir o látex por um paninho e poupavam-se uns trocos à custa de uns sustos no final do 9º mês!

E por favor, não façam das pessoas que lêem notícias meras indigentes! Aumentar a incidência fiscal sobre o carbono não pode ser considerada uma medida neutra em termos fiscais, e a probabilidade de interferência da designada eco inovação e a eficiência na utilização de recursos, ou mais espantosamente, «fomentar o empreendedorismo e a criação de emprego», só constituir um exercício infeliz de wishful thinking de algum assessor depois de uma noite mal dormida a pensar nas obrigações da Rio Forte!

Nota da administração antes de passar à gross matter, acho deliciosa a troca de galhardetes entre o ex-bloquista Daniel e o novel comentador Louça. É espantosa a diversidade de sensibilidades [ou falta dela] que grassava na sede do Bloco. Mais ainda, é a arrogância que a actual intelligentsia bicéfala Bloco revela, quando os seus principais quadros se desvinculam de um partido que se afunda num conceito inexplicável de querer apenas e somente influenciar e não tomar parte de uma solução efectiva de governo. Acresce, as propostas bizarras que o economista Loução e um conjunto de notáveis apresentaram para a reestruturação da dívida. Um trabalho académico, notável de todos os pontos de vista, menos o da clarividência.

E por falar em Rio Forte. Há uma ribeira em Aljustrel que dá pelo nome de ribeira da Água Forte que por sinal a única coisa forte que transporta no seu caudal, são as escorrências tóxicas das minas de Aljustrel. Também temos a água forte (HNO3), que era um produto com o qual sempre tive alguns cuidados no seu manuseamento nas minhas aulas de quimicotécnia [disciplina desaparecida da oferta educativa do do actual secundário], dado que queimava de forma ostensivamente lancinante. Finalmente, segue-se o Rio Forte, a ESI, a ESFG, o GES e todos aqueles que durante as últimas décadas moldaram esta nossa peculiar portugalidade das formas mais retorcidas e insuspeitas.

Não vou abordar os efeitos de largo espectro do DDT, pois na minha cadeira de biologia do 12º já na longínqua década de 80, a sua utilização era proibida em Portugal. Apenas como curiosidade científica, os efeitos do DDT na cadeia trófica prolongam-se por aproximadamente três décadas. Daí que, gostaria de expressar desde já o meu aplauso à equipa de voluntários que vai tentar desintoxicar o ambiente. Esta sim, a verdade reforma verde, com efeitos imediatos e persistentes na natalidade.


Por favor salvem o porquinho mealheiro BES da Agatha Ruiz de la Prada!