17/11/2013

...o manto de Penélope está rasgado

O unanimismo é uma palavra que pela sua singularidade, só se aplica em casos excepcionais e só a vemos plasmada nas consciências e nos discursos políticos aqui nesta jangada de pedra, de tempos a tempos [remotos!]. É uma preciosidade quase equivalente ao mítico pote de ouro no final do arco-íris.
Nestas duas últimas semanas tem sido recorrente, e sê-lo-á cada vez com maior intensidade nos tempos que se avizinham, nem que a última desculpa seja agora o simples facto dos malandros dos irlandeses nos terem deixados pendurados no varão, sem o tal programa cautelar. As 112 páginas do documento “Um Estado Melhor”, apesar do estágio em carvalho francês no Palácio das Necessidades e de vários meses nas gavetas de inox do Conselho de Ministros, mereceram uma reprovação unânime, tal o teor e profundidade dos taninos que azedaram a já escassa popularidade do irrevogável PPortas. Continuou com a discussão acalorada do OE2014, epitáfio final da austeridade? Documento que tenta incutir um esperança renovada na independência da lusa pátria, o tal 1640 financeiro que, teimosamente, nos tentou vender.
No intervalo ainda tivemos uma momento político paralaxe, com a “não proposta” de diploma legal da TSU dos Cães e Gatos, documento que foi alvo de uma comissão técnica durante sete anos[pasme-se!]! Para acicatar ainda mais os ânimos, qual Lázaro, o antigo Ministro das Finanças Teixeira dos Santos [apócrifo autor do ”Memorando de Entendimento”],´eleva-se como novo contra poder do comentarista JSócrates (eterno enfant terrible!). No meio desta sopa de letras, sobram silêncios e inseguranças no Largo do Rato. Mas mais do que isso, a firma intransigência em declarar não a tudo e negar a mais singular das evidências- sem acordo entre os dois maiores partidos, a nau continuará ao sabor dos ventos alíseos do mercado!

Imbuído desse espírito de grande união, o País desfaz-se em greves, apelos à indignação, apelos á luta de classes, como se neste unidade na revolta, ainda houvesse esse revolucionário que tomba, mas já não tem as dez mãos para lhe suster a arma. A arma é o voto, essa está guarda na inexpugnável muralha de Belém.

Confesso que guardava a maior das expectativas no guião do PPortas. Mas ao lê-lo sobram-me o desalento e a estupefacção. Talvez não tenha tido o conveniente apoio do staff super produtivo do seu colega Passos. As prensas do Largo do Caldas já tiveram os seus dias de maior glória.

Aumente-se portanto o salário mínimo, símbolo máximo da miséria com que muitos teimam em sobreviver. Penso que o senhor Subir Lall está profundamente equivocado no continente. Baixar os salários e ainda mais o salário mínimo é algo que pode aplicar perfeitamente no seu país, onde a tradição secular das castas condena á morte inocentes e relega para a extrema miséria e para a semiescravatura milhões. Conselhos desses renegamos por princípios básicos de humanismo e decência.

Não há semana em que o ataque despudorado ao Tribunal Constitucional não cesse na vergonha das intervenções nem da baixeza da argumentação. Todos aqueles que ardilosamente atentam contra a Constituição terão a resposta à altura no momento maior da democracia – o voto popular. Também esse será um dia colocado em causa?


Para finalizar com um toque de classe, parece que o nosso porreiro Barroso está de malas aviadas para Portugal. Não querendo embirrar com ilustre personagem, diria ainda que a sorte de Penélope é que o Barroso interessa-se mais por móveis do que de mantos, pois não é nem arauto da felicidade, nem mensageiro de boa nova. Parafraseando o O’Neill" sigamos, pois, o cherne, antes que venha, já morto, boiar ao lume de água".