31/05/2006

Muro da Vergonha

...o ano era 1982. Nas festas de aniversário, ouviamos o albúm de The Wall. Numa das músicas gritava-se um hino que ainda hoje ecoa no meu subconsciente.

"We don't need no education We dont need no thought controlNo dark sarcasm in the classroomTeachers leave them kids aloneHey! Teachers! Leave them kids alone!All in all it's just another brick in the wall.All in all you're just another brick in the wall."

Nessa altura, eu e todos aqueles da minha idade cantávamos alegremente como se mais uma música se tratasse. Obviamente sabíamos o significado da letra (sim nessa altura aprendia-se inglês!). Os tempos eram outros. O grito de rebeldia próprio dessas idades, não se materializava no nosso quotidiano escolar. Existia uma anormalidade chamada respeito e uma aberração denominada educação. No filme o jovem Pink luta para deitar abaixo o mundo cinzento, opressivo e desumano que o rodeava. Estávamos em plena era do Tatcherísmo, a inglaterra era dominda pela dama de ferro, era o tempo da guerra fria e em Portugal, tal como sucedera nos últimos séculos, atravessávamos uma grave crise económica.
Hoje, a crise económica manté-se na ordem do dia, já não existe guerra fria, mas o mundo em que vivemos é tudo menos cor-de-rosa. As imagens que ontem foram difundidas acerca da violência nas escolas portuguesas, é o retrato fiel do estado calamitoso e indecorso a que chegou a educação no nosso país.

O grito de guerra, que na minha inocência costumávamos cantar, passou a ser uma regra de ouro. Agora não são os alunos que gritam, mas sim os próprios professores que clamam por ajuda.

É triste! Aonde estão os valores morais desta sociedade? será que existe por aí alguém que consiga deitar abaixo este muro de vergonha?

PARABÉNS TOMÁS!...

29/05/2006


...há dias em que a ponte parece estar num equilíbrio frágil entre a fluidez do rio enegrecido pelas estrelas que brilham por os últimos desabafos do sol, e a solidão da noite que se aproxima. É nessas altura que olhamos para trás e ficamos com a sensação que não dissemos tudo ou não tivemos a coragem suficiente para tal. Fica o vazio, ficam as frases inacabadas ficam os olhares vazios. As palavras essas ficam no limbo , no âmago do precipício. Por vezes, o olhar e a expressão reflectem aquilo que o verbo esconde. Mas fica sempre a dúvida, e continuará até que um dia a torrente encha o rio e o sol brilhe de novo, e tudo fique transparente e claro.

24/05/2006

Brain Damage


...adoro aquela música! aliás não consigo imaginar o contexto musical das últimas décadas sem aquele album.

a primeira vez que olhei para a capa senti um arrepio só de imaginar que era algo parecido a matéria que tinha aprendido nas minhas aulas de físico-química. Passados estes anos todos ainda olho para a capa e me lembro de outros tempos! Por que será que existe sempre um passado associado a uma música. Quantos de nós não associamos um pedaço da nossa vida, um momento por mais fugaz que seja a uma música. Por vezes até uma palavra, um som ou uma pausa na música, fazem-nos mergulhar na imensidão de memórias passadas. No meu caso concreto que não consigo imaginar a vida sem um tom ou uma nota musical, cada acorde é uma pauta de imagens passadas. Mesmo quando estou isolado no silêncio da solidão, existe uma melodia no convés do navio-fantasma. Basta olhar o sol a serpentear as ondas na entrada da barra do tejo, para surgir por entre os carros que circulam na marginal um Tristão e Isolda do Richard Wagner. Quando chego estou a beber o meu fiel descafeínado estou em Marte, com os planetas de Gustav Holtz. À hora do almoço...o barulho é tanto que não consigo cantar, susussar ou sequer descançar!
Ao fim do dia, adormeço por entre a multidão com Mozart e quando chego a casa, qual maestro do coreto, abro o liro e penso numa qualquer sinfonia.

...nunca estou só e quando me sinto só, existe uma orquestra imaginária
...sem música, não sinto e não penso e não vivo!


PS: Brain damage in Dark Side of the Moon (Pink Floyd)

15/05/2006

Obviamente demito-o


Nunca uma frase foi tão sonora ao ponto de acordar um país inteiro.
Nunca a liberdade amordaçada gritou tão alto!
Nunca a vontade de um povo foi tão longe,
Nunca a coragem de um só homem será esquecida
Ele não teve medo...

09/05/2006

la notte scorsa io la sogno


...estava deitada sob um manto de flores num jardim, e eu sentado à espera que as as folhas de outono dessem lugar às petalas incandescentes da primavera. O vento soprava gélido e cintilante com o rair dos primeiros acordes do dias, e à medida que a as notas se sucediam na pauta, a imagem transfigurava-se por entre as brumas da manhã. Quando abri os olhos já o dia encerrava a noite, e o único vislumbre da penumbra eram algumas estrelas que aindam resistiam ao olhar do astro sol. Tão perto e tão longe, dois mundos separados por um breve olhar que se desvanece com a alvorada. É assim todos os dias enquanto houver dia e existir uma noite. São versos dispersos, são notas distintas...

08/05/2006

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."


