31/05/2008

amy winebottle

...sai ontem à noite para ir comprar um livro do José Eduardo Agualusa à FNAC do CascaisShopping, e quando andava a namorar os LCD da Panasonic, pareceu-me ver uma garrafa de vinho barato, numa moldura mal amanhada, com um vestido três tamanhos acima, e uns sapatos que pareciam uns patins tal era a propensão para cair. Não obstante a 'bed-head', as mazelas no pescoço e nos braços eu diria que era uma a Amy, mas talvez fosse do preço do aparelho. Já quando vinha no carro, recebi dois telefonemas a alertar-me para o facto, do vinho se ter entornado...mal pisei terra firme, sentei-me na poltrona e sorri. Era ela!!...não sei quem quem ficou pior, se o vestido depois da actuação ou se os pobres coitados que pagaram o bilhete.

...venham os Moonspell e os Metallica!...rock a sério!

...depois da tempestade

...e a chuva que não nos larga! Este Maio é um choro prolongado, um surdina muda que se esvai perante o lamento dos homens que moldam a terra, os pescadores que nos trazem o fruto do mar! Quando tudo se conjugava para um ano agrícola de feição, são as cerejas que desesperam na Cova da Beira, os trigos que definham perante o peso das lágrimas do céu, os barcos que teimam em não sair da barra!

Hoje fui dar uma volta pelo Ribatejo. Arrozais e mais arrozais é o que se vê! e ainda bem pois neste país já há muito se esqueceu o que é produzir para comer. A terra merece mais respeito. É curioso, pois, há falta de peixe nas lotas, muitos optam por assentar arraiais nas margens dos canais de rega e nas valas de drenagem da lezíria...nem lá têm descanso. Agora que a chuva parece dar tréguas e a seara volta luzir, seria bom que a bonança se estende-se à praia para o pescador puder partir...


Eu vejo esses peixes e vou de coração
Eu vejo essas matas e vou de coração à natureza
Telas falam colorido de crianças coloridas
De um gênio televisor
E no ardor de nossos novos santos
O sinal de velhos tempos
Morte, morte, morte ao amor
Eles não falam do mar e dos peixes
Nem deixam ver a moça, pura canção
Nem ver nascer a flor, nem ver nascer o sol
E eu apenas sou um a mais, um a mais
A falar dessa dor, a nossa dor
Desenhando nessas pedras
Tenho em mim todas as cores
Quando falo coisas reais
E no silêncio dessa natureza
Eu que amo meus amigos
Livre, quero poder dizer
Eu vejo esses peixes e dou de coração

Milton Nascimento



22/05/2008

..atrás do pavilhão B

...ainda me lembro do primeiro cigarro que fumei. Tínhamos 13 anos e nada melhor do que ir fumar para detrás do pavilhão B da n.º 1 dos Olivais Sul. Os tempos eram outros, o dinheiro não chegava para o SG mas para velho mata ratos sem filtro era o suficiente...é óbvio que a moda/vício não pegou. Depressa entendi que fumar era uma total perda de dinheiro e não acrescentava nada de novo. Nessa altura não havia o fundamentalismo que existe hoje, e a publicidade era algo de banal. Vai na volta e passadas algumas décadas o nosso PM é apanhado atrás do pavilhão B!...e agora o que vai ser do nosso pais!?...foi engraçado ver os sururu em redor do tema. Os falsos moralistas a saírem pelas janelas da ridicularia, a protestarem por tão grava atitude. Fumou e depois!?...e não me digam que foi às escondidas, porque já não é a primeira vez que o nosso PM é fotografado com o temível objecto de terror na mão. Talvez o facto mais tenebroso desta estória, tenha sido l'ancien compagnon , o inevitável ministro da Economia – especialista de mérito reconhecido e doutorado em alhadas. Pronto! Sócrates decididamente já não vais ser santo, já não lhe podem erigir uma estátua numa rotunda ou cravar uma placa toponímica numa rua esquecida de alguma vila beirã. No meio de toda a algazarra apenas tenho a acrescentar que talvez não sseja má ideia para a próxima vista de Estado, o nosso PM puxar de um bom havano e saborear o doce aroma enquanto corre pelo calçadão...mas por favor deixe o ministro da economia em casa a fazer puzzles, é mais seguro!

E assim se carboniza um político através do fumo, por detrás de uma cortina num voo para Caracas. Ah! Velho Wiston Churchill...se fosses português estavas tramado!

Não gosta que eu fume charutos, e não voltarei a fumar. Não os aprecio assim tanto que tenha qualquer dificuldade em deixá-los

Wiston Churchill,
numa carta ao pai, 27 de Outubro de 1893


nota de rodapé:...atrás do pavilhão B faziam-se outras coisas engraçadas!!

18/05/2008

...mais um!

...pode parecer bizarro, mas passei o fim-de-semana agarrado à "maquina de escrever" e nem tive tempo para mudar a fita e colocar mais algumas folhas na minha vida social. Não sei o que se passou pelo mundo lá fora, mas tive a sorte de apanhar um fim de tarde magnífico na ciclovia do guincho, no sábado! Estava vento q.b. mas muito agradável. E nada para acrescentar ao fim de semana...com fins de semana destes, em boa hora vejo uma boa semana de trabalho! e mais não digo nem acrescento. Nem tempo para ver um filme ou ler uma linha sequer de um livro. Nada, vazio, apenas o martelar das teclas.

...ah! esqueci-me de acrescentar um pequeno pormenor...


SPOOOOORRRRTTTTIIIINNNNGGGGGGGGGG

15/05/2008

...até jazz


É um adeus...
Não vale a pena sofismar a hora!
É tarde nos meus olhos e nos teus...
Agora,
O remédio é partir discretamente,
Sem palavras,
Sem lágrimas,
Sem gestos.
De que servem lamentos e protestos
Contra o destino?
Cego assassino
A que nenhum poder
Limita a crueldade,
Só o pode vencer a humanidade
Da nossa lucidez desencantada.
Antes da iniquidade
Consumada,
Um poema de líquido pudor,
Um sorriso de amor,
E mais nada.


Miguel Torga



para MJP

14/05/2008

...não Leya na sala de chuto

..não sei o que será pior, se o facto de ter estalado um guerra incompreensível entre a Leya, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) e a Câmvra de Lx ou se o simples facto de o nosso PM ter puxado do zipp e queimado umas ervas de nicotina tabacum durante o voo Lx-Caraças, coadjuvado e incentivado pelo inevitável Manuel Pinho (o "ministro dos apanhados"). É caso para dizer que numa e noutra situação ficamos todos a perder. Por um lado esfuma-se uma iniciativa com décadas e que envaidece qualquer cidade dita culta, por outro lado queima-se em lume brando uma novel lei que tem tanto de imcompreensível como de justa. É caso para dizer...É só fumaça...o Povo é sereno!mas haja pachorra para aturar tamanha trapalhada. Mas no meio do nevoeiro da sala de chuto, realce para a confissão de culpa do PM e um singular pedido de desculpas. Pena é que, em anteriores "beatas governamentais", não tenha pedido desculpa por nos chamuscar com as medidas avulsas e indecorosas que tem tomado, a bem da nação e do ambiente!

04/05/2008

...a terra para quem a trabalha

...no Alentejo é que se está bem!...paz, serenidade, e beleza. Fiquei contente por ver muitas searas com trigo, muito pivots a funcionarem...gente a trabalhar no campo. Finalmente!
Ainda de me recordo de andar a comer o pó por esse Alentejo fora e verificar o triste resultado da PAC. Longe vai o tempo do "giracídio", das courelas com linho não textil (na altura tinha um pagamento à produção bastante atractivo!). Depois veio a singular invenção do set-aside e do pousio voluntário - o zénite da agricultura europeia.

Espero sinceramente que a "crise expeculativa" seja uma chuvisco de Verão, pois é sabido que o nosso país só é auto suficiente em pasta de papel, tomate, vinho e presumo que, cortiça!...o que , diga-se em abono, não mata mas também não satisfaz muito!

Como se não bastasse o aparecimento de "novos pobres" e o facto de existirem cerca de 230000 mil pessoas (ou famílias!?) que dependem directamente do Banco Alimentar Contra a Fome, só nos faltava agora um crise de abastecimento ao nível nacional! Andámos as últimas décadas num jogo sujo de financiamento dos empresários agrícolas por via dos subsídios e concomitantemente com o pagamento do set-aside e do abandono agrícola, tudo porque um dia alguém disse que um país com uma percentagem elevada de agricultores era um país atrasado- um verdadeiro idiota no sentido aristotélico do termo.


Mudando de ritmo, para os aficionados da tourada aqui vão algumas sugestões:



8 de Maio Campo Pequeno , alternativa do cavaleiro Manuel Lupi

15 de Maio Campo Pequeno, 1.ª Corrida Vidas/Correio da Manhã

31 de Maio Montijo, 1.ª Corrida do SL Benfica


Por fim um comentário às palavras do Ministro da Agricultura: é óbvio que não vai haver racionamento de cereais em Portugal!...o próprio preço dos bens alimentares já é motivo suficiente para as famílias portuguesas pensarem duas vezes!...