...recuso-me a acreditar em rostos sem face, que vivem o dia-a-dia ocultados numa esfera hermética e não reparam que o quadro que lhes é pintado, está coberto de pinceladas de negro. Será que andamos todos cegos? Por ventura não existem razões de sobra para exteriorizar revolta. Eu também confesso a minha quota parte de impenetrabilidade perante o status quo instituído pelas nomenklatura reinante. Mas não me calo!
Entrei no comboio e vi rostos silenciados pela monotonia da paisagem, sai da estação com os clamores dos vendedores de rua...mas não vi alegria. Sentei-me no autocarro e ouvi dois reformados inconformados com a situação criada. Essa situação, que explica outros tantos atentados à nossa liberdade e à nossa auto-estima. Fiquei feliz por saber que não sou o único que pensa de maneira diferente. Ser diferente, nos dias que correm é quase sinónimo de estigmatizado. Não poder conceber, ou não possuir capacidade económica (mas um grande desejo)para poder gerar mais crianças passa a ser um estigma, por decreto e aclamação. Felizmente existem outros tantos milhares que não pensam assim, e foi vê-los de branco áureo contrastando com o cinzentismo dominante na fotografia.
Na realidade, não vi pessoas...apenas naturezas mortas, vi flores num jardim abandonado, vi sombras de uma fotografia a preto e branco. Fico feliz por ser diferente mas triste por não poder olhar de maneira diferente.

04/05/2006

Arbeit macht frei


...a sensação de passar pelo portão e repetir esse bom dia da praxis é a pior coisa do mundo. Tive um professor que escreveu um livro interessante que versava a temática da vida sem o acto de trabalhar. Por que é que trabalhamos?
Será um necessidade fisiológica inexplicável? Será uma atracção fatal picar mais uma mão cheia de horas da nossa vida?
Por vezes imagino-me numa cadeia a riscar a parede imunda com uma pedra ciselada. Mais um dia,mais um traço.
Até quando?
Quem será mais feliz, aquele que vive ou aquele que é prisioneiro de um sistema economicista absurdo. Marx dizia que o capital remunera o trabalho. Eu digo que esse Marx, para além de burguês, era alcoólico e batia na mulher, por isso não devia ser de grande casta. Keynes disse e passo a citar: "eu preferiria ter razão vagamente, que precisamente estar errado". Ele não tinha a certeza mas moldou a consciência de parte da nomenklatura governante do ocidente. Eu, na minha singela opinião acho que estamos entregues aos bichos!
Será que o mundo governado pela lógica do dinheiro, é um mundo saudável! Nas antigas sociedades onde não existiam trocas económicas, não havia riqueza? por venturas as pessoas eram infelizes? Porque é que existe uma dicotomia entre dinheiro e felicidade?Porque é que o tempo é dinheiro?

Afinal de contas será que o poeta estava errado quando disse que o sonho comanda a vida? Ou afinal de contas é o trabalho que orienta a vida?


Depois disto amanhã, juntamente com milhares de outras mentes amordaçadas vou trabalhar...mas contrariado.

03/05/2006

Ich würde gern fliegen


...recuperei as linhas soltas do último livro que encima a pilha de manuscritos na minha mesinha de cabeçeira. Aliás não é só aí que a minha vida parece um monte de folhas secas de outono. Tudo em meu redor jaz num mundo de caos ordenado. Talvez seja o refelxo do trânsito caótico que me inspira as minhas manhãs solitárias. Tudo à minha volta são números, comboios de cores, figuras de seres semi-acordados, é o sol que cobre o céu azulado, é o barulho da agitação e da rotina da vida urbana. É tudo. Não existe ordem, não existe uma equação que resolva, nem teorema que explique o frenesim matinal...
...por vezes apetecia-me voar! bem alto para onde pudesse respirar a tranquilidade que me falta e o silêncio que tanto anseio!

PS:...gostava de ir a Paris!

02/05/2006

Credere


Momentos há em que a esperança se esvai por entre os grãos de areia numa ampulheta. Será que existem motivos para sorrirmos, motivos para olhar em frente. As horas passam ao sabor de um tempo que permanece imutável. Qual a diferença entre o hoje e o amanhã, ou o ontem?
O que é que eu fiz de diferente?
Qual foi a resolução do dia?
Será que cada dia é uma repetição do anterior?
Será que o a fita partiu-se e no ecrã de um cinema escuro e sinistro, a cena repet-se incessantemente ao som da bobíne e das engrenagens do projector?
Estarei eu a sonhar ou será que sou uma personagem esquecida de um filme mudo a preto e branco?
Tal o melhor seja fechar os olhos...

01/05/2006

"No principio era o verbo..."


O que seria de nós se não existisse o verbo. Provavelmente, estariamos agora a cantar como as aves, ou a gesticular incessantemente como alguns primatas. Será que desde os primórdios da génese humana evoluimos assim tanto? Quantos de nós ainda preserva os instintos agressivos, e irracionalidade?
Se olharmos em nosso redor, e ouvirmos os ecos que nos invadem de outras paragens, vislumbramos, dor, miséria, ódio e morte. O espaço ocupado pelo amor e a bondade, parecem spots publicitários num dia-a-dia manchado pelo sangue. Talvez não fosse má ideia para durante uns breves minutos e ler a parábola do bom samaritano. O simples acto de ser não implica necessariamente espezinhar o próximo...e é bom que isso fique ciente pois o próximo somos todos nós!