03/05/2008

...cá e lá muitos maios

Há 40 anos, estudantes franceses revoltaram-se contra o sistema político do pós-guerra. Estava no poder o general De Gaulle. Era época singular em que a liberdade ainda era uma palavra vã, em que não havia desemprego entre os jovens, mas cujo espírito pacifista e rebelde levou multidões de jovens de todas as proveniências e estratos sociais a lutar por uma sociedade diferente. Passados estes anos, por cá, são os professores que marcham! Os alunos apenas imploram por um futuro com emprego. Nada mais. Para a direita o Maio de 68 foi um acidente, para a esquerda um movimento. As mesmas pessoas que atiraram pedras e paus, que incendiaram carros e consciências são hoje os pais dos políticos cinzentões que inventaram a globalização, as famosas novas ordens mundiais neste ou naquele assunto e que se tornaram verdadeiras máquinas trituradoras das liberdades sociais um pouco por todo o mundo. É caso para dizer que apesar da corrente de liberdade de expressão, sexual, pensamento, entre outras liberdades, falharam rotundamente na educação que deram aos filhos!

O presidente Sarkozy, que na altura cultivava os seus 13 anos (curiosaidade), num inflamado discurso à um ano, em plena campanha eleitoral para o Eliseu referindo-se aos “herdeiros esquerdistas", culpou-os pela crise de falta de moralidade, da autoridade, do trabalho e da identidade nacional.

Por cá, na semana passada no DN alguém disse que o eventual desinteresse dos jovens pela política partidária seria um bom sinal. Seria o sinónimo de uma sociedade falhada, construída pela geração do 25 de Abril, e que eventualmente poderia estar a prazo.

Lá e cá são maios de contestação, maios de descrença no sistema...e muitos mais!

01/05/2008

...so nice

...so nice!...poder ficar em casa o dia inteiro, a ouvir música, dar um saltinho ao café na esquina, ler mais umas páginas do livro debruado de pó, no canto da mesinha de cabeceira!...melhor seria mesmo prolongar esta letargia pelo fim de semana a dentro, mas outras obrigações nos esperam pela manhã!...

...mas nice mesmo, é ouvir as boa novas que nos rodeiam: 3 cêntimos de aumento do gasóleo?!...perspectiva de aumento dos bens alimentares a rondar os 30/40% até à conclusão do ano!? contenção salarial!aumento da Euribor!Aumento disto, aumento daquilo...uma verdadeira erecção é o que eu digo!!...so nice!...mas nice, foi o filme de ontem à noite...Becoming Jane!

...esta semana passa um ano do desaparecimento da pequena Maddie!Já muito se escreveu, mas nada transbordou de concreto!Tão ou mais perturbador, é uma medida que o Governo já está a adoptar. Numa altura de crise económica e social, em que a fome e a precariedade social escondem-se por detrás do manto da vergonha, em que milhares de famílias recorrem a ONG para aliviar de certa forma o reduzido rendimento familiar, é incompreensível que a segurança social recuse a atribuição do abono de família às famílias que auferem rendimentos de trabalho independente. Tudo a bem do ignóbil défice, tudo de acordo com a lei, que refira-se, data de 2003. Porque só agora, não se compreende. Mas não deixa de ser intrigante, que na próxima edição do expresso a uma sondagem apresente o Partido do Governo na eminência da maioria. Isso sim, já não me parece tão nice!

...a fonte

Ela é a fonte. Eu posso saber que é

a grande fonte em que todos pensaram.Quando no campo

se procurava o trevo, ou em silêncio

se esperava a noite,

ou se ouvia algures na paz da terra

o urdir do tempo -

-cada um pensava na fonte. Era um manar

secreto e pacífico.

Uma coisa milagrosa que acontecia


ocultamente.

Ninguém falava dela, porque

era imensa. Mas todos a sabiam

como a teta. Como o odre.

Algo sorria dentro de nós.

Minhas irmãs faziam-se mulheres suavemente. Meu pai lia.

Sorria dentro de mim uma aceitação

do trevo, uma descoberta muito casta.

Era a fonte.


Eu amava-a dolorosa e tranquilamente.

A lua formava-se com uma ponta subtil de ferocidade,

e a maçã tomava um princípiode esplendor.

Hoje o sexo desenhou-se. O pensamento

perdeu-se e renasceu.

Hoje sei permanentemente

que ela é a fonte.


Herberto Helder